ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

jsc-2@uol.com.br


sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A canção da professora

A música já estava praticamente concluída. Faltava concluir a letra. O título seria o acima, em homenagem à querida professora Noilde Ramalho. O tema central enfocava "o verdadeiro amor". Havíamos combinado, a dra. Olindina e eu para fazermos uma surpresa, no devido tempo, à homenageada.

A admiração que eu nutria pela professora Noilde, estranhamente, era a mesma que me marcou pela vida a fora minha primeira professora formalmente falando. Refiro-me a "dona" Cirene, do Instituto Nossa Senhora da Conceição, em Recife. A serenidade e a doçura daquele olhar, a bondade daquela mulher, o amor que ela nos devotava jamais esquecerei. Pois foram estas mesmas sensações que me tocaram logo aos primeiros contatos que tive a felicidade der ter com a grande mestra que Natal acaba de perder, justamente no dia de Natal.

Estava eu participando do mesmo cruzeiro que ela. Diariamente nos cumprimentávamos, desde o aeroporto, ainda na ida, até os encontros diários no restaurante do navio. Gozei, sim, do privilégio de conviver um pouquinho que fosse, dos últimos dias de "dona" Noilde.

Não tenho nenhuma vergonha de dizer que não pude controlar as lágrimas quando meu amigo Clênio me deu a notícia. Como também não estou conseguindo controlar esse choro de velho abobalhado ainda agora, quando escrevo essas linhas. Tal era o impacto que a personalidade da grande mestra me causava.

Infelizmente ainda estou em São Paulo e somente amanhã à noite chegarei a Recife. Portanto, não estarei materialmente presente para acompanhar aquela brava e sábia mulher à sua última morada. Mas Deus é testemunha da minha vontade e do meu sentimento.

Espero que Natal lamente para sempre tão grande perda. Dela se pode dizer com a maior propriedade, que fez do trabalho sua diária oração.

Adeus querida mestra. Sua canção está praticamente pronta. Simples,mas sincera. Talvez sexta-feira próxima Lucinha Lira consiga render essa modesta homenagem, mas feita com muito amor, respeito e gratidão por tudo que a senhora representou em meio século para a educação do Rio Grande do Norte. Somente uma coisa compensará um pouco a sua fala: o seu perene exemplo às novas gerações.

Ano Novo, de novo

Começa tudo de novo. Rotina que se perde no tempo, mas que consegue jamais se repetir. Sempre há novidades no ar. Gente nascendo, gente morrendo e a vida continua para os que ainda estão vivos. Esperanças renovadas, saudades dos que se foram e alegria dos que estão presentes, com votos de paz e amor.


No nosso Brasil um ano ainda mais diferente, isto é, nossa presidenta eleita toma posse daqui a três dias. Espécie de continuidade de um governo que já perdura há quase uma década. Entretanto não se pode dizer que haverá um continuísmo. Pelo menos é o que se espera. Mesmo por que se fosse para o Presidente Lula continuar dando as cartas, melhor seria que ele mesmo tivesse permanecido no poder, como era de fato seu desejo.

As cabeças pensantes do País e que jogam verdadeiramente o jogo democrático aceitam e rendem as homenagens à presidenta eleita esperando entretanto que exerça ela, de fato, as rédeas do poder, como lhe compete e lhe confiou o povo nas urnas. Que ela não venha a ser, enfim, uma marionete sob a vontade do Presidente que sai. Isso sim, o povo quer e merece.

Que haja erros e acertos ao longo dos próximos quatro anos, posto que governar é obra de seres humanos, mas que seja a Presidente Dilma a responsável pelos seus atos e decisões.

Muita gente tem estranhado o fato de alguns ministros continuarem no governo e a volta de Palocci, que praticamente será o Ministro mais importante do governo, que se tudo isso seja contabilizado contra ou a favor da nova presidenta. Que tudo o que está acontecendo, daqui para a frente, seja fruto da proposta que defendeu na eleição, e não do Presidente que sai. Do contrário estaremos sim, sendo vítimas de um verdadeiro calote eleitoral.

O melhor, portanto é confiarmos na personalidade e no vôo próprio da próxima Presidenta. Que Lula deixe Dilma governar em paz.

Aproveito a oportunidade para desejar aos meus leitores os melhores votos de sucesso no próximo ano.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Cartoes de Natal

         Graças às maravilhas da internet a cada ano tenho recebido menos cartões de Natal, em troca de mensagens eletrônicas, por vezes verdadeiras obras primas de design gráfico que  chegam-me aos borbotões.
         Contudo, este ano chamou-me atenção um cartão que me foi enviado pelo desembargador Ronaldo Medeiros, do TRT. Chama ele atenção para o nascimento de outras 365 novas oportunidades de dizer à vida que de fato queremos ser plenamente felizes.
         Faz muito sentido a tal mensagem. Como bem disse um pensador cujo nome esqueço, “o importante não é o destino, mas a viagem”.
         Portanto, não sei ainda qual será o meu destino, mas terei no próximo ano 365 novas oportunidades de ser feliz. E enquanto isso, não hei de me preocupar com o meu destino, e sim com a viagem que tenho empreendido pela vida a fora.
         Há tempos que vinha me preocupando com a proximidade da minha aposentadoria compulsória. Tipo “o que é que vou fazer em casa”?
         Mas não, graças a Deus estou vivendo essa nova fase de vida como verdadeiramente uma nova fase. Do passado, somente as boas lembranças.
         Agradeço ainda a Deus pelas amizades que aqui tenho feito e consolidado ao longo dos anos.
         Carlinhos Pacheco/Gil, Zé Rocha/Vivi, Diógenes/Vera, Genibaldo/Lalinha, Serejo/Solange, Carrapicho, Dequinha, Valério, Zé Maurício/Vilma, Clênio/Olindina,  Felipão/Shyrlei, Nina e filhas, Odúlio, Jurandyr, Marcelo e Jahyr Navarro, Camilo/Anna, Adalberto, Eider pai e filho, François, Maria Araújo, Décio/Gracinha, Roberto Furtado, Wellington Leiros, Ruisinho/Leise, Lula Martins, Maurinho, Fernando da Gata, Maurílio Pinto...
         Tenho consciência de que faltam tantos... mas só no papel, pois trago todos os demais também no coração.
         Obrigado, Rio Grande do Norte, tenho muito orgulho de ter sido adotado como um filho. Obrigado Robson Farias e demais deputados.


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Eu te amo, P...!

Da sexta para o sábado, pleno Carnatal, perdi o sono e liguei a televisão. Parei num dos canais que estava mostrando ao vivo o desfile do referido show. O grande público, jovem em sua maioria, dança animadamente ao som de uma música tipo axé, cuja letra começa assim: “Eu te amo, P...”. Embora me sinta a essa altura um velho ultrapassado, tenho vergonha de transcrever o palavrão contido na tal música, em respeito aos meus leitores, eu que jamais escrevi qualquer artigo utilizando-me de linguagem chula.

Confesso que fiquei estarrecido com os berros do cantor e autor da grande obra que, aliás, jactava-se de que estaria sendo perseguido por determinada emissora de televisão que se negara em divulgar sua bela canção.

Acho que o termo censura está sendo substituído por falta de gosto e de um verdadeiro sentido das coisas em geral. Uma coisa é se contar uma piada, por mais pornográfica que seja, a boca miúda, entre adultos e de formação moral já consolidada; outra coisa é lançar ao ar expressão tão deplorável como a utilizada na referida música, para que a juventude decore a letra e ache que está tudo certo. Aliás, tive ainda oportunidade de ouvir a segunda música do mesmo autor, de letra ainda mais duvidosa. Tratava-se de uma pretensa homenagem ao falecido músico e poeta Raul Seixas. Pretendeu o nosso herói rimar a palavra raUL com c...

Sei que serei considerado por muitos como retrógrado, “babaca” e demais coisas do gênero. Antes assim. Aconselho que os pais realmente exerçam certa censura sobre o que os seus filhos estão a absorver a título de cultura modernista, para que não se amplie ainda mais o caos que está a predominar em nossa sociedade.

O que se salvou nesse fatídico sábado foi a prazerosa visita que Marcinha e eu fizemos ao Instituto Ludovico, que é mantido pelos descendentes diretos do saudoso Câmara Cascudo. Ali sim, conhecemos um pouco mais da inesgotável obra do grande mestre e rememoramos um Brasil de saraus e bibliotecas que a memória do tempo está teimando em tentar apagar.

Vale a pena uma visita ao Instituto Ludovico, que a competente Daliana com a participação de toda a família instalou na antiga casa em que viveu o Mestre Cascudo, na Avenida Junqueira Ayres.

Ali, não só os alunos, mas os professores de hoje em dia entrariam em contato mais direto com o que deva ser considerado uma verdadeira mostra de cultura viva.

Salvei meu sábado, graças a Deus!

Por falar nisso, nosso Diógenes está de volta, trazendo na bagagem inúmeras estorinhas geniais.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Educadores de escol

A Prefeitura de Natal outorgou na segunda-feira da semana passada a Comenda Waldson Pinheiro a diversas personalidades norte-riograndenses que dedicam o melhor de suas vidas à educação pública do Estado.


Em meio aos homenageados lá estavam meus amigos, a professora Maria José de Araújo (ex-Gadelha) e Laércio Segundo de Oliveira.

A Comenda é uma homenagem da Prefeitura Municipal de Natal por intermédio da Secretaria Municipal de Educação, concedida anualmente aos que contribuíram ou contribuem para o desenvolvimento educacional do município, destacando-se em interesse de significativo alcance socioeducacional e cultural.

A homenagem a esses dois amigos que cultivo com muito carinho ao longo dos muitos anos que aqui vivo, não digo que seja tardia, mas que afinal, já não era sem tempo. Pelas suas competências, dedicação e seriedade a que sempre se dedicaram à causa do ensino e do serviço público no mais amplo sentido da palavra. Exemplos dignificantes e que devem servir de referência permanente aos pósteros. Para mim, motivo de sadio orgulho.

Infelizmente problemas de saúde impediram-me de comparecer ao evento.

Para quem não sabe, o professor Waldson Pinheiro, que empresta seu nome à importante outorga, embora fosse pernambucano de nascimento exerceu no Estado as mais importantes funções ligadas aos problemas educacionais, sendo inclusive o autor do Hino de Natal, sendo por todos considerado um natalense de coração.

Aproveito a oportunidade para parabenizar a prefeita Micarla de Sousa por tão justas e merecedoras homenagens, que somente engrandecem sua administração.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Palocci, a grande eminência, sempre

Palocci, em verdade, não está de volta; apenas permanece. Curiosamente, um dos melhores técnicos da área econômica que o Brasil já conheceu, apesar de ser formado em Medicina.

Aliás, até nesse ponto o Brasil é diferente.

Grande ministro da guerra – Pandiá Calógeras – reservista de segunda.

Grande ministro da saúde – José Serra – economista.

Grande ministro da área econômica – Palocci – médico.

Logo no início da crise que o envolveu Palocci submergiu um pouco, mas realmente nunca se ausentou. O sucesso e a continuidade de Mantega no próximo governo não se deve ao próprio. Está na cara. São os cordões paloccianos (e não palacianos) que fazem os bonecos se mover. Mas não dava mais para esconder. A doutora Dilma venceu as eleições e logicamente precisava manter na essência as mesmas diretrizes econômicas que, embora tenham por nascedouro o governo Itamar Franco, foi sabiamente mantida por Palocci. Então ele tinha que realmente agora aparecer, embora mantido Mantega oficialmente à frente da economia brasileira. Não tinha mais como escondê-lo. E a futura presidente, conforme já demonstrou à saciedade, é uma mulher, além de guerreira é uma mulher pragmática.

A questão ética foi mandada às favas (expressão cunhada por Passarinho). Afinal, Palocci é o cara.

Na prática, acho que o Brasil sai ganhando, afinal, como diria um grande técnico de outrora, não se mexe em time que está ganhando.

Palocci começa com P, Pelé também. Às favas pois a ética.

Viva o Brasil.

