ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

jsc-2@uol.com.br


terça-feira, 28 de agosto de 2012

O trem da minha vida


Era o trem da minha vida;

Corria devagarinho,

Era lindo o meu carrinho

Desse trem da minha vida.



Depois porém, eu cresci

E o meu trem pequenino

Ficou pra outro menino

Que nem sequer conheci.



Mas a vida é mesmo assim,

Pois depois que a gente cresce

Nosso trem desaparece

Nas montanhas do sem fim.

Os doze camarões

Os doze camarões




Autor: Sílvio Calds (jsc-2@uol.com.br)



Quarta-feira passada, dia 23 de agosto, o mesmo STF que tenta, agora, apressar o julgamento do famigerado Mensalão ficou boa parte da tarde discutindo um “habeas-corpus” que fora impetrado em favor de um pescador que foi flagrado quando pescava na sua rede 12 camarões, numa praia de Santa Catarina.

Pelo voto do eminente ministro Levandowsky o remédio heróico seria denegado, já que o pescador pescara usando rede inapropriada, com malhas mais finas que as previstas no código ambiental.

Perplexo o ministro Peluso ao proferir seu voto sintetizou:

- Ah, com doze camarões, não – disse ele, em seguida favorável à concessão do “hábeas”.

Conclusão: furtar milhões para fazer mensalão POOOOOODE. Pescar doze camarões NÃO POOOOODE.

Já pensou se Levandowsky usasse desse mesmo rigor em relação a “los mensaleros”?

E o pior, num país em que o Mensalão se arrasta, em doze camarões o tempo se gasta. Pode até rimar, mas que é uma vergonha e uma trágica ironia, isso é.

domingo, 26 de agosto de 2012

Meninos, eu vi!

Final da década de sessenta. Precisamente, 20 de julho de 1969.


Embora eu já fosse casado, mas não possuindo ainda televisão, fui para casa do meu pai para, juntos, assistirmos o grande feito norte-americano.

“Um pequeno passo de um homem, mas um passo gigantesco para a humanidade”. Assim se expressou Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar nas “terras” da Lua.

Hoje, relembrando o feito e lamentando o retorno de Armstrong ao espaço, agora em espírito, tive saudade daquela noite-madrugada e de repente apreendo o significado para a raça humana daquele momento histórico. É bem verdade que no fundo o que ocorria era a disputa entre o comunismo soviético e o capitalismo norte-americano em busca da supremacia mundial. Contudo, aquele foi um momento maior para a humanidade como um todo..

Na sua modéstia, Armstrong sempre teve o zelo e o cuidado de minimizar o próprio feito, dividindo-o com o resto da tripulação e da proporia Nasa, como convém a um grande homem.

Apreciamos a aventura saboreando uma cervejinha gelada, alguns vizinhos nos acompanhando. Os na época chamados “penetras” que ainda não possuíam a novidade tecnológica.

Pois é, meninos de hoje, eu vi com esses próprios olhos que a terra há de comer.



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Ainda há Juizes em Brasília


A frase é um plágio. Conta que no século XVIII o Rei Frederico o Grande, da Prússia, desejou construir um palácio justamente em terras de um moleiro.

Instado a ceder a propriedade, o moleiro recusou-se em atender ao pedido real, informando que ali, naquelas terras, nasceram seus pais e avós, o que lhe trazia grandes e afetivas recordações. Portanto, as terras não estavam à venda.

Frederico II, pasmo com a ousadia do pobre moleiro lembrou-lhe pessoalmente que na qualidade de Rei bem poderia desapropriar a propriedade, embora pagando um justo preço.

Ao que o moleiro respondeu: “Como se não houvessem juizes em Berlim!”

A resposta atrevida, mas desconcertante foi bastante para que o rei respeitasse a vontade do pobre moleiro.

Não sei em que terminará o julgamento do famigerado Mensalão. Pode até terminar em pizza, pouco importa.

Uma coisa porém é certa. Pela primeira parte do relatório desenvolvido ontem pelo Ministro Levandowsky, Revisor do volumoso processo, tudo nos leva a acreditar, parafraseando o moleiro de “Sans souci” que ainda há juizes em Brasília.

