ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

jsc-2@uol.com.br


sábado, 31 de março de 2012

O novo herói do Brasil


Temos um novo herói no Brasil do BBB de Bial. É um tal de Fael não sei do que. Emocionado, em sua primeira heróica entrevista declarou que não sabia ainda o que faria com o dinheiro do prêmio abiscoitado (um milhão e meio de reais), mas que iria encher sua adega com os melhores vinhos. Programação mesmo de herói.

Aliás, muitos, inclusive o grande Érico Veríssimo Filho criticam Bial e a Globo por tão infeliz criação. Mal sabem os críticos que por detrás dessa idiotice está uma verdadeira máquina de fazer dinheiro. Quer seja por meio de propagandas, quer através dos milhões de telefonemas que alimentam os cofres da emissora.

Discordo – data vênia – dos que criticam a emissora e o notável Bial. Deveríamos centrar nossa crítica na cretinização dos espectadores que alimentam o sucesso de tão nefasto programa. Sem eles o programa o os patrocinadores perderiam a razão de ser.

Parabéns Fael, você é o novo herói de uma nova "cultura"!

 

quinta-feira, 29 de março de 2012

Março de grandes perdas

O mês de agosto antecipou-se para março. Perdemos nosso “Chaplim” de Maranguape; em seguida perdemos a rainha do chorinho Ademilde Fonseca, potiguar sim senhor; em seguida perdemos nosso filósofo maior: Millor Fernandes.


Com o encantamento dos três o Brasil ficou menos alegre e menos culto. Perdemos também o poder da crítica bem humorada, mas de qualquer sorte direta, objetiva, inteligente e por vezes ácida. Não sei quem irá substituir Chico e/ou Millor. Que em outro plano possam dar continuidade às saudáveis contribuições construidas nessa Terra.



Quando não se pode, ou enquanto não se pode combater as mazelas que enxameiam nossa combalida República com armas mais eficazes, nenhuma outra substitui o humor, quando exercido por pessoas sensíveis e inteligentes como eram eles.

Para completar a tristeza de março, eis que o antigo acusador e atual senador Demóstenes Torres é flagrado em ligações extremamente perigosas, o que desserve a uma oposição política já tão insossa como a nossa.

Realmente, não foi um bom mês para o Brasil.

terça-feira, 27 de março de 2012

Pelé e Romário

Sempre admirei Pelé, não como cidadão, mas como atleta exemplar. Como cidadão ele ficou a dever para sempre pelo seu comportamento em relação à filha que insistiu em não reconhecer. A única que era a cara dele.


Nunca apreciei Romário como atleta. Achava-o oportunista, em termos de goleador. Jamais alcançou, a meu ver, a genialidade de Pelé. No mais, tinha dele também péssima impressão. Talvez até um pouco de preconceito, sei lá!

Mas Romário, ao se aposentar do futebol agigantou-se, para mim, como cidadão. Ao contrário de Pelé, quando ele fala, não é um poeta. Revela ser um homem inteligente, sensível e está me parecendo ser um grande representante do povo na Câmara Federal. Hoje em dia, fora eu eleitor e do Rio de Janeiro, ele poderia contar com meu voto, sim.

Suas declarações são objetivas, inteligentes e às vezes grosseiras, como os chutes de bico que ele dava em campo. Para ilustrar a afirmativa, ele fala por exemplo: “Pelé falando é um Poeta”, “Eles não querem saber de nada” (referindo-se à maioria dos colegas da Câmara).

Em entrevista à Veja, da quinzena passada, e referindo-se à recente troca da direção da CBF foi curto e grosso: “Para mim, não muda nada na CBF. Foi a troca de um ruim por outro pior”.

Ainda em relação à Câmara, teve a coragem de se expor nos seguintes termos: “Todo mundo acha que no alto claro do Congresso está a nata da nata. Pois o que mais tem no andar de cima é gente no ócio, quando não está metida em pilantragem”. Não se refere ao “Ócio criativo” de Domenico De Masi.

Pois é, Romário deve ter herdado essa objetividade nos campos de futebol. Objetividade que não condiz com a politicagem e as malemolências da maioria de nossos representantes. Desse jeito ele se torna antipático e mal visto entre seus pares. E ainda bem que ele é assim.

