ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

jsc-2@uol.com.br


quarta-feira, 28 de julho de 2010

Que sirva de lição

Terça-feira da semana passada um sexagenário registrou um boletim de ocorrência numa Delegacia de Polícia de Santa Catarina, alegando omissão de socorro.

A alegação era de que estava tentando tratar de uma hipertensão e, em ao menos cinco ocasiões, voltou para casa sem atendimento.

Duas horas após o registro da ocorrência o denunciante procurou mais uma vez o Posto de Saúde as Secretaria Municipal da Saúde de Correia Pinto (258 km de Florianópolis) e findou se desesperando, dada a demora mais uma vez do atendimento, tendo na ocasião sacado um resolver e descarregado a arma, matando uma das funcionárias do referido Posto.

Logicamente que um erro não justifica outro. Ainda mais que a servidora morta, nem ninguém, merece morrer desse jeito. O velho deve, sim, pagar por ato tão impensado, perpetrado num momento de desespero.

Imagino, por ocasião da peroração do advogado do macróbio aos jurados, como ele irá pintar e bordar.

A morta já está morta e enterrada. Coitada, já caiu no esuqecimento. Prevalecerá naturalmente a pena que os jurados serão induzidos a sentir pelo velho. Essa pena naturalmente servirá para amenizar a pena propriamente dita.

Mas se eu fosse o advogado iria mais além. Será que somente o velho tem culpa no cartório?

O que esperar de um cidadão com 65 anos, sofrendo de pressão alta, ser enjeitado pela quinta vez num centro de saúde, sem ter direito de ser medicado?

O velho perdeu a paciência, é verdade. Sua revolta, além de incontida, foi exagerada, ainda que por acaso tenha sido talvez, quem sabe, humilhado pela extinta servidora. Tudo são meras lucubrações e que farão parte da defesa. Mas uma coisa é certa. Culpa também do Estado. O Estado, sim, deveria responder solidariamente pelo crime perpetrado, com certeza. Um sistema que adia pela quinta vez o atendimento a um paciente, seja de que idade ele for, é responsável em igualdade de condições pelo crime que venha a ser perpetrado pelo enjeitado.

O crime, portanto, não é apenas de natureza penal e sim de natureza civil. Dano moral e material, de responsabilidade direta do Estado, já que este não pode responder criminalmente, como será o caso do acusado.

Assunto pra muita lera.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O fubebol ainda é um esporte?

O futebol ainda é um esporte?


Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)

Antigamente era. Hoje é apenas uma máquina de fazer dinheiro. Daí o uso de drogas porque são tentados a revelar alguns talentos pouco autênticos. Por isso, aliás, sempre admirei o atleta Pelé (não confundir com Edson), pois seu talento era inato e seu exemplo de condicionamento físico não será provavelmente superado. Se alguém no mundo ainda tem a pretensão de querer comparar Pelé com Má-radona, é o mesmo que comparar o pires com o sol, só por causa da forma arredondada de ambos.

Essa última copa do mundo fez ressaltar sem meias tintas que o futebol não é mais aquele das gerações que o criaram. Não há mais amor pela camisa e os jogadores, pelo menos em nosso País, transformaram-se de repente em meninos ricos e que muitas vezes não sabem o que fazer com tanto dinheiro no bolso. Não creio que seja preciso citar exemplos.

Mas o auge da minha repugnância foi atingido quando tomei conhecimento de que a FIFA estaria pressionando o grande Nelson Mandela para que comparecesse ao estádio que apresentaria a partida final, apesar da recusa dele que, não só pela provecta idade, mas pelo abalo emocional que acabara de sofrer com o prematuro e trágico desaparecimento de sua amada bisneta. Mas a FIFA continuou insistindo e imagino até porquê. Afinal, o futebol transformou-se numa máquina de fazer dinheiro, e o velho líder ajudaria a arrecadar mais ainda, graças a sua já histórica e simpática imagem.

Mas para não dizer que não falei de flores, estava tentando produzir essa crônica quando a TV Senado anuncia o discurso de posse do suplente de Senador João Faustino, que ocupará por algum tempo a titularidade, dado o afastamento do senador Garibaldi Alves.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi a ironia da posse: um emedebista sendo sucedido por um suplente tucano em plena disputa eleitoral.