Para possíveis surpresas aos Tomaz Bastos da vida.



quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Horácio Paiva e Gilberto Avelino


Dois grandes poetas. Não idênticos (até pela diferença de idades), mas perfeitamente identificados. Diria mesmo que Horácio era uma espécie de filho espiritual de Gilberto, dele herdando o amor a Macau e a veia poética. Diferentes em muitas coisas nos direcionamentos, mas assemelhados no fundamental.

Conheci a ambos quando presidi a então Junta de Conciliação e Julgamento de Macau. Ambos, advogados e poetas. Amantes dos entreveros jurídicos e daquela ilha misteriosa. Em Gilberto aflorava o sol e o sal. Horacio foi mais além. Foi, não, está indo mais além, aventurando-se em diversos temas e deleitando-nos com fantasias, ficções, realidades e filosofias de que o mundo moderno nos está distanciando.

Em seu mais recente livro – A TORRE AZUL – a ser lançado no próximo dia 30 na Academia Norte Rio Grandense de Letras, nos brinda com as mais variegadas sutilezas de sua alma e do seu estilo. Fala do amor/conquista, fala da natureza, fala de Deus. Enfim, poeta do sol e da lua, da terra e do sol, de Deus e do mundo.

Como Horácio era bem mais jovem do que o mestre (como eu chamava Gilberto), ouso pensar que Horácio passou a ser um Gilberto (et por cause) mais atualizado. Argonauta de mares mais distantes. O que não deslustra a memória do grande poeta que se foi. Mas que engrandece com toda razão o poeta que ficou.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A cantiga da perua

Segundo pesquisa do IDEB a educação piorou em nove Estados brasileiros.


Em compensação o crime (organizado ou mesmo desorganizado) avança a passos largos, sem dar chance ao cidadão de bem ter sossego, nem nas ruas nem no recôndito do seu lar.

Sociologicamente falando, é de uma lógica cristalina. Quanto menos se investe na educação, mais o Estado tem que investir na segurança pública, construindo presídios e tentando equiparar o poder de fogo da polícia ao dos bandidos.

De há muito estamos vivendo um verdadeiro estado de guerra civil. Nosso índice de mortandade principalmente de jovens é de chamar atenção. Como é de chamar atenção a quantidade de policiais que estão perdendo a própria vída no cumprimento do seu dever de zelar pela segurança dos cidadãos.

Os governos, grosso modo, não estão levando a sério o caos que se agiganta. Aqui mesmo no nosso Estado, seria cômica, se não fosse trágica, a situação do presídio de Alcaçuz, dado o número de túneis e de fugas que ali se processam todos os meses.

Penso até que Alcaçuz deve estar construída numa duna, tanta é a facilidade que se escavam túneis ali.

Enquanto nossos governantes não se conscientizarem de que investir em educação é a solução mais inteligente e produtiva de qualquer país estaremos como na cantiga da perua, de pior a pior.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O Mensalão - de quem é a cuilpa?

O Mensalão – de quem é a culpa?



Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)



As vezes, chega a ser trágico. Às vezes é cômico. Mas o fato é que os advogados que defendem a “inexistência do mensalão” têm produzido no geral defesas que honram o brilho das palavras e a riqueza da lógica.

Por incrível que pareça, a defesa mais fraca até agora, a meu ver, foi produzida pelo ex ministro Tomáz Bastos. Aliás, ex Ministro da Justiça até pouco tempo e que considera muito natural advogar os mensaleiros e os “cachoeiros’. Acho que ele vai galgar, sem dúvida, um lugar na História. Só não sei qual, ainda.

Por falar em História, essa história do Mensalão só poderá ser escrita daqui há muitos anos, pois não é para o bico da nossa geração.

Até João Paulo Cunha tem posado de santo. Zé, nem se fala. Dizem que não há prova contra eles.

Ora, se não há prova contra Zé, então não se pode falar em Mensalão.

