ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

jsc-2@uol.com.br


quinta-feira, 30 de junho de 2011

O anjo de Hamburgo

Acabo de receber um e-mail da minha amiga Albanisa Cysne, paribana radicada de há muito no Ceará, dando conta de uma das nossas maiores heroínas brasileiras de todos os tempos.

Refiro-me a dona Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, falecida em 2008. Casada com o grande poeta e diplomata Guimarães Rosa, enviuvou em 1967, e ainda mulher formosa preferiu permanecer viúva.

Apesar de uma mulher de conduta irreprochável, dona Aracy sempre foi uma inconformada com as injustiças da vida. Assim rebelou-se desde cedo com as recomendações da ditadura Vargas que restringiam, ao tempo da guerra, vistos para autorizar a vinda de judeus para o Brasil. Funcionária concursada do Itamarati, trabalhando em Hamburgo, Alemanha, ainda solteira, desobedeceu às ordens da diplomacia brasileira e furtivamente misturava entre as papeladas que o cônsul brasileiro tinha que assinar a autorização para que judeus se deslocassem legalmente da Alemanha para o nosso país. Aliás, faça-se justiça, seu futuro esposo que também trabalhava no mesmo consulado sabia de suas manobras, mas não a denunciava.

Por sua corajosa atitude em favor do povo judeu Aracy recebeu expressiva homenagem de Israel, e tem seu nome emplacado no famoso Jardim dos Justos, naquele país.

Mais tarde, por ocasião do regime militar que vigorou entre nós a partir de 1964, aqui já residindo, deu guarida a inúmeros brasileiros que foram perseguidos pela revolução, dentre eles o famoso compositor Geraldo Vandré.

Portanto, dona Aracy enfrentou com sua coragem Hitler, Getúlio Vargas e Costa e Silva.

Não sei se no Brasil existe ou já foi feita alguma homenagem a essa valorosa mulher. Desconheço.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Adeus, Machadão

Está chegando a hora. O “Poema de concreto” será reduzido a escombro. Vai morrer na flor da idade – apenas 39 anos, enquanto o Coliseu de Roma resiste há mais de dois mil anos.


O Machadão, ao tempo da sua construção, foi inaugurado sob o nome de Marechal Castelo Branco. O ano era 1979.

O apelido “Poema de concreto” foi batizado pelo saudoso ex-governador Cortez Pereira, tendo sido ratificado pelo grande comentarista futebolístico João Saldanha, quando de sua primeira visita ao estádio.

Realmente o projeto do meu amigo, arquiteto Moacir Gomes, pela delicadeza de suas formas, lembra um poema. Tenho certeza que comigo concordaria o poeta (e arquiteto) Joaquim Cardozo.

É justo que a memória se recorde que o então jovem arquiteto Daniel Holanda (filho do grande construtor Joaquim Victor de Holanda) também colaborou, embora ainda jovem e iniciando sua carreira. E mais, que o cálculo que garantiu aquela beleza arquitetônica foi de outro grande, dos calculistas José Pereira e Hélio Varela de Albuquerque, este, exímio violonista.

Em 1989 o Brasil começava a buscar novos caminhos políticos. Aproveitou-se a opinião para prestar uma justa homenagem ao grande esportista João Cláudio de Vasconcelos Machado, que emprestou seu nome ao estádio que de logo foi apelidado, e até hoje, de Machadão.

Inicialmente o Estádio foi projeto para 42.000 espectadores, embora seu recorde de público tenha alcançado posteriormente mais de 50.000. Posteriormente, com o advento do descaso dos responsáveis por sua conservação, a capacidade de público ficou reduzida praticamente à metade. Agora, nem isso. Restará apenas a memória de tão bela obra, em função de uma futura Copa do Mundo que aqui abrigará um ou dois jogos daquele campeonato.

Extinto o Machadão, surgirá diante da paga de milhões e milhões de reais do contribuinte uma tal de Arena das Dunas.

Sinceramente, não sei se valerá à pena. Mas que valeu a pena a obra de Moacyr e José Pereira, ah, disso não tenhamos dúvida.