Nesse ponto, nosso Estado tem muita sorte. Temos um quadro de senadores que honrariam qualquer Estado da Federação. E o senador João Faustino bem soube destacar a situação, com muita altivez e personalidade, citando não apenas as grandes lideranças políticas que têm conduzido nosso Estado, não só no presente, como no passado, independentemente da filiação partidária.

Brilhante o currículo não só político, mas profissional do senador recém-empossado.

De parabéns, mais uma vez, o Estado do Rio Grande do Norte.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O ter e o ser

Se você é capaz de jogar bem futebol, pelo menos aqui no Brasil, não precisa de mais nada na vida. Casas de campo, apartamentos de luxo, carros importados, enfim, o mundo ajoelha-se a seus pés e você se torna um ídolo das massas em geral. Um semi-deus.

Se você tem o perfil acima, isto é, um craque futebolístico, pode abandonar os livros, educação, bons costumes. Apega-se então apenas aos bens materiais. Atingindo a fama, jamais você irá precisar de ser, pois que o ter lhe basta.

O comentário acima não atinge a todos os jogadores. Claro que existem as exceções. Contudo, essa é a lição que temos legado aos nossos jovens.

E tem mais: as meninas boas de famílias más entregam-se de corpo e alma em busca desse ter majestático e exuberante. Não é preciso ser, basta o ter.

Esse o quadro que nossa sociedade estarrecida chora e lamenta agora, em relação à inditosa amante de famoso atleta de clube futebolístico tradicional do nosso país.

Ao longo dos fatos é que foram sendo descobertas a hipocrisia e a demagogia, assim como a busca por outros culpados além dos diretamente envolvidos no horrendo seqüestro seguido de brutal assassinado.

Pois eu digo que os culpados somos todos nós, sem exceção. Dos simples eleitores, que não sabem escolher os seus representantes, os que sonegam imposto, os que achacam os guardas de trânsito, aos que estacionam carros em locais destinados a deficientes sem o serem; enfim todos nós que, consciente ou inconscientemente continuamos a aplicar a famigerada lei de Gerson (“Gosto de levar vantagem em tudo”).

Assim, enquanto perdurarem os maus exemplos, por mais simplórios aparentemente que sejam, estaremos alimentando os monstros e hipocritamente estaremos nos escandalizando em relação aos atos por eles praticados.

Uma sociedade que permite o surgimento do dia para a noite de novos ricos, sem que cobre deles o aperfeiçoamento moral não pode esperar que surjam pessoas de bem. Mais dinheiro ganhou quem promoveu seus produtos graças ao nome do goleiro famoso. Portanto, cada um assuma sua culpa antes que as coisas piorem ainda mais.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Quem diabo é Índio da Cossta?

Juro que entendo muito pouco de Política. Só sei de uma coisa: eleição se ganha com votos – comprados ou não – pouco importa.


Os eleitores natalenses mais idosos me contaram que certa feita um amigo meu, Feliciano de Tal candidatou-se a deputado estadual. E numa determinada cidade o marqueteiro dele teve a brilhante idéia de pintar em vários locais, com letras garrafais a frase: FELICIANO VEM AÍ, alusão a próxima visita-comício que o candidato faria naquela localidade.

Pois bem, um gaiato deu-se ao trabalho de sair rabiscando abaixo da propaganda, em letras vermelhas a maldosa frase: QUEM DANADO É FELICIANO?

Pronto! O nome do candidato simplesmente virou piada, e não preciso dizer que o comício redundou num fracasso, dado o desgaste que a espirituosa frase provocou.

Lembrei-me dessa história porque confesso que fiquei estupefato com a escolha do candidato de Serra em relação ao seu Vice. Um tal de Índio da Costa.

Não tenho nada contra o tal Índio, e soube até, por notícia de jornal que ele é autor do projeto ficha-limpa, fato, segundo os entendidos, bastante para credenciá-lo a tão alto posto republicano. Aliás, coerentemente o próprio Índio declarou-se surpreso com a escolha. Imagine eu.

Sei não, mas quando me lembro do tal Índio, na mesma hora recordo-me do sucesso de Feliciano.

Apesar dos pesares, gostei da resposta que ele deu ao bloguista Reinaldo Azevedo. Perguntado se juventude (ele, 39) ajuda ou atrapalha, sorrindo, ele afirmou: “Se for um defeito, tem cura”.

E para não dizer que não falei de flores, o velho Paulo Maluf afirma: “A minha ficha é a mais limpa do Brasil”.

Viva o Brasil, pois!