ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Parece que foi ontem

É verdade. Parece que foi ontem. Mas já se passaram setenta longos anos que nasci. Só do meu querido Rio Grande do Norte já usufruo mais de vinte anos de felicidades.. Sexta-feira passada colhi mais uma primavera. Passei também, por causa da compulsória, a desfrutar da comunidade da UVA (União dos Vagabundos Aposentados).

Confesso que tive medo de entrar num indesejável estado depressivo, pois foi um resto de semana carregado de emoções. Primeiro veio a minha desesperançada nomeação de desembargador, no meu querido Tribunal Regional do Trabalho. Luta longa e vitória de muitos pais. Fato que ocorreu na quarta-feira à noite. Na quinta, logo por volta das 8 horas da manhã, posse solene com direito a quebras de protocolo e verdadeiras e sinceras manifestações de carinho de todos os meus agora pares. Palavras de acolhida e ao mesmo tempo de despedida, pois aquele, coincidentemente, seria meu último dia de trabalho. À tarde do mesmo dia meu pedido de aposentadoria, pois no dia seguinte entraria na compulsória.

Ainda durante o almoço do mesmo dia da posse tomei conhecimento de que teria que enfrentar uma nova ação movida contra a minha nomeação, agora alguém tentando anular o ato do Presidente da República. Resolvi mais uma vez entregar a Deus.

Enfim, chegou a sexta-feira. Exatamente no primeiro minuto do dia recebo o primeiro telefonema de parabéns. Osny e Claudinha, lá de Blumenau. E o sol não tinha ainda nascido direito começou uma verdadeira enxurrada de telefonemas. Por curiosidade contei as mensagens que recebi até o final do dia, entre telefonemas e e-mails, que versavam, umas pela posse, outras pelo aniversário: o espantoso número de 322 congratulações!

E o pior de tudo: embora costumeiramente simples e modesto, meu ego inflou como um balão de festa. E de repente eu disse para mim mesmo: eu acho que mereço mesmo! Tentei afastar de mim esse cálice de felicidade, mas minha consciência me disse que eu merecia tudo aquilo. Pelo esforço que tenho feito por merecer minha cidadania norte-riograndense, pela sensação do dever cumprido nos limites da minha capacidade e seriedade profissional e pela boemia santa que pratico desde o primeiro dia em que aqui cheguei há 23 anos.

Aproveito esse espaço na coluna, hoje, para agradecer a Deus pelos meus setenta anos de vida e aos amigos que aqui conquistei, bem como a todos aqueles que me apoiaram na luta pela bendita nomeação, mas avisando sempre: a luta continua, pois alguém (aquele mesmo alguém) já ingressou com nova ação tentando conseguir a desnomeação, em que pese eu já está agora aposentado!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O bajulador

O termo origina-se do verbo bajular, que é um transitivo direto, cuja etimologia vem do Latim e significa levar nos braços, levar às costas etc. etc.


Daí vem o adjetivo e substantivo masculino bajulador, ou seja, que ou aquele que bajula, adulador, que significa carregador, mariola, etc.

São sinônimos de bajulador: adulador, adulão, aduloso, babão, baba-ovo, banhista, caçambeiro, cafofa, capacho, chaleira, chupa-caldo, corta-jaca, escova-botas, lambe-botas, lambe-cu, lambedor, lambe-esporas, lambeta, lambeteiro, lisonjeador, louvaminheiro, mesurado, pelego, puxa-saco, sabujo, servil, servilão, turibulário, turiferário, xeleléu, xereta, zumbalieiro, além de outros menos cotados.

No serviço público pululam os bajuladores, que são também conhecidos como carreiristas, isto é, aqueles que, incompetentes, buscam através de artimanhas, intrigas e pequenos favores alçar melhores postos de serviço. Normalmente – e como não poderia deixar de sê-lo, são pessoas de péssimo caráter e que findam por trair exatamente aqueles a quem adularam e de quem receberam prebendas. O fenômeno, isto é, a traição ocorre geralmente às vésperas do chefe deixar o cargo, por aposentadoria ou outro motivo qualquer. Neste momento os bajuladores fazem o que o vulgo denomina de vira-casaca, e passam a detratar justamente aqueles a quem antes bajulava em prol de benefícios.

Já na empresa privada a figura do bajulador é rara, uma vez que ali se busca objetividade, produtividade, profissionalismo e lucro. O bajulador é até bem vindo para aqueles que gostam de massagear o próprio ego, mas além de bajular ele tem que realmente produzir e demonstrar competência.

Há quem goste, no serviço público, da figura do bajulador, mesmo sabendo que ao final será por ele traído. O problema é que muitas vezes eles pensam que exploram, mas na verdade estão é sendo explorados, e em tempo hábil os bajulados fazem como se faz com as laranjas após extrair-se delas o suco. Joga-se fora o bagaço.

Tenho mais de meio século de serviço público e conheci ao longo da minha longa trajetória inúmeros bajuladores. O tipo é realmente nojento, asqueroso, covarde e desonesto. Uma chaga que de há muito deveria ter sido extirpada no serviço público.

Nos idos da chamada “gloriosa”, quando ainda não tinha sido implantado no Brasil o Serviço Nacional de Informações muitas injustiças foram cometidas pelos militares encarregados de investigações, pois à falta de melhores recursos muitos se serviam dos chamados informantes, pessoas que além de despreparadas para a função de informação aproveitavam-se para tirar partido ou proveito próprio, entregando às autoridades muitas vezes pessoas que eles sabiam ser inocentes, em troca de mostrar serviço para se auto-promoverem, a ponto de surgir no Brasil daquela época mais um brasileirismo – o chamado “dedo-duro”.