Concluo essa crônica parabenizando meu amigo e excelente escritor Valério Mesquita, pelo lançamento do seu Causos de 2010. Como sempre excelente produção. Noite de autógrafos muito concorrida no antigo palácio do Governo, regada a água escoceza, espumante, canapés e a nossa Banda dos Anos Sessenta, como sempre um show à parte. Ocorreu na quarta-feira passada.

domingo, 21 de novembro de 2010

Turismo pra inglês ver e Tico da Costa

Faço essa crônica hoje constrangido, mas em nome da defesa de um título de cidadão norte-riograndense que o povo dessa terra me outorgou, com muita honra e felicidade para mim, por meio da Assembléia Legislativa do Estado.


Morri de vergonha. O fato ocorreu terça-feira da semana passada. Fui despedir-me da minha amiga de longa data, a doutora Alberlita Silva, que se encontrava no Aeroporto esperando um vôo que só ocorreria por volta das 15 horas, de volta a sua terra natal – Recife. Como ainda não passava do meio dia, achamos mais prático almoçarmos ali mesmo no aeroporto.

Para infelicidade minha bem melhor seria que tivéssemos nos contentado com um pequeno lanche na lanchonete do térreo, que oferece de fato alguns lanches saborosos. Mas não, caímos na bobagem de subir ao último andar, para experimentarmos a cozinha de um simulacro de restaurante que ali engana os incautos.

Em primeiro lugar, passamos mais de uma hora para ser afinal mal atendidos. Uma jovem garçonete, que nos confessou não passar de uma aprendiz, não tinha o menor conhecimento do que estava a nos oferecer. Foi preciso que viesse outra pessoa, por detrás do balcão, nos dar algumas explicações que também não entendemos. Preferimos então não correr muito risco e em vez de dois pratos, pedimos apenas um, já desconfiados que estava por vir.

Para beber solicitamos uma jarra de suco de laranja, ao que a jovem respondeu que só servia o suco em copos. Pedimos então o suco em copos. Passados cerca de 10 minutos a moiçola nos trouxe apenas um copo de suco.

- Mas querida, nós pedimos uma jarra para bebermos. Então você deveria trazer dois copos.

- Mas eu pensei que era um copo para vocês dois (...).

- Passados mais 10 minutos afinal veio o outro copo e um único prato e um único talher para nos servirmos.

- Moça, somos duas pessoas, portanto você deve trazer outro talher e mais um prato.

A moça foi lá dento e retornou ostentando um burraldo prato destinado a sopa (prato bem fundo).

- Mas querida, esse prato é de sopa. Traga-me um prato igual ao outro que veio com o almoço.

Retornando, a moça nos informou.

- Senhor, não temos mais prato raso, o único que tem é esse fundo mesmo.

- Então não vamos querer almoçar não querida, pode levar o prato de volta e o almoço também.

A essa altura a minha amiga olhou para dentro da cozinha e vislumbrou alguns pratos rasos que estavam para serem lavados.

- Minha filha, não dava para lavar um prato daqueles rasos que está ali?

Foi então que a moça foi lá, bateu boca com uma das colegas que estava dentro do balcão e afinal veio o prato raso devidamente lavado.

Não preciso dizer que a essa altura a comida esfriou e perdemos o apetite, embora a carne de sol que foi servida estivesse realmente saborosa.

Mal começamos a beliscar alguma coisa, para não ficarmos com fome, eis que chega um rapazola pedindo esmola pelas poucas mesas onde algumas pessoas se serviam.

Terminado o repasto (?) nos levantamos, ao que fomos interpelados por um simpático funcionário do aeroporto, que se identificou e tentou nos entrevistar.

- Boa tarde, sou funcionário do aeroporto (mostrou o crachá) e gostaria de saber o que está achando dos nossos serviços.

- Péssima qualidade, amigo, péssima qualidade.

Quando relatamos que para completar havia um rapaz (pedinte) mendigando entre as mesas ele saiu-se com essa:

- Senhor, não é possível. Mostre-me a pessoa!

Só teve um jeito, pedi-lhe humildes desculpas alegando pressa e fui deixar a amiga no portão de embarque. A ela sim, pedi também humildes desculpas em nome do povo natalense, tão hospitaleiro quando não se trata de equipamentos turísticos.

Como esperar progresso turístico, em que pese nosso imenso potencial, com equipamentos tão improvisados como o do nosso aeroporto? Como aproveitarmos os Cursos oferecidos pelo Sistema S e universidades para qualificar os recursos humanos que prestam serviços dessa natureza?

Bem, mas nem tudo estava perdido naquela terça-feira. À noite o teatro Alberto Maranhão viveu uma de suas noites gloriosas, revivendo os sucessos do meu amigo Tico da Costa que se encontra em outro plano. Destaque para o maestro Bem-Bem e sua Banda Cruzetina, para a moça que deu um verdadeiro show cantando de Tico a Ana Bandolim, acompanhada de um quinteto de cordas da UFRN. Destaque também para a fibra e o denodo da viúva Sara, que continua a zelar com o maior esmero pela memória do marido que se foi tão jovem.

Graças a Deus a ex-governadora Vilma assinou decreto, pouco antes de deixar o governo, que vem permitindo a Sara e seus três filhos um sustento digno da obra que Tico da Costa legou ao nosso Estado e que divulgou com muito brilho em vários países da Europa e dos Estados Unidos.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

As novas memórias de Eider

Natal viveu quarta-feira passada mais uma noitada (no melhor estilo da palavra) promovida pelo amigo Eider Furtado e família.

O motivo principal era o lançamento do seu terceiro livro – “Nas Veredas do Tempo” – mas no fundo, o que Eider gosta mesmo é de recepcionar e bem os amigos.

Casa cheia de pessoas gradas, água escocesa da melhor qualidade, tira-gostos para todos os gostos, verdadeiro desfile de elegância feminina, boa música e, pelo menos na mesa que tive a felicidade de ocupar, fui ladeado por Anna e Camilo Barreto, Zélia Madruga, Assis Câmara, Genibaldo e Mário (filho do saudoso José Valdenício).

Não preciso dizer que a (boa) fofoca tomou conta da nossa mesa. E lá para as tantas, movido talvez pelo embalo da noite, surgiram comentários sobre um grupo que fará proximamente turismo na Ilha de Fidel Castro.

‘ - Em Cuba!? – exclamei interrogando.

- Em Cuba, sim, respondeu-me um dos turistas.

- Mas pelo que conheço de algumas pessoas do grupo, são pessoas que jamais se animariam para gastar dinheiro fazendo viagem a Cuba, quando por um pouquinho de dólares a mais poderiam fazer turismo em Miami e redondezas. Isso sim, coisa de capitalista ou simpatizante.

- É – respondeu alguém. Mas na verdade, na prática o que vai prevalecer mesmo é um turismo de negócios.

- Negócios em Cuba? Aí foi que não entendi mesmo.

- Bem – respondeu-me alguém. Um dos setentões soube que o governo de Fidel distribui uma espécie de bolsa (coisa de setenta pesos) para pessoas maiores de setenta anos, bastando provar que não possui emprego na Ilha nem goza de qualquer aposentadoria por lá.

- Tudo bem. E o outro?

- Bem, o outro vai a fim de adquirir algumas casas baratas em bairros que futuramente podem se tornar atraentes, quando cessar o embargo à Ilha. Assim, ele adquire as casas velhas agora e quando os americanos promoverem as pazes com Cuba a Ilha vai retomar o rumo do capitalismo e aí os imóveis bombarão os preços.

- Questão de visão capitalista, Sílvio. Quando retornar da viagem lhe conto o resultado.

Caro leitor, igualzinho a você, também entendi muito pouco o espírito da coisa.

Mas que valeu a noitada, como sempre, valeu.

Parabéns Eider, por tudo. E a Fidel, boa sorte!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Está chegando a hora

Oi carmen,
obrigado pelo comentário. Mas acho muito cedo para você mudar de rumo. A Justiça aind aprecisa muito de você. Segure a barra, afinal ainda é uma jovem senhora.
abr. sílvio caldas.

É de lascar!

Não encontro expressão melhor para resumir minha indignação e de quem tem juízo. Refiro-me aos últimos acontecimentos ocorridos no nosso Estado envolvendo desvio de recursos federais e que estão repercutindo no resto do País.
O esquema dessa vez foi montado na Superintendência do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DINIT), sendo que um dos cabeças é parente de Agaciel Maia, aquele do Senado, e também do deputado federal reeleito João Maia, que se jactava em sua propaganda de haver carreado verbas para construção de estradas no Rio Grande do Norte.
Aliás, esse apadrinhado, sobrinho do deputado, de nome Gleidson Maia fora cotado até para assumir a Superintendência do Departamento Estadual de Rodagem e declinou do convite, preferindo continuar prestando patrióticos serviços no DINIT. Freud explica.
São muitos os escândalos envolvendo o atual governo da República, e pelo andar da carruagem (questão de lógica) as quadrilhas vão continuar agindo.
Não se diga, a bem da verdade, que a Polícia Federal, que é comandada pelo Ministério da Justiça não tem procurado exercer seu papel com independência republicana. A partir de sua atuação seguem-se os trâmites judiciais legais, fora da interferência do Poder Executivo, a não ser que se comprove futuramente algum tráfico de influência de um Poder sobre o outro. Aí seria o fim da picada.
Sei que nossa geração é diretamente prejudicada, pois somos os contribuintes lesados do dia. Resta apelar para que as futuras gerações venham a desvendar o que de fato ocorreu no governo Lula. “Nunca antes” nesse país se denunciou claramente tanta safadeza, o que é sintoma de uma democracia em marcha, com o apoio da Imprensa falada e escrita que socializa os bons serviços prestados pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. Ao mesmo tempo, nunca houve, quiçá na América Latina, um governo com tão grande índice de aprovação popular.
Isso sim, nem Freud explica.




Ao vencedor as batatas

Assim diria o velho Machado. Mas nem sempre. Depende se Tiririca vai ser aprovado no exame que comprovará ou não se é um apedeuta. Quanto a Zé, desceu a serra. Quanto a Marina, como diria Caimy, estou “de mal com você”. Resta agora saber se o Presidente Lula vai querer dar uma de tirano ou de estadista, a partir de dois de janeiro.
Mas o bom mesmo da semana que passou foi aquele programa que versou sobre a vida e a obra de Adoniran Barbosa. A televisão tem dessas coisas. De vez em quando quebra a tradição de idiotices e apresenta algo que valha a pena. Lamentável que demore tanto tempo para elaborar programas daquele nível.
Acho que é o retrato do Brasil, enfim. País de potencialidades mil, mas que prefere gastar suas energias com praia, carnaval, cachaça e futebol. Ah, e com o Bolsa Família também. Não que eu seja contra mitigar a fome de quem sofre desse mal social. Mas o que o homem precisa mesmo é de um Programa que lhe qualifique e lhe ofereça oportunidade de ingresso no mercado de trabalho. Fui educado ouvindo música nordestina da melhor qualidade. “Seu doutô, uma esmola a um home qui é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.
Muitos se impressionam com a quase unanimidade alcançada pelo governo Lula diante da avaliação das estatísticas. Claro que Lula tem seu valor, e disso ninguém duvida. Mas na Alemanha também Hitler teve seu governo apoiado pela imensa maioria. Não acho que seja por aí.
De qualquer sorte, temos mais quatro anos de, não digo petismo propriamente, mas de lulismo pela frente. Só peço a Deus que Dilma não invente de recolocar Dirceu na Casa Civil. De resto, e em termos globais, o Brasil vai até melhor do que se esperava.
Bom seria também que mantivéssemos relacionamentos mais discretos com os governos ditadoriais.
Mas o problema todo se resume no seguinte: Dilma será ela mesma, ou Lula continuará mandando? Se a segunda alternativa prevalecer, melhor que ele tivesse mesmo era dado uma de Hugo Chávez.. Assim saberíamos melhor com quem estávamos lidando.
Como não entendo de política, encerro sem entender qual foi a verdadeira intenção da nossa Prefeita. Juro que fiquei sem entender. Mas ela deve ter lá suas razões. Tem que ter!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Parece que foi ontem

É verdade. Parece que foi ontem. Mas já se passaram setenta longos anos que nasci. Só do meu querido Rio Grande do Norte já usufruo mais de vinte anos de felicidades.. Sexta-feira passada colhi mais uma primavera. Passei também, por causa da compulsória, a desfrutar da comunidade da UVA (União dos Vagabundos Aposentados).