Mas o que mais me orgulha em ter Romário como um representante do povo e como cidadão da República é o seu amadurecimento como adulto e como pai de família. Chega a ser emocionante a declaração dele à esposa: “Nossa menininha nasceu diferente”. Ela respondeu: ‘Calma, vai ficar tudo bem’. Nunca escondi a Ivy de ninguém. Ao contrário. É o meu orgulho”.

Ao contrário de Pelé, o poeta, Romário sim, faz poesia e da boa.

terça-feira, 20 de março de 2012

Dr Onofre, o infortúnio

Como bem lembrou o doutor Ney Lopes em judicioso artigo no Jornal de Hoje, o doutor Onofre Lopes levou a vida a salvar vidas. Mas agora, por ironia do destino, foi obrigado a tirar uma vida. É bem verdade que em defesa própria e de sua esposa, mas de qualquer modo, para um homem ético e cumpridor de seus deveres, o fato a que foi obrigado a se envolver naturalmente lhe tirou o sono, pois o ato praticado por ele contraria a natureza e o caráter de que é forjado. Herança genética (filho do grande Onofre Lopes) e de uma prática profissional vivida ao longo de décadas.

Sei que deve haver por aí alguns espíritos de porco a querer apurar a quantidade de tiros desferidos pela arma do doutor Onofre em defesa própria e de outrem (no caso, a esposa). Aliás, não sei como a Justiça vai encarar juridicamente a tragédia. Se interpretá-la como em legítima defesa, tudo bem! No entanto se interpretar como excesso de defesa, o facultativo de outrora, hoje ancião e aposentado, terá que enfrentar o júri popular e suas consequências psicológicas.

De uma coisa eu sei: se é verdade que é de se lamentar a morte de qualquer ser humano, notadamente em circunstâncias trágicas, como foi o caso do facínora, também é verdade que o doutor Onofre Júnior já foi punido pela própria consciência, pois um homem de bem como ele sempre o foi, a vida inteira, levará consigo até a consumação dos dias questionamentos (deve estar sem entender, até hoje), porque Deus lhe deu tão ingrato destino.

Creio que resta a nós humanos e que conhecemos a vida e a obra do doutor Onofre prestar-lhe a nossa solidariedade e um conforto merecido.

Quanto ao bandido que afinal foi o causador objetivo da tragédia, que Deus se apiede dele também e de seus familiares.

Chantagem política?

O ex-presidente Fernando Collor reconheceu, há anos, que um dos principais motivos do seu impeachment foi o seu distanciamento do Poder Legislativo. Ou seja, tivesse ele sido menos arrogante, vaidoso e distante, as traquinagens do seu assessor PC Farias, de fato, não teriam passado de um pequeno pecado venial, de menor importância, se quisermos comparar com os rombos atuais a partir do chamado mensalão.

A propósito, quem culminou com a derrota de Collor não foi nem a atuação do famoso PC, e sim, a compra daquele carrinho (Elba) de modo irregular. Ali foi a gota d’água. Imagine!

De fato, se compararmos os desmandos contra o Erário de Collor e PC Farias com os ladrões atuais, os primeiros são uns santos.

Mas minha preocupação é em relação à presidenta Dilma. Ou seja, sua falta de entendimento (a mesma que Collor teve) em relação às casas legislativas do nosso País. Considerando que há rachaduras (leia-se insatisfeitos, até no próprio partido governista), é preciso que ela tome muito cuidado em relação às próximas medidas envolvendo o Poder vizinho, principalmente tendo em vista o seu principal aliado que é o PMDB.

Um bom exemplo para reflexão é a saída abrupta do Partido Republicano das hostes governistas (sete Senadores, ou seja, praticamente dez por cento do Senado), que debandou-se para a oposição, não por motivos ideológicos ou filosóficos, ou mesmo políticos. Motivo declarado: a presidenta Dilma “demorou” em nomear o novo Ministro dos Transportes e que tinha que ser, necessariamente (?) daquele partido. A meu ver, justificativa pífia e que cheira a traição.

É preciso que a Presidenta estude a história recente do País, mesmo porque, nos anos pósteros da cassação de Collor o que vimos foi uma verdadeira enxurrada de cassações por corrupção de muitos que se perfilaram nas tribunas das duas casas legislativas para justificar, com a moral de uma vestal, o voto com que pretendiam dar lição de moral. Eles, também, que não tinham moral para cassar ninguém.