Adeus, Machadão. Desculpe o que fizeram com você.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O poder e o papel da imprensa

Refiro-me à imprensa séria, descomprometida. Imprensa sem cor partidária. Imprensa que só funciona nos regimes democráticos, sem mordaça. Imprensa capaz de derrubar chefes poderosos de Estado, como Nixon, nos Estados Unidos. Imprensa como a Folha de São Paulo, capaz de derrubar um ministro poderoso como Palocci.

Não cabe à imprensa provar ou julgar os atos de quem quer que seja. A prova cabe a quem acusa; o julgamento cabe à Justiça. A imprensa apenas divulga o que chegou ao seu conhecimento. Nem todas as informações que chegam ao conhecimento dela são verdadeiras. Mas, como disse, não é outro seu papel, senão o de divulgar.

Em relação a Palocci, ninguém é capaz de duvidar da sua capacidade, da sua competência. Afinal, não é todo mundo que consegue em apenas dois anos multiplicar o próprio patrimônio por vinte!

Por outro lado, apesar da crise política que envolveu o governo Dilma, que lhe deu todo crédito; apesar do parecer do Procurador Geral do Estado, que não acatou as denúncias, por falta de fundamentação técnica, Palocci não pode e não deve jactar-se de um remoto procedimento ético de sua parte. Ele pode até ser inocentado futuramente pela Justiça. Esta nem sempre julga de acordo com a verdade absoluta. Tecnicamente é possível inocentar-se o culpado e condenar-se um inocente.

Justiça mesmo, afinal de contas, reside na consciência de cada um.

Cristo foi condenado à morte, mas todos temos consciência da sua inocência.

Barrabás foi inocentado dos seus crimes, contudo todos sabem dos crimes por ele praticado.

Assim, o maior juiz de Palocci é a consciência dele. Isto é, se ele tem alguma.

O resto é bla-blá-blá.

E mais, que não se julgue Palocci apenas por sua aparência. A julgar pelas aparências, pessoalmente acho que ele é um cara de pau. Mas a ninguém é dado julgar ninguém apenas pelas aparências.

Agora, gostei mesmo foi da nova Ministra. Muito bonita!

domingo, 5 de junho de 2011

Cuidado, os tempos são outros

Cuidado, os tempos são outros


Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)



Outro dia, em Recife, fui dar uma volta no antigo Mercado da Madalena.

De logo, avistei no fim do corredor um amigo da época de escola, que não encontrava há séculos.

- Oswaldo, sua bichona, ah quanto tempo!

Ao estender a mão para cumprimentar o amigo, meu braço foi algemado por um guarda municipal.

- O senhor está preso! – sentenciou.

Aí, Oswaldo interveio.

- Preso nada, seu guarda, o cidadão aqui é meu amigo de infância.

- Mas está preso. Bichona é pejorativo, portanto, é homofobia. O correto seria chamá-lo de grande homossexual.

- Mas que é isso, “seu” guarda? O amigo aqui é o Marcão Quatro-olhos, que era seu apelido quando estudávamos na escola primária.

- Pois o senhor também está preso (e foi logo colocando a outra ponta da algema no braço de Oswaldo).

- E o que foi que eu fiz?

- O senhor praticou bullying, pois desde que seu amigo era criança o destratava com apelido tão odioso.

Nessa mesma hora, por coincidência, vai chegando perto de nós o “Jairzinho Pé-de-pato”, com dois quilos de alcatra na mão.

Usando de prudência, chamei-o apenas pelo nome de Jairzinho, que nos reconhecendo e nos vendo naquela situação, duplamente algemados, foi logo exclamando.

- Que porra é essa negão? O que é que você e o Oswaldo aprontaram?

E aí não teve jeito, fomos os três parar na delegacia, e hoje estamos respondendo processo por HOMOFOBIA, BUILLYIING e RACISMO.

Essa historinha não passa de uma ficção. Mas tenha cuidado. Hoje em dia é um perigo encontrar amigos de infância!