Confesso que tive medo de entrar num indesejável estado depressivo, pois foi um resto de semana carregado de emoções. Primeiro veio a minha desesperançada nomeação de desembargador, no meu querido Tribunal Regional do Trabalho. Luta longa e vitória de muitos pais. Fato que ocorreu na quarta-feira à noite. Na quinta, logo por volta das 8 horas da manhã, posse solene com direito a quebras de protocolo e verdadeiras e sinceras manifestações de carinho de todos os meus agora pares. Palavras de acolhida e ao mesmo tempo de despedida, pois aquele, coincidentemente, seria meu último dia de trabalho. À tarde do mesmo dia meu pedido de aposentadoria, pois no dia seguinte entraria na compulsória.

Ainda durante o almoço do mesmo dia da posse tomei conhecimento de que teria que enfrentar uma nova ação movida contra a minha nomeação, agora alguém tentando anular o ato do Presidente da República. Resolvi mais uma vez entregar a Deus.

Enfim, chegou a sexta-feira. Exatamente no primeiro minuto do dia recebo o primeiro telefonema de parabéns. Osny e Claudinha, lá de Blumenau. E o sol não tinha ainda nascido direito começou uma verdadeira enxurrada de telefonemas. Por curiosidade contei as mensagens que recebi até o final do dia, entre telefonemas e e-mails, que versavam, umas pela posse, outras pelo aniversário: o espantoso número de 322 congratulações!

E o pior de tudo: embora costumeiramente simples e modesto, meu ego inflou como um balão de festa. E de repente eu disse para mim mesmo: eu acho que mereço mesmo! Tentei afastar de mim esse cálice de felicidade, mas minha consciência me disse que eu merecia tudo aquilo. Pelo esforço que tenho feito por merecer minha cidadania norte-riograndense, pela sensação do dever cumprido nos limites da minha capacidade e seriedade profissional e pela boemia santa que pratico desde o primeiro dia em que aqui cheguei há 23 anos.

Aproveito esse espaço na coluna, hoje, para agradecer a Deus pelos meus setenta anos de vida e aos amigos que aqui conquistei, bem como a todos aqueles que me apoiaram na luta pela bendita nomeação, mas avisando sempre: a luta continua, pois alguém (aquele mesmo alguém) já ingressou com nova ação tentando conseguir a desnomeação, em que pese eu já está agora aposentado!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O bajulador

O termo origina-se do verbo bajular, que é um transitivo direto, cuja etimologia vem do Latim e significa levar nos braços, levar às costas etc. etc.


Daí vem o adjetivo e substantivo masculino bajulador, ou seja, que ou aquele que bajula, adulador, que significa carregador, mariola, etc.

São sinônimos de bajulador: adulador, adulão, aduloso, babão, baba-ovo, banhista, caçambeiro, cafofa, capacho, chaleira, chupa-caldo, corta-jaca, escova-botas, lambe-botas, lambe-cu, lambedor, lambe-esporas, lambeta, lambeteiro, lisonjeador, louvaminheiro, mesurado, pelego, puxa-saco, sabujo, servil, servilão, turibulário, turiferário, xeleléu, xereta, zumbalieiro, além de outros menos cotados.

No serviço público pululam os bajuladores, que são também conhecidos como carreiristas, isto é, aqueles que, incompetentes, buscam através de artimanhas, intrigas e pequenos favores alçar melhores postos de serviço. Normalmente – e como não poderia deixar de sê-lo, são pessoas de péssimo caráter e que findam por trair exatamente aqueles a quem adularam e de quem receberam prebendas. O fenômeno, isto é, a traição ocorre geralmente às vésperas do chefe deixar o cargo, por aposentadoria ou outro motivo qualquer. Neste momento os bajuladores fazem o que o vulgo denomina de vira-casaca, e passam a detratar justamente aqueles a quem antes bajulava em prol de benefícios.

Já na empresa privada a figura do bajulador é rara, uma vez que ali se busca objetividade, produtividade, profissionalismo e lucro. O bajulador é até bem vindo para aqueles que gostam de massagear o próprio ego, mas além de bajular ele tem que realmente produzir e demonstrar competência.

Há quem goste, no serviço público, da figura do bajulador, mesmo sabendo que ao final será por ele traído. O problema é que muitas vezes eles pensam que exploram, mas na verdade estão é sendo explorados, e em tempo hábil os bajulados fazem como se faz com as laranjas após extrair-se delas o suco. Joga-se fora o bagaço.

Tenho mais de meio século de serviço público e conheci ao longo da minha longa trajetória inúmeros bajuladores. O tipo é realmente nojento, asqueroso, covarde e desonesto. Uma chaga que de há muito deveria ter sido extirpada no serviço público.

Nos idos da chamada “gloriosa”, quando ainda não tinha sido implantado no Brasil o Serviço Nacional de Informações muitas injustiças foram cometidas pelos militares encarregados de investigações, pois à falta de melhores recursos muitos se serviam dos chamados informantes, pessoas que além de despreparadas para a função de informação aproveitavam-se para tirar partido ou proveito próprio, entregando às autoridades muitas vezes pessoas que eles sabiam ser inocentes, em troca de mostrar serviço para se auto-promoverem, a ponto de surgir no Brasil daquela época mais um brasileirismo – o chamado “dedo-duro”.

Odeio os bajuladores.

Fui.

O bajulador

O bajulador

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Homenagem a Francisco Ivo Cavalcanti

A Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte – ALEJURN – agora sob a presidência do distinto e ilustre escritor Jurandyr Navarro, dando prosseguimento à feliz idéia do presidente anterior e seu fundador, Adalberto Targino, promoveu mais uma sexta-feira da mais alta estirpe cultural.


A ideia é das mais felizes e consiste em cada acadêmico proferir palestra para os demais confrades e ao público em geral em torno de cada patrono, pelo ocupante da respectiva cadeira.

Assim, coube ao ocupante da cadeira que representa o grande Francisco Ivo Cavalcanti proferir a tal palestra. Nada mais nada menos que outro grande, o velho (eu disse velho?) Heider Furtado.

Uma manhã feliz. Para começar, o acadêmico Heider, ele mesmo pertencente à primeira turma de alunos da Faculdade de Direito do Rio Grande do Norte fora aluno do próprio homenageado, de quem privou a amizade e nos revelou com riqueza de detalhes os fatos que fizeram do patrono de sua cadeira uma figura hoje histórica e cada vez mais reverenciada, pois além de primeiro presidente da seccional da OAB se destacou como festejado poeta, sendo de sua autoria várias modinhas do nosso cancioneiro popular.

Após a primorosa palestra seguiram-se comentários de alguns acadêmicos presentes, também em torno do ilustre homenageado e em louvação ao competente trabalho que acabara de ser produzido.

Por falar nisso, um dos comentadores, o procurador José Antônio Pereira Rodrigues ressaltou mais um detalhe envolvendo sua genitora, professora Olívia Pereira Rodrigues, recentemente falecida aos 106 anos e o homenageado. De acordo com seu relato, era a professora Olívia a mais antiga aluna do doutor Francisco Ivo, ainda em vida.

Ao fim dos trabalhos nos cumprimentamos, e o doutor José Antônio, que como eu foi também estudante na década de 50 em Recife me fez lembrar de um tipo popular daqueles idos, o preto velho conhecido sob a alcunha de Chá Preto, que empunhando um pequeno tabuleiro perambulava aos gritos anunciando seu produto.

- Quem vai querer! Não passo mais hoje aqui. Olha o chá preto! Chá preto e pente!

Sei não, mas tenho a impressão de que estou ficando velho.

E por falar em velho acredito que meu colega de turma e grande jurista constitucionalista Francisco Ivo Cavalcanti Dantas é filho do ora homenageado. Prova da eficácia da genética.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O "fenômeno" Tiririca

No começo da semana passada faleceu um dos maiores oradores políticos do Brasil do seu tempo. Refiro-me ao Dr. Cid Sampaio


Certa vez, discursando na tradicional pracinha do Diário o doutor Cid recebeu estrondosa e ensaiada vaia. Sem perder a calma, ao cessarem os apupos retornou ao discurso nesses termos:

“Feliz do povo que pode vaiar em praça pública o seu governador”... e foi por aí. Moral da história, ao terminar o discurso o povo delirava e levou-o de volta literalmente nos braços, para o palácio do Campo das Princesas.

A esse tempo houve um verdadeiro escândalo em Pernambuco. Elegeram para deputado estadual um bode de Jaboatão – o bode cheiroso.

À época eu era ainda um jovem eleitor e ouvi de muitos que a eleição do bode apenas mostrava que o Nordestino em geral ainda não levava a sério a eleição, que não sabia ainda o valor do voto etc.

Ocorre que de lá para cá houve outros fenômenos parecidos com o bode, como o macaco Tião, no Rio de Janeiro, isto é, no Sudeste do país.

Quando Pilatos ofereceu Barrabás no lugar de Jesus Cristo a multidão preferiu crucificar Cristo e soltar o maior ladrão daquela época.

Acho que o povo, isto é, a massa é aparentemente contraditória, mas sua opinião será sempre resultante de um momento psicológico e histórico. Acho ainda que o fenômeno não foi ainda devidamente explicado pelos sociólogos e muito menos pelos cientistas políticos. Não depende da cultura do povo nem da época histórica em que o fenômeno ocorre.

Agora mesmo nos deparamos com o fenômeno Tiririca. Como explicar a palhaçada do eleitor, fazendo do colega o deputado federal mais votado do país? E o fenômeno ocorreu em São Paulo, isto é, no maior Estado da federação, o mesmo que há tempos atrás elegeu para prefeita uma ex-matuta, nossa Erundina (com meus respeitos), nascida no interior paraibano. E a doutora Erundina continua lá, como deputada federal, a dar as cartas.

Aqui mesmo, no nosso Estado, apesar da derrota de Dilma/Lula o povo tornou a fazer da cidadã Fátima Bezerra a deputada mais votada do Estado. Será que foi pelo fato de ela pertencer ao quadro do PT? Ou por que é reconhecida por todos como amiga do presidente Lula? Ou o sucesso de Fátima deve-se à sua própria competência em ser representante legítima do professorado norte-riograndense? Acho que vale mais a pena apostar na última hipótese.

Lamentável que São Paulo tenha dedicado mais de um milhão de votos ao autor de Florentina de Jesus.

Parabéns, meu Rio Grande do Norte, parabéns deputada.

O "fenômeno" Tiririca

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O caso Neymar

O caso Neymar parece muito com o caso Joaquim Roriz. Ambos jogadores excepcionais, sendo que Roriz leva de vantagem a experiência acumulada ao longo de seus muitos anos já vividos, ao passo que Neymar ainda está na flor dos seus 18 e inexperientes anos.

Neymar por enquanto está sendo protegido pelo Santos, clube que já produziu gênios como Pelé e companhia. Em nome de Neymar o Santos sacrificou o técnico Dorival Júnior, que pretendia aplicar um corretivo no jogador para seu próprio bem, esquecendo-se de que o que interessa ao time não é a formação do caráter do jogador, mas o que o mesmo pode proporcionar em termos de gol e logicamente de faturamento. Enfim, a famosa Lei de Gerson, que como nunca está produzindo frutos no nosso país de maravilhosos fenômenos.

Quem não concordou com a pouco ética ascensão de Neymar foi o atual técnico da seleção brasileira, o Mano Menezes que, ao conrário do Santos, preferiu seguir o mesmo raciocínio do seu colega Dorival, isto é, aplicando uma lição de vida ao jogador santista. Como Mano e inatingível pelo Santos, sobrou para Neymar, garoto que graças ao seu inato talento para o exercício do ludopédio está como aquelas meninas bonitas e fogosas de antigamente, “botando a banca”, como se diz, enquanto a ilusão da idade não fenece.

