ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

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domingo, 22 de agosto de 2010

Hianto de Almeida revisitado

Considero-me cada vez mais um privilegiado pelo fato de ser cidadão norte-riograndense e por residir em Natal há mais de vinte anos. E prova maior desse privilégio foi ter merecido a honra de ser convidado por Leide Câmara para participar na qualidade de ouvinte/convidado ao ensaio que os irmãos de Hianto – Gilson (piano) e Newton Ramalho (cantor e músico), acompanhados pelo violonista Silvio Pedrosa (filho do grande Veríssimo de Melo, parceiro de Hianto) promoveram quinta-feira passada, na apartamento de Gilson.

O clima musical começa a ser respirado logo na entrada do edifício, cujo nome é Tom Jobim, aliás, um dos parceiros do saudoso Hianto.

Antes mesmo do início do ensaio fomos apresentados em primeira mão ao primoroso livro que Leide lançará sobre a obra do artista (publicação do SESC/RN) no próximo dia 2 de setembro. O Rio Grande do Norte precisa saber: Hianto, embora tenha morrido na flor dos seus quarenta anos de idade, aos trinta e dois já havia produzido mais de duzentas composições, tendo sido cantado pelas principais estrelas da sua época, como Maysa, Cauby Peixoto, Lúcio Alves, Dalva de Oliveira, Pery Ribeiro, Leny Andrade, Elza Soares, Miltinho, Orlando Silva, Elizete Cardoso, Ciro Monteiro, Tito Madi, Carlos José, João Gilberto, César Camargo Mariano, Renato Tito, Os Cariocas, Trio Irakitan, Trio Marayal, dentre outros.

Ouvimos na ocasião várias músicas da década de 50/60, as quais denunciam sem medo de errar a nítida influência da obra de Hianto em relação ao próximo nascimento da chamada Bossa Nova. Também, pudera. Na época o arranjador de inúmeras músicas dele era nada menos que o próprio Tom Jobim, que ainda não era conhecido nacionalmene.

Quanto aos parceiros que colaboraram na obra musical de Hianto lá estão Fernando Lobo, Chico Anísio, o nosso K-Ximbinho (quem não se lembra do chorinho: Eu quero é sossego?) , Veríssimo de Melo, Haroldo de Almeida, Carlos Gonzaga, Macedo Netto (marido de Dolores Duran), Raul Sampaio, Julie Joy, Nazareno de Brito e outros que não me ocorrem no momento.

Nosso Estado, graças a Leide Câmara, está de parabéns, ao resgatar a memória de um dos ícones da moderna música brasileira, um de seus fundadores e para honra nossa, filho da terra.

Além de ouvirmos inúmeras composições de Hianto, por volta das vinte e duas horas foram ensaiadas cinco músicas visando o pré-lançamento do livro " A bossa nova de Hianto de Almeida" de Leide. Por volta das duas horas da sexta-feira retornamos aos nossos lares. Eu, honrado pelo convite e feliz em aprofundar ainda mais meu conhecimento sobre a vida e a obra daquele verdadeiro monstro sagrado da música popular brasileira.

Obrigado Leide.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Com minhas escusas

Peço desculpas pelo trecho que vou transcrever logo abaixo. De fato, pela primeira vez neste Jornal e na minha vida publico um trecho, por pequeno que seja, de natureza pornográfica. Publicar é preciso, para que eu possa comentar e lamentar juntamente com as pessoas sérias que normalmente me lêem.


“Arriou as calças dela, levantou a blusa e comeu ela duas vezes” (...) “Zonha, o criminoso) deu um tiro no olho dele (...) Ele ficou lá meio pendurado, com um furo na cabeça”.

Pronto, três linhas apenas de amostra grátis do conto “Os Primeiros que Chegaram”, que narra, do ponto de vista da criminosa, um sequestro cometido por um casal, em que as vítimas são torturadas.

O conto acima faz parte do livro “Teresa, que Esperava as Uvas”, que integra o Programa do Governo Federal que equipa as bibliotecas das escolas públicas.

Segundo o autor da notícia, jornalista Fábio Takahashi, da Folha de São Paulo, o governo do Presidente Lula, a autora da obra e a editora defendem a escolha do livro, por possibilitar que o jovem reflita sobre a violência cotidiana. A escolha das obras é feita por comissões de professores de universidades públicas. “O livro passou por uma avaliação baseada em critérios, concorreu com muitas outras obras e foi selecionado”, afirmou a escritora do conto.

Embora não me considere nenhum puritano, confesso-me escandalizado com os rumos do Ministério da Educação (?).

Educar os jovens em relação à violência é uma coisa; explicitar em livro cenas desairosas como as que citei a pretexto de educar a juventude é outra. Afinal, que tipo de professores constitui essa comissão tão perniciosa? E mais, do ponto de vista da linguagem, que mau exemplo de estilo literário! Que pobreza!

Precisamos seguir o exemplo de instituições que vem enveredando esforços que investe na formação de leitores por meio do Projeto “Escola de Leitores” fomentando o gosto pela variedade de textos literários junto aos educadores, crianças, jovens e adultos, criando espaços e ambiências formativas, qualificando acervos, enfim contribuindo para o processo formativo dos estudantes e com a qualidade socialmente referenciada da educação.

Na minha juventude tive boas informações envolvendo insinuações sexuais, violência, mas os autores abordavam os assuntos com competência e, sobretudo arte literária. Jamais li um trecho de linguagem chula num Érico Veríssimo, por exemplo.