Odeio os bajuladores.

Fui.

O bajulador

O bajulador

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Homenagem a Francisco Ivo Cavalcanti

A Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte – ALEJURN – agora sob a presidência do distinto e ilustre escritor Jurandyr Navarro, dando prosseguimento à feliz idéia do presidente anterior e seu fundador, Adalberto Targino, promoveu mais uma sexta-feira da mais alta estirpe cultural.


A ideia é das mais felizes e consiste em cada acadêmico proferir palestra para os demais confrades e ao público em geral em torno de cada patrono, pelo ocupante da respectiva cadeira.

Assim, coube ao ocupante da cadeira que representa o grande Francisco Ivo Cavalcanti proferir a tal palestra. Nada mais nada menos que outro grande, o velho (eu disse velho?) Heider Furtado.

Uma manhã feliz. Para começar, o acadêmico Heider, ele mesmo pertencente à primeira turma de alunos da Faculdade de Direito do Rio Grande do Norte fora aluno do próprio homenageado, de quem privou a amizade e nos revelou com riqueza de detalhes os fatos que fizeram do patrono de sua cadeira uma figura hoje histórica e cada vez mais reverenciada, pois além de primeiro presidente da seccional da OAB se destacou como festejado poeta, sendo de sua autoria várias modinhas do nosso cancioneiro popular.

Após a primorosa palestra seguiram-se comentários de alguns acadêmicos presentes, também em torno do ilustre homenageado e em louvação ao competente trabalho que acabara de ser produzido.

Por falar nisso, um dos comentadores, o procurador José Antônio Pereira Rodrigues ressaltou mais um detalhe envolvendo sua genitora, professora Olívia Pereira Rodrigues, recentemente falecida aos 106 anos e o homenageado. De acordo com seu relato, era a professora Olívia a mais antiga aluna do doutor Francisco Ivo, ainda em vida.

Ao fim dos trabalhos nos cumprimentamos, e o doutor José Antônio, que como eu foi também estudante na década de 50 em Recife me fez lembrar de um tipo popular daqueles idos, o preto velho conhecido sob a alcunha de Chá Preto, que empunhando um pequeno tabuleiro perambulava aos gritos anunciando seu produto.

- Quem vai querer! Não passo mais hoje aqui. Olha o chá preto! Chá preto e pente!

Sei não, mas tenho a impressão de que estou ficando velho.

E por falar em velho acredito que meu colega de turma e grande jurista constitucionalista Francisco Ivo Cavalcanti Dantas é filho do ora homenageado. Prova da eficácia da genética.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O "fenômeno" Tiririca

No começo da semana passada faleceu um dos maiores oradores políticos do Brasil do seu tempo. Refiro-me ao Dr. Cid Sampaio


Certa vez, discursando na tradicional pracinha do Diário o doutor Cid recebeu estrondosa e ensaiada vaia. Sem perder a calma, ao cessarem os apupos retornou ao discurso nesses termos:

“Feliz do povo que pode vaiar em praça pública o seu governador”... e foi por aí. Moral da história, ao terminar o discurso o povo delirava e levou-o de volta literalmente nos braços, para o palácio do Campo das Princesas.

A esse tempo houve um verdadeiro escândalo em Pernambuco. Elegeram para deputado estadual um bode de Jaboatão – o bode cheiroso.

À época eu era ainda um jovem eleitor e ouvi de muitos que a eleição do bode apenas mostrava que o Nordestino em geral ainda não levava a sério a eleição, que não sabia ainda o valor do voto etc.

Ocorre que de lá para cá houve outros fenômenos parecidos com o bode, como o macaco Tião, no Rio de Janeiro, isto é, no Sudeste do país.

Quando Pilatos ofereceu Barrabás no lugar de Jesus Cristo a multidão preferiu crucificar Cristo e soltar o maior ladrão daquela época.

Acho que o povo, isto é, a massa é aparentemente contraditória, mas sua opinião será sempre resultante de um momento psicológico e histórico. Acho ainda que o fenômeno não foi ainda devidamente explicado pelos sociólogos e muito menos pelos cientistas políticos. Não depende da cultura do povo nem da época histórica em que o fenômeno ocorre.

Agora mesmo nos deparamos com o fenômeno Tiririca. Como explicar a palhaçada do eleitor, fazendo do colega o deputado federal mais votado do país? E o fenômeno ocorreu em São Paulo, isto é, no maior Estado da federação, o mesmo que há tempos atrás elegeu para prefeita uma ex-matuta, nossa Erundina (com meus respeitos), nascida no interior paraibano. E a doutora Erundina continua lá, como deputada federal, a dar as cartas.

Aqui mesmo, no nosso Estado, apesar da derrota de Dilma/Lula o povo tornou a fazer da cidadã Fátima Bezerra a deputada mais votada do Estado. Será que foi pelo fato de ela pertencer ao quadro do PT? Ou por que é reconhecida por todos como amiga do presidente Lula? Ou o sucesso de Fátima deve-se à sua própria competência em ser representante legítima do professorado norte-riograndense? Acho que vale mais a pena apostar na última hipótese.

Lamentável que São Paulo tenha dedicado mais de um milhão de votos ao autor de Florentina de Jesus.

Parabéns, meu Rio Grande do Norte, parabéns deputada.

O "fenômeno" Tiririca