Quanto ao outro jogador, isto é, Joaquim Roriz, pretendendo imitar outro jogador, o Tostão, que era capaz de jogar sem bola, num lance inesperado simplesmente retirou a candidatura ao tomar conhecimento do histórico empate do nosso Superior Tribunal, apostando todas as fichas que lhe restavam na cessação do julgamento do seu processo. Aproveitando a deixa lançou a candidatura da própria esposa ao augusto Senado da nossa República. Ela, que nunca se candidatou a cargo eletivo, de repente viu-se alçada à condição de mãe da pátria, no dizer do filósofo Mão Santa, aliás, do mesmo partido.

Maradona também fez da Argentina campeão mundial de futebol graças a um vergonhoso gol de mão, a que rotulou de “mão de Deus”. Vitórias que não enobrecem e que apenas empurram para o lixo da história seus ganhadores.

O técnico Daniel perdeu o emprego, Mano Menezes manteve o dele, Neymar continua fazendo gols e Roriz trouxe a esposa para o campo da luta.

- E o Brasil? – Está cada vez melhor! Quem viver, verá.

E para terminar, a última: a policia federal descobriu domingo passado que o prefeito de Alagoas teria se apossado de aliimentos que foram doados para as vítimas das enchentes. Estima-se que as “sobras” das doações são resultado de superdimensionamento do número de desabrigados.

Ainda bem que o Brasil não é a China. Lá, os fichas sujas são condenados ao fuzilamento e a família ainda paga a conta.

E por falar em pagar a conta, o estadista Hugo Chavez acaba de conquistar a maioria do parlamento do seu país.

domingo, 19 de setembro de 2010

O caso Erenice Guerra

Guerra é guerra, já dizia minha avó. O governo Lula enfrenta sua mais nova crise. Coincidentemente, na mesma casa em que morou o papa Zé Dirceu – Casa Civil.


Zé foi substituído por Dilma e da administração dela nenhum escândalo aflorou. Pelo menos até agora.

Dilma levou uma vantagem. Nenhum parente dela, até onde eu saiba, utilizou-se daquela importante repartição para nada. Quem é antigo no ramo, como eu e outros, sabemos por ouvir dizer e/ou por testemunhar a desvantagem de ter parentes por perto no cargo público que alguém ocupa. Certa vez uma das minhas filhas tentou aventar a hipótese de eu conseguir uma “colocação” para ela na minha repartição.

- Com muita satisfação – respondi-lhe – para o ano vai haver concurso. Faça o concurso, se passar e, dependendo das regras do jogo, vejo se levo você para o meu gabinete.

Como ela nunca se encorajou para submeter-se ao concurso público, jamais tive qualquer parente por perto.

Em relação à Erenice, acho que ela até demorou em tomar a iniciativa de afastar-se do cargo para que se investiguem as acusações de que ela e o filho estão sendo apontados. Não entro no mérito e espero que as investigações sejam procedidas com total isenção e que afinal se faça justiça. Porém no lugar dela eu afastaria temporariamente não somente ela, mas todo o gabinete, para que não restasse qualquer dúvida de tráfico de influência. Após a apuração, tudo bem, comprovada a inocência dela todos (inclusive ela) seriam reintegrados. Coisa de um mês, mais ou menos, o que é preço até barato para se guardar a honra, a integridade e respeito merecidos.

Mas uma coisa é certa, é um erro manter parentes não concursados rodeando gabinetes tão importantes como o de um ministério, notadamente o ministério da importância da Casa Civil da República.

Que pelo menos isso sirva de lição.

No mais, continua valendo a velha lição dos antigos romanos. Não basta ser honesto, tem que parecer também.

O caso Erenice Guerra

O caso Erenice Guerra

O caso Erenice Guerra

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A rã e a panela

O premiado escritor suíço Olivier Clerc criou uma parábola sob o título acima. Resumindo a história, uma rã estando a se banhar numa panela fria, colocou-se fogo brando sob a mesma, e a panela foi esquentando muito lentamente. A princípio a rã foi achando muito agradável aquela lenta mudança de temperatura, mas a coisa chegou a um ponto que ela não mais resistiu à alta temperatura e findou morrendo cozida.

Acho que essa historinha se encaixa perfeitamente ao nosso país. Não por causa de um determinado partido ou comportamento político, mas por uma série de fatores em que os políticos também têm culpa dentro do processo, mas com efeito, e a bem da verdade, todos nós temos.

Em primeiro lugar, começou a ocorrer relaxamento dos nossos ancestrais costumes. Pequenos detalhes, aparentemente insignificantes. Por exemplo, a família “moderna” não mais participa das principais refeições conjuntamente. Assim, não existem mais aquelas conversas sobre o que se vai fazer ou o que se fez ao final do dia. Não existe mais o respei8to por aquele(a) que é o provedor(a) da família! O próprio hábito de pedir a bênção aos pais de há muito está relegado a um segundo plano, pelos mais variados motivos. Conversas de calçada com a família e com os vizinhos foram substituídas pelas novelas e pelos noticiários da televisão. Esta, por sua vez, em nome de uma falsa liberdade de imprensa e em favor de um lucro nocivo passou a cretinizar nossos gostos e sentidos.

Até a forma de ajudar os mais pobres e miseráveis revestiu-se de uma disfarçada compra de votos, sob o manto de programas tipo bolsas família, sem paralelamente contribuir para a qualificação de pelo menos um membro da família, no sentido de tornarem-se protagonistas de suas histórias.. Eis a vitória do pragmatismo, da famosa lei de Gerson, do “gosto de levar vantagem em tudo”. O ter, no lugar do ser. Em nome da palavra democracia a demagogia impera cada vez mais. A própria legislação, ao mesmo tempo em que um grupo de pessoas pretende modernizar, vem colaborando para a frouxidão de certos costumes e valores necessários ao processo evolutivo das pessoas e familiares na perspectiva do “ser”. Assim, ao invés de correções de rumo o que temos assistido são bruscas mudanças de rota de comportamento, sem que a sociedade verdadeiramente participe de algumas mudanças que realmente são necessárias, tais como proibição de trabalho infantil, assédio moral, dentre outras. Enfim, mudanças mecânicas, como se fôssemos meros robôs, sem ter clareza do projeto de nação que desejamos. O próprio computador, contraditoriamente, em vez de estimular nossa criatividade está servindo bem mais para nos deseducar e difundir o que o homem mais tem de pernicioso. Verdadeira babel que, lembrando Chacrinha, serve bem mais para confundir do que para explicar.

Enfim, a panela está esquentando cada vez mais. Não sei se dará tempo de a rã se aperceber de que está sendo cozinhada no que pensa ser uma agradável mudança de temperatura.

A rã e a panela

A rã e a panela

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Gedalva 9.0

No último fim de semana participei das comemorações do nonagésimo aniversário de Gedalva, viúva do meu primo Juca Barbosa, nascido e criado no Poxim, vilarejo pertencente a Japoatã, município de Sergipe.


O primo Juca faleceu aos 37 anos, deixando Gedalva com nove filhos para criar. Na verdade, tiveram 10 filhos, em 11 anos de casamento, sendo que Miriam faleceu antes de completar um ano de idade. Assim a prima Gedalva herdou, além das dívidas, crianças que iam de um a onze anos para criar.

Sem eira nem beira, Gegê, como carinhosamente é chamada pelos filhos, literalmente se virou. Conseguiu botar uma banca na feira, começou a vender carne de sol, as crianças maiores ajudando no que podiam e a escadinha começou a crescer. Coube aos filhos maiores irem ajudando aos menores e a muito custo atingiram a adolescência sempre trabalhando, estudando e vencendo na vida.

História longa e bonita e que pode ser resumida em um telão no simpático jantar que foi oferecido a Gegê pelos nove filhos, oitenta netos e bisnetos em Aracaju no sábado passado.

Gegê, verdadeiro porte de rainha, a todos recebia com aquele sorriso de quem se orgulhava da própria obra, com paciência e um sorriso nos lábios enfrentou uma verdadeira maratona de homenagens, por mais de quatro horas, sem demonstrar um mínimo de cansaço. Após o jantar seguiu-se um baile que se prolongou até as quatro da madrugada.

Não bastasse isso, no dia seguinte, na casa de um dos netos, lá estava Gegê, a jogar dominó com os filhos e convidados, a espera do próximo aniversário.

Parabéns Gegê. Parabéns Eloi, Elci, Josué, Josualdo, Roberto, Etelvina, Graciete, Célia e Felisbela.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Está chegando a hora

Está chegando a hora




Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)



Falta muito pouco para a lei brasileira dizer que meus serviços são dispensáveis. Serei considerado um peso morto, para alguns, um vagabundo, para outros, ou mesmo um cara que ganha sem fazer força, num país em que tantos passam fome e são desempregados.

Mas e a Lei. Portanto, cumpra-se. Estava com o pensamento voltado para essa próxima ociosidade obrigatória e rememorando caminhos passados quando me cai às mãos um artigo do jornalista Rodrigo Haidar a respeito do recém empossado presidente do nosso Supremo Tribunal de Justiça, ministro Ari Pargendier, que ostenta o marco de trinta e cinco anos de magistratura. Segundo o articulista, o novo comandante do STJ “não reclama que o Executivo dá poucos recursos financeiros para o judiciário funcionar bem. Ao contrário, acha que há dinheiro em demasia”.

Em entrevista recente à revista Consultor Jurídico o ministro Ari ainda teceu as seguintes considerações, dentre outras:

- Juizes saem ganhando ao receber advogados, mas critica os que selecionam quais advogados devem ou não receber;

- Produtividade, ele sustenta, não é um bom critério para avaliar o trabalho dos magistrados. Refere-se, naturalmente, à magia das estatísticas enganosas.

- O juiz tem que ser reservado e ter uma conduta irrepreensível na vida privada. O que se espera dele é o mesmo que se espera de um árbitro de futebol: que ele seja invisível.

A entrevista é longa, não dá para transcrever aqui, mas encerro transcrevendo um trecho que muito me tocou, pois sou ainda desse tempo em que não dispúnhamos de computadores e sim, das antigas máquinas de datilografia.

Antes de encerrar com muita franqueza sua entrevista o ministro tocou num ponto muito delicado. No seu dizer há muita gente boa na magistratura hoje, mas eles não estão focados completamente na magistratura.

- Estão focados em que, ministro? (indagou a Conjur).

- No magistério, muitas vezes até no comércio do ensino. Como coordenador do CIF eu determinei que juizes poderiam lecionar em só uma instituição de ensino. A AJUFE (Associação dos Juizes Federais do Brasil) contestou a decisão e o Supremo a suspendeu. Então, há juízes que continuam lecionando, são donos de cursinhos. A limitação dessa prática é uma coisa que infelizmente eu não pude implementar na Justiça Federal. Mas é por isso que o pessoal diz: “A carreira chegou”.

Bem, quem desejar saber mais sobre a matéria deve acessar o último número editado da revista Consultor Jurídico.

Da longa entrevista fixo, portanto dois ensinamentos básicos: primeiro, o juiz não é um operário de produção, portanto, deve-se atentar bem mais para a qualidade do que para a quantidade das sentenças por ele proferidas; segundo, ao juiz não é dado fazer do seu ofício judicante um “bico”, desviando o foco de suas atividades para o magistério, notadamente à chamada “indústria do ensino”.