O único réu confesso até agora é o famoso Delúbio, que por sinal, ao que tudo indica, vai sair por cima da carne seca. A defesa dele foi muito inteligente.

Uma coisa é certa: ninguém espere que os Ministros do STF, que reputo sérios no geral vão tender a um julgamento político. Isso é papel do Legislativo.

Mas pensando bem, só quero mesmo é que no final das contas não digam que o culpado do Mensalão sou eu.

Juro que não tive nada a ver com isso...

sábado, 4 de agosto de 2012

A suttileza do Ministro Toffoly

Não creio que alguém duvide da competência jurídica do Ministro Toffoly. Certamente que ele não galgou o STF apenas por haver pertencido e defendido o Partido do Trabalhadores. Apesar de ter sido reprovado em dois concursos para a magistratura, isso não é sinônimo de incompetência. Prefiro dizer que “deu azar”.


Meu problema é o seguinte. O Ministro sabe mais que ninguém que era seu dever de consciência averbar suspeição em processo que julgará não só o PT, mas principalmente o ex-ministro Zé.

Ocorre que nos bastidores jurídicos havia algo muito mais importante a ser atingido, que era justamente o que o Ministro Levando-wisky tentou com unhas e dentes, ou seja, a procrastinação do processo, de modo a atingir o afastamento, psla compulsória, o atual presidente do Supremo. Por coincidência, somente ele e o próprio Toffoly votaram a favor do desmembramento do processo.

Quanto ao senhor Procurador, por que não argüiu a suspeição do Ministro Toffoly? Justamente porque a discussão em torno da suspeição do Ministro ensejaria mais um dia (ou mais) de intermináveis discussões.

Portanto, foi uma atitude inteligente a do Ministro Toffoly, que não atendeu nem aos conselhos da sua companheira. No fundo, o objetivo era bem mais sutil – ensejar a interminável discussão em torno da sua continuidade no processo e portanto, o atraso processual tão desejado, visando a compulsória do Ministro Ayres Britto.

Mas o Procurador, que é ingênuo somente nas aparências, entendeu a manobra e nada providenciou em relação à suspeição.

Portanto, duelo de Titans.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Em defesa da Justiça

Alguns episódios, alguns mais antigos, outros mais recentes, uns comprovadamente flagrantes, outros ainda sob suspeita, têm dado aso a que alguns setores da nossa sociedade tentem nos fazer desacreditar do Poder Judiciário. Pior para nós.


Considero o Poder Judiciário não apenas o fiel da balança entre os outros dois Poderes, mas sobretudo o último baluarte de um país que se quer democrático e, portanto, republicano.

Não se pode esperar de qualquer sociedade humana que ela seja constituída de homens santos. Onde há o homem existe sempre a possibilidade da fraqueza do pecado. Justamente por isso existem os contra-pesos judiciais, ou seja, as corregedorias, as ouvidorias e mais modernamente no Brasil o Conselho Nacional de Justiça.

No dia que a Justiça nos faltar como instituição, será o caos, o salve-se quem puder, o olho por olho, enfim, o exercício da justiça pelas próprias mãos.

O crime no Brasil tem se sofisticado cada vez mais. Os criminosos possuem armas mais potentes que a maioria das nossas polícias. A policial que foi assassinada no Rio de Janeiro, recentemente, por exemplo, usava um inútil colete à prova (?) de balas.

O crime organizado atingiu um nível de causar inveja aos demais países onde operam. Nossos juizes têm sofrido atentados por encomenda. Outros têm se tornado verdadeiros prisioneiros no exerecício da profissão, cercados por seguranças e a própria família a correr perigo de seqüestro.

Não bastasse isso, os juizes estão sendo achacados ou chantageados em seus próprios locais de trabalho, como ocorreu, por exemplo, agora mesmo, pela futura esposa do famoso Cachoeira. Mulher nova, bonita e criminosa, parafraseando a música que lembrava Lampião.

Enfim, quando mais desprestigiarmos o Poder Judiciário mais estaremos concorrendo para a derrocada da nossa jovem democracia. Cabe a cada um de nós escolher o destino da nossa Nação.