ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

jsc-2@uol.com.br


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A crise do emprego doméstico

A crise do emprego doméstico




A crise não é apenas nesse setor, mas nos assemelhados. Pessoas próximas ao subemprego e que antigamente lutavam por uma ascensão digna passam agora a acomodar-se graças a famigerada Bolsa Família que, ao contrário daqueles que lutam para progredir, a prover as suas despesas com o “suor do rosto” acomodam-se em função do dinheiro fácil, ganho sem trabalhar. Igualzinho à música de Gonzagão: “Seu doutô uma esmola ao homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.

Pois é, muita gente passou a perder a vergonha, pois passou a considerar o Bolsa Família como um direito legítimo, já que a demagogia imperante, na caça de votos, passou a administrar o instituto sem nada exigir em troca (a não ser, naturalmente, a frequência mínima de setenta e cinco por cento às aulas e o voto).

Tenho ouvido vários depoimentos de pessoas que procuram uma empregada doméstica, mas a dificuldade em encontrá-la é que elas dizem não precisar de trabalho porque já recebem o “Bolsa Família”. E algumas ainda desaforam: “Hoje não preciso mais agüentar luxo de patroa”.

Na década de 1930 o grande pensador Adrian Rogers cunhou a seguinte e percuciente frase: “É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade.”

Com efeito, por cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber, como é o caso dos professores que pagam para trabalhar, pois o Imposto de Renda, o “IPREVINAT E IPE” carreiam mais de 30% dos custos que recebem.

E a professora Maria José Araújo ainda nos lembra nos dias de hoje que “O Governo não pode dar para alguém aquilo que não tira de outro alguém”. E posso acrescentar: Quando metade da população entende a idéia de que não precisa trabalhar, pois a outra metade irá sustentá-la, assim como quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então deixamos de ter um projeto de nação.

“É impossível multiplicar a riqueza, dividindo-a”.

Passada a farsa do carnaval, bom seria refletirmos um pouco sobre esses fenômenos.

A crise do emprego doméstico

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

CARNAVAL

CARNAVAL





A fome grassa,

o povo pula,

a troça passa

- riso de graça.

É o carnaval!



Lá vem a troça!

Muita cerveja.

- Não há quem possa!

É coisa nossa!

É carnaval.



Lá vem o "passo"!

Frevo "frevendo",

braço com braço,

muito embaraço...

- É carnaval!



- Povo de raça!

- Viva meu povo!

Muita cachaça.

- Viva a trapaça

do carnaval!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

"Deus" existe e é daqui

“Deus” existe e é daqui






Isso mesmo. Mas não me refiro ao Deus eterno, e sim a um “Deus” de carne e osso, nascido aqui, na terrinha e que foi colega de farra em Recife não apenas do grande Jahyr Navarro, mas de um ex-professor e amigo meu, o doutor-professor Bento Ferreira de Carvalho, que além de médico era naturalista e grande boêmio, falecido há pouco.

Pois foi do doutor Bento que recebi a primeira referência sobre Deus e, à época, a crônica dizia que o apelido de Ivanildo Correia Paiva era atribuído ao fato de ele, como o Pai Eterno, ter o dom de se encontrar em toda parte. Pelo menos em Recife da década de 1950. Isto é, não tinha festa ou comemoração em que “Deus” não se fizesse presente. Freqüentador assíduo de todas as boates promovidas pelos clubes tradicionais da cidade, tais como Internacional, Português, Sport, Náutico, Caxangá, Country Club e outros menos cotados como Atlético, além de outros menos cotados ainda, como as gafieiras de Camaragibe, Coque, Afogados ou Macaxeira, lá estava ele, “Deus”, irradiando sua eterna simpatia. Como ele adentrava nas tais festinhas? O doutor Jahyr nos deu um exemplo em sua crônica de segunda-feira, 1 de fevereiro.

Para atender aos apelos sociais da época, até “smoking” pedia emprestado aos colegas mais bafejados pela sorte. Contanto que não perdesse um baile de formatura. O único clube do qual era realmente sócio era o Clube Universitário, do qual justamente Bento, à época, era presidente. Não sei se “Deus” chegava a pagar alguma contribuição, mas que era sócio, isso era.