De mim acho louvável que o juiz, exatamente por seu presumido saber e cultura seja um colaborador do ensino em geral. São inúmeros os juizes que trabalham no interior que são convidados pelas diversas escolas secundárias para colaborar com seu sacrifício pessoal, já que a remuneração das escolas não vale a pena o tempo ali despendido. Mas a fazer do ensino uma fonte de renda por vezes até próximas ou maiores que a aferida na própria judicatura é realmente uma afronta ao cidadão e à República.

domingo, 22 de agosto de 2010

Hianto de Almeida revisitado

Considero-me cada vez mais um privilegiado pelo fato de ser cidadão norte-riograndense e por residir em Natal há mais de vinte anos. E prova maior desse privilégio foi ter merecido a honra de ser convidado por Leide Câmara para participar na qualidade de ouvinte/convidado ao ensaio que os irmãos de Hianto – Gilson (piano) e Newton Ramalho (cantor e músico), acompanhados pelo violonista Silvio Pedrosa (filho do grande Veríssimo de Melo, parceiro de Hianto) promoveram quinta-feira passada, na apartamento de Gilson.

O clima musical começa a ser respirado logo na entrada do edifício, cujo nome é Tom Jobim, aliás, um dos parceiros do saudoso Hianto.

Antes mesmo do início do ensaio fomos apresentados em primeira mão ao primoroso livro que Leide lançará sobre a obra do artista (publicação do SESC/RN) no próximo dia 2 de setembro. O Rio Grande do Norte precisa saber: Hianto, embora tenha morrido na flor dos seus quarenta anos de idade, aos trinta e dois já havia produzido mais de duzentas composições, tendo sido cantado pelas principais estrelas da sua época, como Maysa, Cauby Peixoto, Lúcio Alves, Dalva de Oliveira, Pery Ribeiro, Leny Andrade, Elza Soares, Miltinho, Orlando Silva, Elizete Cardoso, Ciro Monteiro, Tito Madi, Carlos José, João Gilberto, César Camargo Mariano, Renato Tito, Os Cariocas, Trio Irakitan, Trio Marayal, dentre outros.

Ouvimos na ocasião várias músicas da década de 50/60, as quais denunciam sem medo de errar a nítida influência da obra de Hianto em relação ao próximo nascimento da chamada Bossa Nova. Também, pudera. Na época o arranjador de inúmeras músicas dele era nada menos que o próprio Tom Jobim, que ainda não era conhecido nacionalmene.

Quanto aos parceiros que colaboraram na obra musical de Hianto lá estão Fernando Lobo, Chico Anísio, o nosso K-Ximbinho (quem não se lembra do chorinho: Eu quero é sossego?) , Veríssimo de Melo, Haroldo de Almeida, Carlos Gonzaga, Macedo Netto (marido de Dolores Duran), Raul Sampaio, Julie Joy, Nazareno de Brito e outros que não me ocorrem no momento.

Nosso Estado, graças a Leide Câmara, está de parabéns, ao resgatar a memória de um dos ícones da moderna música brasileira, um de seus fundadores e para honra nossa, filho da terra.

Além de ouvirmos inúmeras composições de Hianto, por volta das vinte e duas horas foram ensaiadas cinco músicas visando o pré-lançamento do livro " A bossa nova de Hianto de Almeida" de Leide. Por volta das duas horas da sexta-feira retornamos aos nossos lares. Eu, honrado pelo convite e feliz em aprofundar ainda mais meu conhecimento sobre a vida e a obra daquele verdadeiro monstro sagrado da música popular brasileira.

Obrigado Leide.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Com minhas escusas

Peço desculpas pelo trecho que vou transcrever logo abaixo. De fato, pela primeira vez neste Jornal e na minha vida publico um trecho, por pequeno que seja, de natureza pornográfica. Publicar é preciso, para que eu possa comentar e lamentar juntamente com as pessoas sérias que normalmente me lêem.


“Arriou as calças dela, levantou a blusa e comeu ela duas vezes” (...) “Zonha, o criminoso) deu um tiro no olho dele (...) Ele ficou lá meio pendurado, com um furo na cabeça”.

Pronto, três linhas apenas de amostra grátis do conto “Os Primeiros que Chegaram”, que narra, do ponto de vista da criminosa, um sequestro cometido por um casal, em que as vítimas são torturadas.

O conto acima faz parte do livro “Teresa, que Esperava as Uvas”, que integra o Programa do Governo Federal que equipa as bibliotecas das escolas públicas.

Segundo o autor da notícia, jornalista Fábio Takahashi, da Folha de São Paulo, o governo do Presidente Lula, a autora da obra e a editora defendem a escolha do livro, por possibilitar que o jovem reflita sobre a violência cotidiana. A escolha das obras é feita por comissões de professores de universidades públicas. “O livro passou por uma avaliação baseada em critérios, concorreu com muitas outras obras e foi selecionado”, afirmou a escritora do conto.

Embora não me considere nenhum puritano, confesso-me escandalizado com os rumos do Ministério da Educação (?).

Educar os jovens em relação à violência é uma coisa; explicitar em livro cenas desairosas como as que citei a pretexto de educar a juventude é outra. Afinal, que tipo de professores constitui essa comissão tão perniciosa? E mais, do ponto de vista da linguagem, que mau exemplo de estilo literário! Que pobreza!

Precisamos seguir o exemplo de instituições que vem enveredando esforços que investe na formação de leitores por meio do Projeto “Escola de Leitores” fomentando o gosto pela variedade de textos literários junto aos educadores, crianças, jovens e adultos, criando espaços e ambiências formativas, qualificando acervos, enfim contribuindo para o processo formativo dos estudantes e com a qualidade socialmente referenciada da educação.

Na minha juventude tive boas informações envolvendo insinuações sexuais, violência, mas os autores abordavam os assuntos com competência e, sobretudo arte literária. Jamais li um trecho de linguagem chula num Érico Veríssimo, por exemplo.

Claro que é muito mais fácil escrever apelando para expressões vulgares, sem o mínimo de preocupação com a linguagem escorreita. E com o jeitinho da Lei de Gerson ganham-se colocações para publicar tais baboseiras com o apoio do MEC . Será por que não tenhamos melhores escritores entre nós? Duvido muito, o problema é que bons escritores incomodam certos setores e são escorraçados e por vezes até perseguidos. Podem crer.

Andei me perguntando: sinceramente, dona Marisa, a esposa do nosso Presidente teria coragem de recomendar a leitura desse livro a uma sua neta de quinze anos de idade? Duvido muito.

Que pena!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Que mulher!

No meu tempo de criança assisti inebriado um primo meu declamar um poema, de um autor desconhecido. Era longo, de desfecho inesperado e que resumirei a seguir.

Tratava, o vate, da história de um palhaço que, cansado da vida, sob efeito de lancinante depressão, fora procurar o melhor médico da cidade.

Devidamente examinado pelo famoso psiquiatra, dele ouviu o palhaço este conselho: “Amigo, você precisa dar boas risadas, se divertir um pouco, e somente assim irá se livrar dessa depressão. Sua saúdo no geral, enfim, não está a merecer maiores cuidados. O seu problema é tédio, tristeza, depressão.

- Mas doutor, acho que para o meu mal não tem cura, o senhor acha mesmo que dando risadas irei me curar?

- Ora, meu amigo, essa tristeza findará por lhe levar para o outro lado da vida antes do tempo. Olhe, está na cidade um circo muito bom, e melhor do que o circo é o palhaço. Fui ontem assistir a função e quase morro de rir. Vale a pena você ir ao circo hoje e preste bem atenção nas engraçadas chistes que ele vai armar. Garanto que você sairá de lá bastante aliviado. Bem melhor do que lhe passar qualquer medicamento.

- Mas doutor, que ironia....

- Ironia por que meu velho?

- Porque, doutor, esse palhaço sou eu!

Lembrei-me da história desse poema ao assistir na semana que passou uma pequena entrevista de Cissa Guimarães, aquela artista que acaba de perder o filho de forma tão cruel.

Passado o período do nojo, quando se esperava encontrar a mãe arrasada pela emoção, eis que ela levanta a cabeça e, enfrentando e aceitando a vida como ela é, retorna ao teatro, onde a profissão lhe dera por papel uma comédia para despertar o bom humor das pessoas. Logo uma comédia, para quem acaba de perder o jovem filho em circunstâncias tão brutais.

Que exemplo de fé, de profissionalismo, de responsabilidade, num país que anda tão fauto de bons exemplos como o nosso.

Que mulher!

Ofereço esse modesto artigo ao poeta e internauta Diógenes, que sem querer ensinou-me a redescobrir o poema acima.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Tonheca Dantas - nosso Strauss

Era assim que Djalma Maranhão o tratava – “O Strauss Papa-Jerimum.

As novas gerações, tão envolvidas com as chamadas músicas da moda naturalmente não sabem do que estou falando. A moda agora é o axé, forrós pornográficos e outras músicas de gosto no mínimo duvidoso. Poucos já tiveram oportunidade de ouvir Royal Cinema, ou A Desfolhar Saudades, dentre outras verdadeiras obras primas do ilustre filho de Carnaúba dos Dantas.

Como os jovens da atualidade gozam do privilégio de irrestrito acesso à internet, convido-os a pesquisar no Google acerca desse gênio nascido no nosso Estado.

Antonio Pedro Dantas, seu nome de batismo, nasceu em 1871 e faleceu em 1940. Músico, compositor e maestro, produziu uma obra musical das mais extensas, pois foram mais de mil, entre valsas, dobrados, maxixes, hinos, xotes, polcas, marchas e outros gêneros musicais.

Sua mais famosa valsa – Royal Cinema, foi considerada na época da Segunda Guerra uma das dez valsas mais belas do mundo, sendo constantemente tocadas pela BBC de Londres, mas anunciada como sendo de autor desconhecido.

Homem de sete instrumentos, submeteu-se ao teste de seleção para escolha de maestro da banda de música da nossa Polícia Militar. Na ocasião o comandante entregou-lhe uma partitura e perguntou ao candidato que instrumento escolheria para executar a referida música. Ao que respondeu: qualquer um.

Espantados com a atrevida resposta do franzino matuto, a comissão determinou então que ele fosse executando a peça nos diversos instrumentos da banda. Aceito o desafio, assim que teve a partitura diante de si Tonheca não conteve a emoção e começou a chorar.

- Ora amigo, você não disse que tocaria em qualquer instrumento? Ficou com medo?

- Não senhor, me emocionei porque nem vou precisar ler a partitura, pois essa valsa é minha.

Era, de fato, a partitura da Royal Cinema.

Justiça se faça, o poeta Diógenes da Cunha Lima, quando Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, produziu significativa discoteca divulgando autores norte-riograndenses, com destaque para várias músicas de Tonheca nos meios fonográficos da época.

Está na hora, agora, das nossas autoridades culturais produzirem CDs que reproduzam algumas músicas do grande maestro, para honra, glória e memória do nosso Estado, aproveitando não só a discografia produzida pelo então Reitor, além de reproduzir os artistas do Estado da atualidade..

Agradeço ao poeta, músico e meu amigo Welington Leiros muitas das informações contidas no presente artigo.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Que sirva de lição

Terça-feira da semana passada um sexagenário registrou um boletim de ocorrência numa Delegacia de Polícia de Santa Catarina, alegando omissão de socorro.

A alegação era de que estava tentando tratar de uma hipertensão e, em ao menos cinco ocasiões, voltou para casa sem atendimento.

Duas horas após o registro da ocorrência o denunciante procurou mais uma vez o Posto de Saúde as Secretaria Municipal da Saúde de Correia Pinto (258 km de Florianópolis) e findou se desesperando, dada a demora mais uma vez do atendimento, tendo na ocasião sacado um resolver e descarregado a arma, matando uma das funcionárias do referido Posto.

Logicamente que um erro não justifica outro. Ainda mais que a servidora morta, nem ninguém, merece morrer desse jeito. O velho deve, sim, pagar por ato tão impensado, perpetrado num momento de desespero.

Imagino, por ocasião da peroração do advogado do macróbio aos jurados, como ele irá pintar e bordar.

A morta já está morta e enterrada. Coitada, já caiu no esuqecimento. Prevalecerá naturalmente a pena que os jurados serão induzidos a sentir pelo velho. Essa pena naturalmente servirá para amenizar a pena propriamente dita.

Mas se eu fosse o advogado iria mais além. Será que somente o velho tem culpa no cartório?

O que esperar de um cidadão com 65 anos, sofrendo de pressão alta, ser enjeitado pela quinta vez num centro de saúde, sem ter direito de ser medicado?

