ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

jsc-2@uol.com.br


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Lupi, causa da não demissão

A presidenta Dilma já demitiu cinco ministros que tinham sido indicados por Lula e envolvidos em corrupção. Verdadeira saia justa, e que demonstrou muita habilidade política da afilhada. As razões das demissões, nem o próprio Lula pôde contestar.

Agora chegou a vez do falastrão Lupi, do Trabalho. Há razões de sobra para também demiti-lo, até porque o dito cujo fala demais. Contudo, dessa vez Dilma se fez de desentendida. Para muitos, uma incoerência. Para mim, sabedoria de estadista.

Ora, se já existe uma futura reforma ministerial, prevista para os primeiros dias do próximo ano; se já estamos praticamente adentrando dezembro, último ano de 2012, por que não aturar o “cowboy” do Ministério do Trabalho mais um pouco? Aliás, acho que ele confundiu BALA com BOLA.

Para mim a diferença entre Lula e Dilma é que esta é uma verdadeira estadista, na acepção da palavra. Lula não, apesar de ser inteligente a ponto de parecer um estadista. Contudo isso não denigre sua imagem, já que dentre outras coisas boas que fez, teve a capacidade de manter as principais políticas do antecessor e de fazer Dilma sua sucessora. Além do mais, na condição de político Lula teve a coragem e a competência de colocar o país no cenário mundial. Porém no fundo Lula não passa de um prisioneiro do próprio partido que ele criou, ajudado – dizem – por Goubery do Couto e Silva, o grande Maquiavel de 64.

Dilma, ao contrário, apesar dos laços afetivos que mantém com Lula, não tem demonstrado tanto apreço ao lulismo em si, pois prefere zelar mais pela administração dela e parece levar a sério a administração do país, apesar dos percalços de alguns ministros. E faz ela muito bem.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A greve da USP

Em pleno golpe de 64 eu estava casado de pouco, embora fosse estudante concluindo o curso de Filosofia. Depois fui estudar Direito e ao tempo que mudava de ano também ia ampliando a família e as responsabilidades para mantê-la.


Não me envolvi ou tomei qualquer partido. Minha situação era muito peculiar. Primeiro, mal tinha tempo para dormir, pois além dos estudos trabalhava duro nos demais expedientes. Além do mais, meu pai era militar, do Exército, o que tornava nossa situação ainda mais delicada, pois ao mesmo tempo em que ele estava prestes a ir para a reserva, paralelamente era diretor do Sindicato dos Professores de Pernambuco, órgão esse que deflagrou a primeira greve do Brasil pós-64.

Na época meus colegas de turma estavam divididos em suas opiniões políticas e eu tinha amigo dos dois lados. Hamilton Silva, por exemplo, era um grande (em todos os sentidos) comunista em vias de deixar o partido; ao mesmo tempo alunos brilhantes, como José Paulo Cavalcanti, Paulinho Henrique e outros cuja memória no momento me trai, faziam parte de uma juventude que não apoiava o golpe e que findaram por perder um ano de faculdade, por conta da repressão da época.

As greves, as reuniões, secretas ou não, as manifestações dentro e fora das faculdades sempre giram em torno de ideias.

Recordo-me que certa feita o então governador biônico Nilo Coelho (apoiado naturalmente pelos militares) visitou a Universidade Católica, por volta das 22 horas, a fim de conversar informalmente com um grupo de estudantes que estava organizando uma greve para o dia seguinte. Dispondo de informações privilegiadas, Nilo Coelho foi pessoalmente ponderar com as lideranças estudantis para que evitassem o confronto do dia seguinte, uma vez que a repressão seria para valer, podendo ocorrer, dentre outras coisas, prisões que certamente iriam prejudicar a conclusão do ano letivo.

Educadamente Nilo, ali mesmo, no pátio da Universidade, começou a conversar com os estudantes e um dos mais afoitos, o Hugo Comuna começou a destratar o Governador, que lhe passou um pito, dizendo que ali estava não na condição de colaborador das autoridades repressoras, mas zelando pelos estudantes de seu Estado. Nilo foi duro com Hugo, e Hugo botou o “rabo entre as pernas” e mudou o comportamento.

Embora eu não participasse, como já disse, diretamente de qualquer movimento, pró ou contra e como Nilo nos pegou na hora da saída do turno da noite participei daquele grupo informal de conversa.