O Brasil não merece passar por nova crise política daquela dimensão.

Aliás, outro assunto que deve ser examinado com muito cuidado é esse da tentativa de enquadrar criminalmente o famoso major Curió. Talvez seja melhor concentrar as forças atuais para tentar acabar com a corrupção das licitações, notadamente em relação à área da saúde. Assuntos para outras leras.

terça-feira, 13 de março de 2012

O problema dos crucifixos

A revista VEJA noticiou que o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJR-5) determinou a retirada de todos os crucifixos e símbolos religiosos dos prédios da Justiça do Estado. Sessenta por cento das pessoas pesquisadas a respeito foram contra a medida.


Hoje juiz aposentado me fiz a pergunta: E se eu tivesse sido obrigado a tirar Cristo de minha sala de audiência, obedeceria a tal desmando?

Acho que eu teria duas alternativas: ou me insubordinar em relação a tal absurda determinação, expondo em risco minha carreira; ou, em outra hipótese, seguir o próprio ensinamento de Cristo, quando disse: “A César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

Assim, temos saída para as duas atitudes: obedecer ou se insubordinar.

Gostaria de conhecer pessoalmente o presidente do TJR-5. Gostaria de saber se ele acredita em Deus (o Deus dos outros, principalmente) e a qual partido político ao qual ama e serve em segredo.

Acho que eu iria dar gostosas gargalhadas.

E Cristo também.

domingo, 11 de março de 2012

Os Lampiões do novo milênio

Nesses tempos modernos de internet é impossível não receber diariamente pelo menos uns trinta e-mails, das mais variadas instituições, pessoas físicas ou jurídicas. Propagandas, muitas delas de gosto duvidoso, algumas verdadeiras armadilhas dos chamados “hackers”... tem de tudo: programas de auto-ajuda, conselhos, correntes, orações, denúncias, pedidos. Enfim, tem até coisa boa no meio da tal enxurrada de arquivos. Tudo isso sem falar nos blogs, que trazem no seu bojo, do besteirol a matérias que realmente valem à pena.


Pois não é que no meio de tanta baboseira que recebi um dia desses um cordel enviado pelo meu amigo Antonio Martins, de autoria de um cancioneiro chamado Carlos Araújo, que em versos cadenciados e bem postos faz comparações entre o bando de Lampião e os Lampiões brasileiros do novo milênio.

Como não dá para transcrever aqui essa poesia popular de primeira qualidade, disponho aos leitores que por acaso se interessem em remeter por e-mail essa verdadeira jóia de poesia nordestina.

Gostaria muito de conhecer esse competente cordelista, verdadeiro cientista político popular, que com maestria, sem pretender transformar o bando de Lampião em heróis de Big-Brother, entretanto demonstra, por a mais b, que eles, Lampiões do passado, matavam muito menos gente e dava muito menos prejuízo aos cofres públicos que os Lampiões de hoje.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Traição ou Evolução?

O projeto de voto em aberto, tramitando no Poder Legislativo trará a grande vantagem de o eleitor mais atento tomar conhecimento da postura política dos seus representantes. Com o voto secreto, como é atualmente, somente os mais perspicazes e atentos alcançam esse privilégio.

Em compensação, o voto secreto também não deixa de ter suas vantagens. Isso foi demonstrado ontem, 7 de março, quando o Senado, cuja maioria é pró-governista, aproveitando-se do voto secreto, rejeitou a renovação do mandato do atual presidente da Agência Reguladora dos Transportes Terrestres, o já famoso Bernardo Figueiredo,

A Presidenta Dilma, naturalmente não gostou (ou gostou?). Afinal, o bafejado senhor era indicação ainda oriunda do governo Lula e o rosário de denúncias de incompetência administrativa que beiram a prevaricação dele já chamava atenção até da base aliada, conforme foi francamente denunciado na tribuna do Senado pelo senador Requião, do Paraná.

Querendo ou não, a atitude do Senado foi histórica e sugere uma mudança de rumo daqui para a frente em relação a certas matérias. A essa altura tenho dúvidas se o projeto do famigerado trem-bala (dizem que é o trem-bola), acaso fosse votado agora, obtivesse o mesmo sucesso do ano passado.