O velho perdeu a paciência, é verdade. Sua revolta, além de incontida, foi exagerada, ainda que por acaso tenha sido talvez, quem sabe, humilhado pela extinta servidora. Tudo são meras lucubrações e que farão parte da defesa. Mas uma coisa é certa. Culpa também do Estado. O Estado, sim, deveria responder solidariamente pelo crime perpetrado, com certeza. Um sistema que adia pela quinta vez o atendimento a um paciente, seja de que idade ele for, é responsável em igualdade de condições pelo crime que venha a ser perpetrado pelo enjeitado.

O crime, portanto, não é apenas de natureza penal e sim de natureza civil. Dano moral e material, de responsabilidade direta do Estado, já que este não pode responder criminalmente, como será o caso do acusado.

Assunto pra muita lera.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O fubebol ainda é um esporte?

O futebol ainda é um esporte?


Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)

Antigamente era. Hoje é apenas uma máquina de fazer dinheiro. Daí o uso de drogas porque são tentados a revelar alguns talentos pouco autênticos. Por isso, aliás, sempre admirei o atleta Pelé (não confundir com Edson), pois seu talento era inato e seu exemplo de condicionamento físico não será provavelmente superado. Se alguém no mundo ainda tem a pretensão de querer comparar Pelé com Má-radona, é o mesmo que comparar o pires com o sol, só por causa da forma arredondada de ambos.

Essa última copa do mundo fez ressaltar sem meias tintas que o futebol não é mais aquele das gerações que o criaram. Não há mais amor pela camisa e os jogadores, pelo menos em nosso País, transformaram-se de repente em meninos ricos e que muitas vezes não sabem o que fazer com tanto dinheiro no bolso. Não creio que seja preciso citar exemplos.

Mas o auge da minha repugnância foi atingido quando tomei conhecimento de que a FIFA estaria pressionando o grande Nelson Mandela para que comparecesse ao estádio que apresentaria a partida final, apesar da recusa dele que, não só pela provecta idade, mas pelo abalo emocional que acabara de sofrer com o prematuro e trágico desaparecimento de sua amada bisneta. Mas a FIFA continuou insistindo e imagino até porquê. Afinal, o futebol transformou-se numa máquina de fazer dinheiro, e o velho líder ajudaria a arrecadar mais ainda, graças a sua já histórica e simpática imagem.

Mas para não dizer que não falei de flores, estava tentando produzir essa crônica quando a TV Senado anuncia o discurso de posse do suplente de Senador João Faustino, que ocupará por algum tempo a titularidade, dado o afastamento do senador Garibaldi Alves.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi a ironia da posse: um emedebista sendo sucedido por um suplente tucano em plena disputa eleitoral.

Nesse ponto, nosso Estado tem muita sorte. Temos um quadro de senadores que honrariam qualquer Estado da Federação. E o senador João Faustino bem soube destacar a situação, com muita altivez e personalidade, citando não apenas as grandes lideranças políticas que têm conduzido nosso Estado, não só no presente, como no passado, independentemente da filiação partidária.

Brilhante o currículo não só político, mas profissional do senador recém-empossado.

De parabéns, mais uma vez, o Estado do Rio Grande do Norte.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O ter e o ser

Se você é capaz de jogar bem futebol, pelo menos aqui no Brasil, não precisa de mais nada na vida. Casas de campo, apartamentos de luxo, carros importados, enfim, o mundo ajoelha-se a seus pés e você se torna um ídolo das massas em geral. Um semi-deus.

Se você tem o perfil acima, isto é, um craque futebolístico, pode abandonar os livros, educação, bons costumes. Apega-se então apenas aos bens materiais. Atingindo a fama, jamais você irá precisar de ser, pois que o ter lhe basta.

O comentário acima não atinge a todos os jogadores. Claro que existem as exceções. Contudo, essa é a lição que temos legado aos nossos jovens.

E tem mais: as meninas boas de famílias más entregam-se de corpo e alma em busca desse ter majestático e exuberante. Não é preciso ser, basta o ter.

Esse o quadro que nossa sociedade estarrecida chora e lamenta agora, em relação à inditosa amante de famoso atleta de clube futebolístico tradicional do nosso país.

Ao longo dos fatos é que foram sendo descobertas a hipocrisia e a demagogia, assim como a busca por outros culpados além dos diretamente envolvidos no horrendo seqüestro seguido de brutal assassinado.

Pois eu digo que os culpados somos todos nós, sem exceção. Dos simples eleitores, que não sabem escolher os seus representantes, os que sonegam imposto, os que achacam os guardas de trânsito, aos que estacionam carros em locais destinados a deficientes sem o serem; enfim todos nós que, consciente ou inconscientemente continuamos a aplicar a famigerada lei de Gerson (“Gosto de levar vantagem em tudo”).

Assim, enquanto perdurarem os maus exemplos, por mais simplórios aparentemente que sejam, estaremos alimentando os monstros e hipocritamente estaremos nos escandalizando em relação aos atos por eles praticados.

Uma sociedade que permite o surgimento do dia para a noite de novos ricos, sem que cobre deles o aperfeiçoamento moral não pode esperar que surjam pessoas de bem. Mais dinheiro ganhou quem promoveu seus produtos graças ao nome do goleiro famoso. Portanto, cada um assuma sua culpa antes que as coisas piorem ainda mais.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Quem diabo é Índio da Cossta?

Juro que entendo muito pouco de Política. Só sei de uma coisa: eleição se ganha com votos – comprados ou não – pouco importa.


Os eleitores natalenses mais idosos me contaram que certa feita um amigo meu, Feliciano de Tal candidatou-se a deputado estadual. E numa determinada cidade o marqueteiro dele teve a brilhante idéia de pintar em vários locais, com letras garrafais a frase: FELICIANO VEM AÍ, alusão a próxima visita-comício que o candidato faria naquela localidade.

Pois bem, um gaiato deu-se ao trabalho de sair rabiscando abaixo da propaganda, em letras vermelhas a maldosa frase: QUEM DANADO É FELICIANO?

Pronto! O nome do candidato simplesmente virou piada, e não preciso dizer que o comício redundou num fracasso, dado o desgaste que a espirituosa frase provocou.

Lembrei-me dessa história porque confesso que fiquei estupefato com a escolha do candidato de Serra em relação ao seu Vice. Um tal de Índio da Costa.

Não tenho nada contra o tal Índio, e soube até, por notícia de jornal que ele é autor do projeto ficha-limpa, fato, segundo os entendidos, bastante para credenciá-lo a tão alto posto republicano. Aliás, coerentemente o próprio Índio declarou-se surpreso com a escolha. Imagine eu.

Sei não, mas quando me lembro do tal Índio, na mesma hora recordo-me do sucesso de Feliciano.

Apesar dos pesares, gostei da resposta que ele deu ao bloguista Reinaldo Azevedo. Perguntado se juventude (ele, 39) ajuda ou atrapalha, sorrindo, ele afirmou: “Se for um defeito, tem cura”.

E para não dizer que não falei de flores, o velho Paulo Maluf afirma: “A minha ficha é a mais limpa do Brasil”.

Viva o Brasil, pois!

quarta-feira, 30 de junho de 2010

ALEJURN - Nova Administração

Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)



Dia 11 passado ocorreu a primeira eleição e posse da segunda diretoria da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte. Candidato único, o eleito foi Jurandyr Navarro. Bem que poderia ter sido por aclamação, já que era a vontade da esmagadora maioria.

A Alejurn, criada há dois anos, foi presidida inicialmente pelo procurador Adalberto Targino, cuja operosa administração abriu importantes picadas para a estrada que se pretende projetar e que por certo será bem pavimentada pelo seu sucessor.

Apesar do pouco tempo de existência a Alejurn já apresenta inestimável contribuição à cultura jurídica do nosso Estado, graças a inúmeras palestras ali proferidas e as já programadas para o futuro. Os planos são muitos, o sonhos também e Jurandyr, sem dúvida alguma aprofundará com muito gosto de competência os planos iniciais da primeira administração. Aliás, graças a sua induvidosa liderança não teve dificuldade de manter em sua diretoria vários associados que já pertenciam à diretoria passada, o que demonstra o espírito de colaboração de todos.

Soube através do vice-presidente, Odúlio Botelho que dentre outras coisas o atual presidente pretende intensificar os encontros que ocorrem normalmente ás sextas-feiras, visando não apenas a divulgação literária, mas promovendo saraus permeados por poesia, prosa, música e lançamento de livros, o que somente enriquecerá mais ainda as atividades da promissora instituição. Cogita-se também na aquisição de terreno para construção da sede própria.

Enfim, planos, projetos e sonhos que por certo atingirão seu intento, graças à operosidade de Jurandyr e os companheiros que o apoiam.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Os galos, pobrezinhos!

Os galos, pobrezinhos!




Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)



Primeiro as crianças. Nossa legislação proíbe que crianças menores de 14 anos trabalhem. Em compensação nosso país é o 3º país que mais explora o trabalho infantil.

Segundo o competente procurador do Ministério Público do Trabalho, Xisto Thiago de Medeiros Neto, somente três por cento das crianças de 5 a 11 anos que trabalham chegam ao ensino médio, sendo 12 por cento das que começam a trabalhar de 12 a 15 anos e que atingem a mesma etapa de ensino. No dizer do Procurador “isso significa que quanto mais cedo a criança inicia um trabalho doméstico, menores são as chances de ela concluir os estudos”.

E mais: “O Brasil é o terceiro país da América Latina que mais explora o trabalho infantil doméstico, ficando atrás apenas do Haiti e da Nicarágua. Mais de 2,5 milhões de crianças e adolescentes brasileiras entre 5 a 16 anos são exploradas. E mais da metade não tem carteira de trabalho assinada e nem mesmo remuneração.

Contudo, nossa legislação maior, a denominada Constituição Cidadã proíbe qualquer tipo de trabalho a menores de 16 anos, exceto como aprendiz, a partir dos 14 anos.

Portanto, não nos faltam leis boas, o que nos falta é quem as aplique e as fiscalize e puna os infratores. Por isso mesmo, chamo nossa legislação de romântica. Coisa pra novela das oito.

E para não me alongar mais nem me aborrecer, eis a última manchete de tal Jornal: Rinha é desarticulada, 30 pessoas são detidas e 72 galos apreendidos. Essa é a manchete. Agora, vamos à prática: “Depois da apreensão, no entanto, a Cipam (Companhia de Polícia) está com um problema. Os galos não têm onde ficar, pois não é de responsabilidade da Companhia a guarda do animal e o IBAMA de Natal, segundo o tenente Bezerra, disse não ter condições de receber”.

E continua: “Estamos vendo com Mossoró para ver se levamos essas aves para ali. Agora criamos um problema, porque não adianta realizarmos operações, apreendermos os animais e não tê-los para onde mandar”, desabafou o oficial, que revelou que várias outras operações estão sendo programadas para serem colocadas em prática na Grande Natal”.

Em conclusão: nossas crianças são tratadas como animais, e estão tratando os animais (pelo menos os galos) como tratam nossas crianças.

Agora, durma-se com um barulho desses.

domingo, 13 de junho de 2010

As "minhas" castanholas

Cascudo falou, Serejo falou, François falou. Agora, falo eu. Falo-ei (desculpem o trocadilho) não em nome da Botânica, ou da tradição cascudeana, ou do protesto serejeiro, ou da gozação silvestre dos últimos artigos de jornal. Refiro-me, isto sim, às duas castanholas que ornamentavam a frente da casinha dos meus pais, em Recife, às sombras das quais jogávamos bola de gude, Hélio e eu, e que à noite, por volta das 23 horas meu saudoso pai armava sua indefectível rede de dormir, não para dormir, mas para jogar conversa fora, descansando da faina diária de dez ou doze aulas que acabara de ministrar no colégio Salesiano.