Naqueles idos, os estudantes, certos ou errados, tinham por única bandeira o fim do golpe e a volta à democracia, além de tentar acabar com o acordo MEC-USAID.

Por isso estou estranhando que uma das bandeiras dos estudantes da USP seja pela liberação da maconha.

Será que estamos vivendo um excesso de democracia?

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Morrer de vergonha

Morrer de vergonha



            Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)

 

         O artigo de hoje vai ser longo, mas é o jeito. Tenho que falar sobre François Silvestre, Mano Décio Holanda e meu saudoso pai.

         François, como Décio, foi vítima de manobras (leia-se maracutaias) e maroteiros ou espertalhões. Mas François é parecido comigo. Reagiu e está aí, vivinho, contando a estória. Mas Décio, como meu pai, eram diferentes, diria até que ingênuos, em relação às maldades do mundo.

         Meu pai, no Recife do seu tempo, era considerado um dos melhores professores, porém um dia aderiu (era um dos diretores do Sindicato dos Professores) à primeira greve que foi deflagrada no Brasil após 64.

         Na condição de militar, que também o era, adiantou os fatos e organizou uma comissão de professores para fazer uma visita ao então comandante do IV Exército, general Justino Alves Bastos, e lá foi feita uma explanação mostrando as razões da greve. Moral da história: ninguém sofreu qualquer tipo de retaliação e a greve foi vitoriosa. Contudo, por conta disso meu pai findou perdendo o emprego no
Colégio Salesiano, e uma das alegações ridículas do diretor da época foi que ele era um professor superado. Logo ele!

         Pois bem, meu pai, diante de tantas humilhações ingressou na Justiça do Trabalho com um pedido de rescisão indireta, tendo o colégio o convidado para um acordo financeiramente vantajoso, mas o certo é que ele, a partir de então, passou a se c
onsiderar, ele mesmo, um professor superado, por mais que continuasse a ser respeitado pelos colegas e amado pelos ex-alunos. E mais, foi convidado (e aceitou) para lecionar na Universidade Católica e no Colégio Militar do Recife. Mas nada disso conseguiu afastar dele a pecha de "superado". Morreu poucos anos depois, e nunca mais soube manter o bom humor de outrora. Acho que morreu de vergonha.

         Peço encarecidamente aos meus poucos leitores que leiam a crônica de François Silvestre escrita em 30 de outubro passado. Nota-se, ali, que também o Mano Décio morreu de vergonha, graças aos maroteiros e sabidões da chamada sociedade civilizada.

 

 

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O destino de Lula

Não gosto de Lula, entretanto discordo daqueles que pretendem se deleitar com o atual estado de saúde do ex-presidente.

Desejar o mal, a quem quer que seja, jamais será considerado uma virtude.

Jamais simpatizei com a asquerosa silhueta de Kadaffi, entretanto me enojei com a maneira como o trataram nos seus últimos momentos de vida. Kadaffi tinha tudo para merecer uma morte por meio de uma condenação através de um órgão de Justiça, mas não morrer miseravelmente, como um cão vadio. Um ato desumano.

Por mais que sejam evidenciados defeitos no nosso ex-presidente e que dele se discorde, não é justo colocar em blogs notas se vangloriando de seu atual estado de saúde. Afinal, todos nós, mais cedo ou mais tarde partiremos, de um modo ou de outro. E quanto mais “importantes” tenham sido nossas vidas aqui na terra, seremos possivelmente mais severamente julgados. Contudo, cabe a Deus o julgamento de cada um de nós.

Por outro lado, por mais que se discorde dos atos ou atitudes de Lula, ninguém pode lhe tirar o mérito de chegar onde chegou e de governar nosso país por oito anos, colocando-nos enfim no cenário mundial, ele mesmo projetando-se como um líder, apesar dos escândalos internos que obnubilaram seu governo.

Lula não é nenhum santo, todo mundo sabe disso. Porém jamais será digno de ninguém escarnecer ou menosprezar o estado de saúde dele. Deus é quem sabe. Lula é um homem inteligente, racional e tem sensibilidade bastante para ele mesmo aquilatar os caminhos ou descaminhos de seus atos. Nenhum juiz é melhor do que a própria consciência de cada um de nós.

Por enquanto, o mínimo que se pode desejar é que Lula escape do terrível mal que o aflige e que Deus tome conta do resto.