De uma coisa tenho certeza: só tem um jeito de consolidarmos nossa Democracia: conscientizar o povo para que ele aprimore a escolha dos seus representantes. Infelizmente não vislumbro em qualquer dos nossos partidos políticos um programa autêntico. Pensava que o PT trazia consigo esse projeto. Mas, nem ele.

Aproveito a deixa para parabenizar as mulheres pelo seu dia.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Pescadores de águas turvas

Mais uma vez trocando seis por meia dúzia a presidenta Dilma acaba de nomear para a chefia do Ministério da Pesca e Aquicultura o até então pescador de almas e senador Marcelo Crivela.

Fica clara mais uma vez a desnecessidade prática da referida instituição. Aliás, eu bem que já desconfiava disso. Afinal de contas, estava na cara que Ideli Salvatti, nem o defenestrado agora Luiz Sérgio entendiam bulhufas da missão (pesca e aquicultura). Em outras palavras, fica provado que até um boneco de cera é capaz de dirigir o órgão, e que do mesmo modo a ausência de boneco não dá nem para ser notada.

A presidenta Dilma se emocionou ao dar posse ao novo Ministro. Aparentemente por estar se despedindo de um grande servidor. Logo ele, que já não servira no primeiro ministério que ocupara.

Na qualidade de observador político bissexto atrevo-me a interpretar a nova dança das cadeiras como sendo um ato que tenta reparar a verborréia expelida pelo Ministro Gilberto Carvalho em relação aos evangélicos. Dizem que foi um porre de vinho que haveria tomado no Rio Grande do Sul que o levou a dizer aquelas bobagens.

Para o PT o estrago provocado pelo ministro Gilberto foi imenso, pois significou a perda de um Ministério para outro partido político.

Até agora tento interpretar, na minha humilde condição de aprendiz de psicólogo, o choro da nossa Presidenta. Ou seja, o que se passou, no momento da posse, no inconsciente dela? Que confusão mental ocorreu naquele momento em que ela nomeia um ministro e ao mesmo tempo alega ao demitido que não houve qualquer motivo maior que ensejasse sua demissão? Será dor de consciência? Ou será que nossa Presidenta naquela hora lembrou-se de que todos os meses, pelo menos naquele Ministério, o dinheiro do contribuinte vai diretamente para o ralo, já que por ali só têm passado autênticos pescadores de águas turvas?

Pescadores de águas turvas

quinta-feira, 1 de março de 2012

Comandante Ferraz - a tragédia anunciada

O relatório internacional denunciando as deficiências das instalações da nossa base militar e científica da Antártica, data de 2005.

Em compensação, agora em 2012 o orçamento destinado àquela instituição é o menor dos últimos sete anos.

Finalmente, as gambiarras terminaram gerando o incêndio que vitimou dois militares que ali serviam e que estavam prestes a ir para a reserva remunerada.

Até entendo o pronunciamento oficial da Marinha, relatando o zelo administrativo dispensado à Base. Mas a leitura desse zelo deve ser interpretada sob muita reserva, ou seja, a Marinha zelava no que podia as gambiarras e de acordo com as parcas verbas destinadas àquele órgão. E ponto.

O atual Ministro da Ciência e Tecnologia (não gostei dele, pois dá a impressão que fala sorrindo diante de tão humilhante desmando) afirma que não faltarão recursos para recuperar a Comandante Ferraz.

Em vez do tradicional "me engana que eu gosto", prefiro dizer que acredito nas palavras dele, até porque pagamos o maior vexame diante das outras bases internacionais que ali atuam.

Porém... quem irá responder pela tragédia que vitimou o sargento e o sub-oficial? É verdade que as famílias deles serão "agraciadas", com a promoção póstuma para o cargo de segundo tenente. Comparando com as indenizações de alguns dos nossos "guerrilheiros de escritório", que foram agraciados com imensas indenizações e promoções por seus duvidosos atos de bravura, é de se perguntar: é justo?

Que país de tão tristes contrastes Deus nos deu! No mesmo mês que nos deslumbramos com a organização, o luxo e a competência das nossas escolas de samba defrontamo-nos com a penúria da Estação de Pesquisas Comandante Ferraz.

Tenho admirado aqui e acolá nossa Presidenta, mas lamentei não ouvir da parte dela qualquer pronunciamento a respeito do triste acontecimento.