Eu gostava mesmo era quando os vizinhos demoravam a chegar (mas findavam chegando), pois a conversa de meu pai era pra homem nenhum botar defeito. Quando eles demoravam minha conversa com ele era a dois. Tinha de tudo: história de Júlio César, Aníbal, Scipião Emiliano, Napoleão Bonaparte; ou então histórias antigas em torno de Lampião, ou da Revolução de 35. E a rede não parava, era um pra lá e pra cá, movida a um cacetinho que ele empunhava para produzir o embalo.

Na primavera as castanholas davam fruto. Um fruto de sabor duvidoso, mas que sempre quebrava o galho da molecada da Rua da Lama, que por lá passava de volta das aulas da Capela-Escola Santa Teresinha. Ao fruto denominavam coração de negro, ou coração da índia.

Um dia, meu pai de há muito falecido e eu já morando em Natal meu irmão Fernando decidiu cortar as árvores e cimentou a frente da casa. Eu só soube da notícia.

Concordo em parte com François Silvestre. Cascudo, quando não estava exercendo seu sábio magistério era sim, um gozador de primeira, graças a sua rara inteligência. Além do mais, misturava gozação com coisa séria, dado o seu modo filosófico de ser. Enfim, um gênio em tudo que se metia e se intrometia. Resta a nós, seus antigos discípulos ou admiradores procurar lembrar, por todos os meios, tudo o que nos deixou de história, estória, lenda, mito ou simplesmente folclore.

Agora, diante dessa confusão diante da castanhola cascudeana me liga o poeta Diógenes se dizendo com um problema.

- Sílvio, meu bichinho, estou com um problema.

- Só um? – respondo curto e grosso. Pelo que me consta você toma conta de uma árvore gorda, o baobá, há mais de vinte anos.

- Bem, existe uma velha mangueira que divide o terreno do meu escritório com o vizinho e eu acho que ela está bichada. Tenho medo que ela finde caindo e amassando nossos carros. Você acha que eu devo mandar cortá-la?

- Sei lá, doutor Diógenes, consulte as autoridades constituídas, ou seja, as autoridades ditas competentes, pois por mais incompetentes que elas possam vir a ser, só a elas cabe decidir se a mangueira pode ou não ser arrancada. Aproveite a época, pois se for obtida a autorização dará uma boa fogueira de São João. E me chame para os comes e bebes em torno da fogueira.

Esse Diógenes me sai com cada uma. Sei lá!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O acadêmico Eider Furtado

O acadêmico Eider Furtado


Ocorreu no dia 27 do mês de maio passado a posse na Academia Norte Rio-grandense de Letras do ilustre epigrafado.

Essas posses costumam, por vezes serem chatas, modorrentas e até boas motivadoras para um bom cochilo. Não foi o caso. Nem uma conhecida figura política acostumada a tirar cochilos nessas ocasiões cochilou. Tudo por causa do discurso do homenageado.

Mas antes mesmo, durante a saudação do acadêmico Ernani Rosado o auditório lotado ouviu o discurso de boas vindas com o máximo de atenção, dado a sua vibrante e bem elaborado oratória.

Em seguida, uma vez empossado, coube ao doutor e agora acadêmico Eider Furtado proferir a sua oração.

O discurso parecia prenunciar que seria longo, e dado o adiantado da hora confesso que temi pelo seu sucesso. Mas não, o advogado, professor, compositor, musicista e talentoso orador prendeu a atenção de todos e conseguiu abordar em pinceladas literárias e com sabor de autêntico jornalismo, em menos de uma hora, quatro personalidades que já fazem parte da história do nosso Estado, rememorando e reverenciando a todos, cumprindo a praxe acadêmica, mas revelando com sua competência o motivo dos votos que conquistou dos agora seus pares para ali estar e passar doravante a conviver.

Assim, deu início à sua peroração citando o fundador da Casa, no seu dizer “o mestre de todos”, o grande Câmara Cascudo, relembrando os idos de 1943, tempos em que labutava como jornalista no jornal “A República” e que testemunhou, como tal a frase cunhada por outro famoso, o jornalista Assis Chateaubriand, que escrevera na ocasião no muro da entrada da casa de Cascudo: “Ficarei agarrado às paredes desta casa como os cascudos às pedras do rio Assu.”

Em seguida, mas não com essa pressa que o artigo exige, rememorou lanços da vida do fundador da Cadeira 16, agora por ele ocupada, ou seja, o acadêmico Manoel Segundo Wanderley, contemporâneo de Castro Alves e como ele, poeta que lutou em prol da libertação dos escravos do Brasil. Aliás, diga-se de passagem, embora aqui tenha dado seus frutos, o fundador da cadeira a16 nasceu em Timbaúba – Pernambuco, em 1875.

Segundo Wanderley foi sucedido pelo professor Rômulo Chaves Wanderley, de quem o novel acadêmico foi contemporâneo tendo por isso mesmo feito referências muito mais vivenciadas do que relatadas pela história do sucedido. Rômulo, vindo do Assu, era também um grande poeta, como bem apraz à sua terra Natal, tendo gerado, dentre outros, o grande Francisco Berilo Wanderley, bem mais presente à vida contemporânea do nosso Estado e companheiro de turma do homenageado na Faculdade de Direito da nossa UFRN.

A partir daí doutor Eider passou a tecer considerações, agora, em torno de Maria Eugênia Maceira Montenegro, última ocupante da referida cadeira 16, agora por ele ocupada. Aqui se seguiram dados bem mais recentes, apoiado nas informações coletadas junto à desembargadora e escritora Maria do Perpétuo Socorro Wanderley de Castro, a qual forneceu esclarecedores depoimentos da grande mineira de Lavras.

Mas eis que quando o tempo já nos induzia ao término do discurso de posse Eider nos surpreende e prepara nosso espírito para um final apoteótico:

“E como se voltasse no tempo, procuro ver, ao meu lado, encorajando-me, meus pais, que Deus, há tempo, já os chamou para mais perto de Si. Imagino-os comigo, vaidosos por ver o filho, ainda que não o mereça, acolhido nesta Academia de Letras. O tempo passa mais rápido do que desejamos, mas a saudade não passa, antes seguindo seu curso num crescendo avassalador.”

Bem, a partir daí a emoção tomou conta dos presentes, principalmente dos parentes e amigos mais próximos desse homem que dos altos de seus oitenta aniversários (permiti evocar tempos que lhe foram tão caros), mas que soube como ninguém rememorá-los com tranqüilidade, dominando a própria emoção, verdadeira demonstração de autocontrole e disciplina.

Destaco aqui a beleza de uma frase, por ele proferida. “Senhoras e Senhores: o mundo, sem a menor dúvida, está cheio de grandes mães, nenhuma entretanto terá sido maior do que a minha mãe”.

Eis, amigos leitores, em rápidas pinceladas, a explicação da ascensão do mais novo acadêmico da Academia de Letras do Rio Grande do Norte, aliás, também já acadêmico e fundador da Academia de Letras Jurídicas do nosso Estado.

Segundo o presidente da Academia que agora torna Eider um bi-imortal, o poeta Diógenes da Cunha Lima, Eider é um norte-riograndense que exerce a cidadania em tempo integral e dedicação exclusiva. E eu concordo com ele.

Nem preciso comentar sobre a excelência do coquetel que se seguiu à posse. Água escocesa fluindo em abundância e da melhor qualidade.

Valeu, meu amigo Eider Furtado. Parabéns.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

A (grande) obra de Maradona

A (grande) obra de Maradona


A revista Veja da semana passada revela algumas curiosidades a respeito das exigências formuladas por alguns técnicos das seleções de futebol que irão disputar o campeonato da África do Sul em junho próximo.

Fabio Capello, da Inglaterra, dentre outras coisas, exigiu os famosos biscoitos de aveia com queijo cottage, para acompanhar o chá da tarde, à moda da rainha Elizabeth; já o México exigiu levar seu próprio chefe de cozinha, a fim de garantir a boa alimentação de seus atletas; nosso Dunga, além do hotel de luxo, exigiu que o campo de golfe fosse cercado por lonas e um muro verde, posto que pretende praticar aquele esporte nas horas vagas.

Até aí, tudo bem, ou melhor, menos mal. Idiossincrasias, algumas caríssimas, outras desnecessárias, Demonstram uma relação de poder, mas nada que se compare às exigências do grande (?) Diego Maradona.

Não gosto de Maradona. Desamor antigo. Primeiro porque não o considero essa genialidade, como decantou alguns desavisados, ao ponto de querer compará-lo ao excepcional Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos.

Reconheço que Maradona ao longo de sua carreira esportiva revelou grandes jogadas na prática do chamado esporte bretão, contudo sempre movido a cocaína, daí um excesso de energia que não partia do seu próprio preparo físico nem psicológico, mas fruto do uso da droga, conforme ficou depois posteriormente provado e comprovado. Por outro lado, aquele famoso gol de mão (segundo ele “mão de Deus” ) seria bastante para manchar para sempre sua pretendida esportividade. Gol sujo, ilegal, que deu à Argentina um título imerecido.

Mas, desgostos à parte, eis que o traquino tinha que aparecer e querer ser diferente. Daí ter exigido que na suíte em que irá se hospedar, seja colocado um vaso sanitário com acento aquecido (?), além de secador com ar quente e dois bidês acoplados na frente e atrás do vaso.

Eis, enfim, a mais recente e grande “obra” do grande “mestre” que faz lembrar os antigos rádios, denominados de “rabo quente”.

terça-feira, 25 de maio de 2010

O novo cidadão natalense

O novo cidadão natalense


Ontem Natal se engrandeceu mais ainda. A Câmara de Vereadores, por indicação do vereador professor Luís Carlos outorgou ao coronel e advogado Domilson Damásio o título de Cidadão.

Domilson e Iara formam um dos casais mais homogêneos e simpáticos da nossa cidade e, sendo ele nascido na Paraíba aqui nos serve há muitos anos, não só profissionalmene, mas através da maçonaria e de seus dotes artísticos, sendo ele exímio violonista e ela cantora de primeira água.

O título concedido não fez favor, mas fez justiça, como devem ser os títulos concedidos por essa natureza.

Infelizmente não pude comparecer à festa, mas me orgulho cada vez mais da generosidade do povo do Rio Grande do Norte, que tem sabido reconhecer pessoas como Domilson, que se deslocam de sua terra natal e vêm aqui para servir com amor e denodo. Pessoas que enfim, merecem o título, não pelo fato em si da honraria, mas pelo reconhecimento à dedicação e à integração que o fazem merecer como tal.

Parabéns, Domilson, pelo merecido título; parabéns professor e vereador Luís Carlos, pela feliz idéia; parabéns natalenses, por adotarem mais esse filho tão ilustre e que fez por merecer a honra de passar a ser agora mais um natalense por adoção.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O boêmio Dorian Caldas

O boêmio Dorian Caldas


O Caldas dele não é como o meu, que é de cobre. Ele é um Caldas de ouro. Não somos parentes próximos, mas acredito que descendemos daqueles vaqueiros que no século XVII vararam esses brasis afora tangendo gado e transportando mercadorias. Daí os Caldas de Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Em verdade, nossa origem, dizem os mais sábios, vem de Espanha, passando por Portugal.

Acho que é dessa diversidade que herdamos nosso espírito boêmio e de certo modo culto, formalismos à parte.

Dizem os mais antigos de Natal que Dorian Gray Caldas era um jovem de rara e masculina beleza, o que aliás é atestado pela fisionomia que ostenta ainda hoje, ajudada pela sua simpatia e inteligência raras.

A crônica destaca muito um Dorian escritor, poeta, escultor e pintor. Mas Dorian é muito mais que isso. Ele é basicamente um boêmio, no melhor e mais amplo sentido da palavra.

Cavalheiro, educado, diria mesmo que um diplomata inato, Dorian é dessas raras personalidades que a todos agrada sem qualquer ranço de bajulação ou subserviência.

Testemunha viva de um Natal do passado, retratou com maestria os casarões e os recantos históricos, daí sua aceitação como pintor, não bastasse ser irmão de outros talentos, como por exemplo, a grande Zaíra Caldas.