Claro que é muito mais fácil escrever apelando para expressões vulgares, sem o mínimo de preocupação com a linguagem escorreita. E com o jeitinho da Lei de Gerson ganham-se colocações para publicar tais baboseiras com o apoio do MEC . Será por que não tenhamos melhores escritores entre nós? Duvido muito, o problema é que bons escritores incomodam certos setores e são escorraçados e por vezes até perseguidos. Podem crer.

Andei me perguntando: sinceramente, dona Marisa, a esposa do nosso Presidente teria coragem de recomendar a leitura desse livro a uma sua neta de quinze anos de idade? Duvido muito.

Que pena!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Que mulher!

No meu tempo de criança assisti inebriado um primo meu declamar um poema, de um autor desconhecido. Era longo, de desfecho inesperado e que resumirei a seguir.

Tratava, o vate, da história de um palhaço que, cansado da vida, sob efeito de lancinante depressão, fora procurar o melhor médico da cidade.

Devidamente examinado pelo famoso psiquiatra, dele ouviu o palhaço este conselho: “Amigo, você precisa dar boas risadas, se divertir um pouco, e somente assim irá se livrar dessa depressão. Sua saúdo no geral, enfim, não está a merecer maiores cuidados. O seu problema é tédio, tristeza, depressão.

- Mas doutor, acho que para o meu mal não tem cura, o senhor acha mesmo que dando risadas irei me curar?

- Ora, meu amigo, essa tristeza findará por lhe levar para o outro lado da vida antes do tempo. Olhe, está na cidade um circo muito bom, e melhor do que o circo é o palhaço. Fui ontem assistir a função e quase morro de rir. Vale a pena você ir ao circo hoje e preste bem atenção nas engraçadas chistes que ele vai armar. Garanto que você sairá de lá bastante aliviado. Bem melhor do que lhe passar qualquer medicamento.

- Mas doutor, que ironia....

- Ironia por que meu velho?

- Porque, doutor, esse palhaço sou eu!

Lembrei-me da história desse poema ao assistir na semana que passou uma pequena entrevista de Cissa Guimarães, aquela artista que acaba de perder o filho de forma tão cruel.

Passado o período do nojo, quando se esperava encontrar a mãe arrasada pela emoção, eis que ela levanta a cabeça e, enfrentando e aceitando a vida como ela é, retorna ao teatro, onde a profissão lhe dera por papel uma comédia para despertar o bom humor das pessoas. Logo uma comédia, para quem acaba de perder o jovem filho em circunstâncias tão brutais.

Que exemplo de fé, de profissionalismo, de responsabilidade, num país que anda tão fauto de bons exemplos como o nosso.

Que mulher!

Ofereço esse modesto artigo ao poeta e internauta Diógenes, que sem querer ensinou-me a redescobrir o poema acima.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Tonheca Dantas - nosso Strauss

Era assim que Djalma Maranhão o tratava – “O Strauss Papa-Jerimum.

As novas gerações, tão envolvidas com as chamadas músicas da moda naturalmente não sabem do que estou falando. A moda agora é o axé, forrós pornográficos e outras músicas de gosto no mínimo duvidoso. Poucos já tiveram oportunidade de ouvir Royal Cinema, ou A Desfolhar Saudades, dentre outras verdadeiras obras primas do ilustre filho de Carnaúba dos Dantas.

Como os jovens da atualidade gozam do privilégio de irrestrito acesso à internet, convido-os a pesquisar no Google acerca desse gênio nascido no nosso Estado.

Antonio Pedro Dantas, seu nome de batismo, nasceu em 1871 e faleceu em 1940. Músico, compositor e maestro, produziu uma obra musical das mais extensas, pois foram mais de mil, entre valsas, dobrados, maxixes, hinos, xotes, polcas, marchas e outros gêneros musicais.

Sua mais famosa valsa – Royal Cinema, foi considerada na época da Segunda Guerra uma das dez valsas mais belas do mundo, sendo constantemente tocadas pela BBC de Londres, mas anunciada como sendo de autor desconhecido.

Homem de sete instrumentos, submeteu-se ao teste de seleção para escolha de maestro da banda de música da nossa Polícia Militar. Na ocasião o comandante entregou-lhe uma partitura e perguntou ao candidato que instrumento escolheria para executar a referida música. Ao que respondeu: qualquer um.

Espantados com a atrevida resposta do franzino matuto, a comissão determinou então que ele fosse executando a peça nos diversos instrumentos da banda. Aceito o desafio, assim que teve a partitura diante de si Tonheca não conteve a emoção e começou a chorar.

- Ora amigo, você não disse que tocaria em qualquer instrumento? Ficou com medo?

- Não senhor, me emocionei porque nem vou precisar ler a partitura, pois essa valsa é minha.

Era, de fato, a partitura da Royal Cinema.

Justiça se faça, o poeta Diógenes da Cunha Lima, quando Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, produziu significativa discoteca divulgando autores norte-riograndenses, com destaque para várias músicas de Tonheca nos meios fonográficos da época.

Está na hora, agora, das nossas autoridades culturais produzirem CDs que reproduzam algumas músicas do grande maestro, para honra, glória e memória do nosso Estado, aproveitando não só a discografia produzida pelo então Reitor, além de reproduzir os artistas do Estado da atualidade..

Agradeço ao poeta, músico e meu amigo Welington Leiros muitas das informações contidas no presente artigo.