Um dia, exercendo eu a função de juiz classista, em Recife, presente à audiência defendendo um operário, lá estava o doutor Ivanildo. Figura humilde, simpática, de fácil convivência. De logo surgiu um acordo entre as partes, sugerido por ele próprio. Feitas as pazes entre os até então litigantes, “Deus” me chama à parte e se identifica.

- Doutor, gostaria de me apresentar. Sou muito amigo de um seu ex-professor, o doutor Bento Carvalho, que me falou sobre o senhor. Mas disse que o senhor já me conhecia, pelo menos de nome.

- Bem, doutor Ivanildo, creio que o professor Bento cometeu um engano, pois nunca ouvi falar do senhor.

- Ouviu, sim senhor, só que com outro nome.

- E o senhor tem outro nome, por acaso?

- Por acaso, tenho, sim senhor: meu nome é “Deus”.

- Ah, já ouvi falar muito do senhor mesmo.

E entre uma gargalhada e outra saímos para um reservado, onde saboreamos um cafezinho e passamos o final de tarde relatando estórias dos tempos estudantis.

Muitos anos depois, juiz do trabalho trabalhando aqui no Estado, um dia noto que uma figura está parada ao meu lado, enquanto eu estava fazendo uma delicada instrução. Viro-me, e não posso conter o riso. Os advogados presentes, acostumados com meu cenho normalmente sério, ficaram espantados. Levantei-me, apertei-lhe a mãos e apresentei-o aos demais presentes.

- Senhores, tenho a honra de apresentar-lhes, nada mais, nada menos, que o doutor “Deus”.

Todos da sala continuaram sem entender bulhufas.

“Deus” continuava o mesmo, com a magia da sua simpatia e da sua facilidade de cativar as pessoas.

Agora, para surpresa minha, eis que “Deus” foi colega de farra do meu amigo, o doutor Jahyr Navarro, que egoisticamente ainda não enfeixou suas saborosas crônicas em um livro, para deleite de todos nós.

- “Deus”, esteja onde estiver, me procure para matarmos um pouco da saudade daqueles idos.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ai de ti, Haiti... e de nós também






A tragédia do Haiti não para de crescer. Não sei se pura obra do destino da terra ou se a mãe natureza procurando se defender das agressões injustas de que está sendo vítima a séculos. A exploração do petróleo é só um dos pálidos exemplos que pode ser citado.

O certo é que quando ocorre fenômenos como esses que acabam de vitimar o já tão sofrido povo um fio de solidariedade perpassa por muitos que dos mais variados grupamentos humanos se apressam em tentar minimizar tão grande sofrimento. Às vezes por verdadeira solidariedade humana, como era o caso da doutora Zilda, às vezes por pura demagogia e caridade com o chapéu alheio.

O fenômeno é curioso, já que paralelamente, no dia a dia, parte da humanidade continua sendo chacinada, não por fenômenos naturais, mas pelo próprio lobo-homem.

Aqui mesmo no Brasil, só para dar um exemplo mais visível, estamos vendo diariamente nossa população sendo saqueada por alguns políticos, ou mesmo chacinada por inúmeros bandidos, diariamente, sem que nada possamos fazer pelo menos a curto prazo. E os fatos tornam-se tão corriqueiros que nem ligamos mais para os noticiários.

Hospitais que não prestam a devida assistência a uma população desvalida; policiamento inoperante por falta de apoio técnico; educação desleixada e da pior qualidade. São tantas as mazelas que não sabemos mais para quem apelar.

Assim, apesar da triste tragédia que envolveu o já tão sofrido povo haitiano, temos que nos lembrar também da triste tragédia que nos envolve no dia a dia, que se não ocorre, como lá, de uma só vez, como a explosão de uma bomba, sugere uma verdadeira sangria desatada, que diariamente se esvai, a olhos vistos, sem que possamos nada fazer para detê-la.

Os fenômenos entre nós se repete de uma maneira até irônica. As enchentes de São Paulo são resultados da própria incúria dos nossos governantes. As secas do Nordeste também. Problemas, inúmeros problemas, mas que justamente por serem problemas têm solução. Basta que tenhamos vergonha na cara e vontade política.

Ai de ti, Haiti... e de nós também