Tal qual nosso outro grande, o mestre Câmara Cascudo, preferiu Dorian dedicar sua vida e sua obra à terra em que nasceu, verdadeiro exemplo de amor telúrico e que mais uma vez demonstra ao longo de sua profícua existência que é possível sim, ser profeta em sua própria terra, e que santo de casa, quando é bom mesmo, faz milagre sim.

Parabéns, Dorian, são oitenta primaveras para honra e glória dos seus amigos e admiradores.

domingo, 9 de maio de 2010

Malandros chapa branca

Malandros chapa branca


O texto da psicanalista Maria Rita Kehl, publicado na revista Época em 5 de junho de 2003 destaca as práticas da elite que corrompem e educam para o crime parte das novas gerações, “de maneira mais profunda e mais eficiente” do que a convivência dos jovens com a criminalidade dos marginais e dos miseráveis.

O que chamou atenção da autora para o desenvolvimento do seu trabalho foi um fato ocorrido dias antes no Jockey Club de Curitiba, em que três rapazes morreram pisoteados graças a um tumulto ocorrido num show de rock naquele local, tendo o responsável pela tragédia, após acusado de negligência, haver simplesmente desaparecido.

Maria Rita acrescenta outros exemplos para alicerçar os seus argumentos, sob comento, destacando inúmeros (maus) exemplos de pais que segundo o entendimento dela pertencem a uma elite.

O trabalho desperta o interesse de todos que se preocupam com o descaminho dos jovens, mas apesar da boa intenção da autora, entendo que o assunto por ela abordado é mais complexo e merece maiores reflexões.

Em primeiro lugar, não sei o que significa para a escritora o termo elite. A palavra, de origem francesa, sugere num sentido amplo grupos de pessoas de maior valor, de maior capacidade econômica e social. Claro que tem também o significado que ela pretendeu conferir, isto é, o sentido de poder, de influência social, de alto poder aquisitivo ou mesmo de competência em determinada área. Contudo esse poder simbólico, pelo que ela dá a entender, são atributos destituídos de ética, daí servirem à corrupção das novas gerações.

É nesse ponto, apenas, que ouso discordar da análise oferecida pela doutora Kehl. Ninguém que detenha poder, competência ou influência social deverá contribuir para a má formação dos jovens, a não ser que não possuam ética no seu comportamento, e nesse sentido, não acho que deva ser considerado elite nenhum grupo anti-ético. Ele possui poder, influência e competência, mas elementos e valores a serviço do mal, para dar maus exemplos e, nesse sentido, considero malandros de chapas tão pretas quanto qualquer malandro mal nascido nas favelas.

Portanto, devemos valorizar nossas verdadeiras elites, no sentido de valores que dizem respeito aos direitos humanos e darmos o devido desprezo aos malandros chamados chapas brancas, por motivos óbvios. E o pior é que no caso deles, a escola pode fazer muito pouco em nome dos seus filhos, pois como se diz no popular, a boa educação começa em casa.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Dia das mães

DIA DAS MÃES






- Quem é ela? Como e ela?

- Pouco importa.

Sendo velha, é jovem;

Sendo jovem, é adulta;

Sendo feia, é bela;

Sendo bela, é sóbria;

Sendo rica, se faz pobre;

Sendo pobre, é tão rica,

Posto que vale por todos os tesouros conhecidos.

Mesmo quando sofre está feliz,

Pois tudo quanto lhe basta é muito pouco.

E se está feliz, transborda toda sua alegria

Sob a forma de pétalas de rosa a perfumar o mundo.

Nela não habita a malícia ou a maldade,

Pois ela só cogita em dar-se de coro inteiro,

E, qual inocente cordeiro,

Imola-se humildemente,

Buscando dessa forma minorar

As dores e os cruéis constrangimentos

Pelos quais o filho acaso há de passar.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Apenas para refletir

Apenas para refletir






Cerca de 350 funcionários do nosso Senado percebem salários maiores que os ministros do nosso Supremo Tribunal Federal, ou seja, acima de 24.500 reais. Está lá no Google, para quem quiser duvidar.

Já ouvi de diversos senadores da nossa República criticas por vezes virulentas a respeito dos salários dos nossos juízes em geral. Atribuo tais arroubos à falta de informação dos nossos parlamentares, ou, como diria Serejo, a ausência daquele remédio chamado simancol.

Se quisermos analisar o fenômeno salarial dos juízes em relação ao salário mínimo nacional concordo perfeitamente que eles são muito bem pagos. Entretanto acho que não deveríamos nivelar por baixo e, sim, por cima. Aliás, não sei se é pior a defasagem dos que percebem salário mínimo em relação aos juízes ou a defasagem dos primeiros em relação aos que recebem as bolsas da política sem botar um prego numa barra de sabão. Refiro-me ao desvio político que mudou o rumo do bolsa escola para o bolsa não faz nada.

Mas o pior não é isso não. Um dia desses fizeram comparações mais esdrúxulas ainda em relação ao nosso Senado. Por exemplo: um chefe de garagem percebe salário superior ao de um general do exército!

Na quinta-feira da quinzena anterior uma cadeia de televisão nos mostrou com a maior competência um documentário que deveria se incorporar ao orgulho de ser brasileiro. O navio-hospital da nossa Marinha de Guerra, Taumaturgo Montenegro, embrenhado nas selvas amazônicas serpeadas pelo rio Juruá a prestar todo tipo de assistência médica aos nossos indígenas e ribeirinhos outros, portando uma equipe de briosos oficiais, homens e mulheres, tenentes em sua maioria, médicos, dentistas e enfermeiros, capazes de emocionar com seu trabalho qualquer monge de pedra ou qualquer brasileiro verdadeiramente responsável.

Tive na ocasião - e fazia tempos que não sentia - verdadeiramente orgulho de ser brasileiro. Belas moças e guapos rapazes, formados nas melhores universidades nacionais, a desenvolver com seu trabalho autênticas lições de humildade e heroísmo.

Ah, Bial, você devia assistir esse programa, para deixar de chamar os bobocas do seu Big Brother de “nossos heróis”.

Por falar nisso, Bial, sabe quanto ganhar por mês um tenente da marinha daqueles? – Respondo: cerca de 4.000 reais. Ou seja, levariam cerca de trinta anos para receber a mesma quantia recebida por ou Dourado da vida.

Portanto, Bial, esses sim, são nossos verdadeiros heróis.

sábado, 24 de abril de 2010

A farda ou o professor

A farda ou o professor


Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)

Refiro-me ao artigo publicado em jornal local de autoria da professora Telma Araújo, em 16 de abril próximo passado. Ali a mestra traça um paralelo entre uma determinada escola que exige que o aluno só seja aceito na sala de aula trajando o fardamento completo e o fato de a mesma escola não haver preenchido ainda o quadro de professores, deixando os discípulos desocupados em muito momentos em que deveriam estar em sala de aula.

Pergunta a mestra: “o que é mais importante: o professor ou a farda?”

A pergunta induz logicamente a uma resposta, ou seja, mais importante seria a presença do professor.

Contudo, discordo, salvo melhor juízo, da dedução sugerida pela autora. A farda é uma questão de identidade social, sentimento de pertencimento a um grupo de trabalho ou estudo, de disciplina, e, farda incompleta não é farda. Se o regulamento do colégio prevê o uso de farda, que se cumpra o regulamento, em nome do bom e necessário processo formativo do alunado. A falta de professor é problema de outra natureza e que deve ser buscada a solução independentemente de outros fatores que envolvem os objetivos educacionais.

A propósito, um dia desses um jornal estampou a fotografia de um professor que além de mal trajado calçava sandálias conhecidas como japonesas. É de se perguntar, pode-se também exigir do aluno o uso do fardamento completo diante de um professor mal trajado e com apresentação tão lastimável?

Educação, a meu ver, é uma via de mão dupla e sua maior arma é o exemplo, como diria o mestre Paulo Freire “ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo”. Assim, tudo que se pretende cobrar do aluno deve ser cobrado com muito mais veemência do professor.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O amigo da onça

O amigo da onça








No Brasil até as tragédias às vezes são hilárias. Enfim, parece mesmo não ser um país sério, conforme o francês De Gaulle.

Há tempos o jurista e meu amigo de faculdade José Paulo Cavalcanti escreveu sobre um crime então inafiançável ocorrido nos confins do sertão Nordestino, consistente numa prisão em flagrante de um matuto que matara um tatu-peba para matar a própria fome. Transferido algemado para uma delegacia do Recife, há cerca de 600 km de casa, o pobre homem sequer assuntava sobre o que estava se passando na vida dele. Não fora Zé Paulinho assumir a causa do pobre diabo, até hoje deveria estar mofando pelas cadeias da vida.

Na ocasião, em competente artigo na revista Veja nosso jurista comentou: tivesse o pobre homem atirado no guarda que o prendeu, livrado o flagrante, iria responder o processo em liberdade, pois assim diz a Lei. O erro dele foi deixar o guarda vivo e se deixar prender pelo “assassinato” do tatu-peba.

Devo esclarecer que à época quem matava animal silvestre cometia crime inafiançável. A legislação evoluiu um pouco nesse sentido.

Mas o motivo dessa lera é outro.

Um matuto, em plena selva amazônica, foi atacado por uma onça. Teve a sorte de conseguir se defender e matou a onça. Preso, levou logo uma lição de moral do guarda florestal.

- O senhor compreende a gravidade do crime que cometeu?

- Eu? – indagou o pobre homem.

- Sim senhor, o senhor assassinou um animal silvestre que é protegido pela nossa legislação!

- Mas ‘seu’ guarda, era ela ou eu. A onça estava querendo me comer. Tive que matá-la pra me defender.

- Só que o senhor não podia ter matado a onça. Ela é protegida por Lei, portanto, o senhor vai ter que responder a um pesado processo e é bom ir contratando logo um bom advogado.

‘ - Advogado? Eu? – Ora, ‘seu’ guarda, não ganho nem para o leite das crianças, quanto mais pra contratar advogado.

Pobre homem, não sei o que fará para se safar. Tão longe, lá na distante Amazônia, não dá nem para eu pedir a Zé Paulo que lhe faça a caridade.

E o pior é que o tal guarda, ouvi dizer, é um autêntico amigo da onça.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O trem da minha vida

Era o trem da minha vida:


Corria devagarinho,

Era lindo o meu carrinho

Desse trem da minha vida.



Depois, porém, eu cresci

E o meu trem pequenino

Ficou pra outro menino

Que nem sequer conheci.



Mas a vida é mesmo assim,

Pois depois que a gente cresce

Nosso trem desaparece

Nas montanhas do sem fim.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Briga de bicudos

Briga de Bicudos

Já diziam os mais antigos que dois bicudos não se beijam.

Soube domingo passado, no gazebo de Gil/Carlinhos Pacheco, nos momentos dedicados a fofocas regadas a cerveja gelada, de desentendimento havido entre dois titãs do nosso Estado: o martinense François Silvestre e o ítalo-brasileiro, desembargador Sábato Barbosa D'Andréa.

François teria tirado uma brincadeira através de uma de suas crônicas com o referido amigo, o qual não gostara da lera.

Tomando conhecimento da insatisfação do doutor Sábato d’Andréa, François publicou nova crônica, com a coragem e a humildade que lhe é peculiar, pedindo desculpas pelo mal entendido e estendendo a mão amiga à reconciliação.

Conheço François bem mais do que conheço o desembargador, que há anos não tenho o prazer de conviver. E conheço o bastante para saber que François é um homem de coragem, de atitude e de destemor, daí acreditar na sinceridade da mão estendida. Mão da concórdia, mão de um homem de bem, estendida para outro homem de bem.

Portanto, espero que o doutor Sábato saiba bem valorizar a atitude de François, que não é de medo ou de bajulação, mas de respeito, lhaneza e cavalheirismo.

Enfim, amizade de dois grandes norte riograndenses que não pode se desgastar por conta de um mal entendido. Todos sairíamos perdendo, afinal.

Aliás, gostaria de estar presente durante a bebemoração do reencontro.

Parabéns François, como sempre, você é um exemplo para todos nós. E pare com suas brincadeiras de gosto duvidoso (RS).

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