ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

jsc-2@uol.com.br


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Votos nulos e brancos


Segundo as estatísticas, desde 1996 não se registrava no Brasil tantos votos nulos e brancos como nesse segundo turno.

Não sou especialista na matéria, mas na qualidade de eleitor sinto-me no direito de opinar.

Em São Paulo capital, por exemplo, Serra perdeu. O próprio Fernando Henrique avaliou que o PSDB precisa se reciclar.

Por outro lado, Lula usou de todas as ferramentas a seu dispor, contanto que elegeu Haddad. Até Maluf deu sua prestimosa contribuição. Explicar, quem há-de?

Não é de se estranhar que no país do Mensalão ainda se vote no PT. Afinal, não se pode culpar o partido como um todo se suas lideranças, em algum tempo, ambicionaram se eternizar no poder.

Contudo, acho que o PT, tal como o PSDB de Fernando Henrique e segundo suas próprias palavras, também deve passar por uma séria reciclagem, sem que precise malufar. Nesse ponto estou com Erundina. É dose pra leão.

A revolução de 64 (muitos chamam de golpe) cometeu o grave erro de impedir que se formassem no país novas lideranças civis. Vinte anos depois, nossos líderes eram os mesmos de antanho. Isso foi muito ruim para o País em termos políticos. Praticamente tivemos uma geração perdida.

Pelo mesmo motivo, acho que Lula devia continuar vestindo o pijama e deixar que novas lideranças surjam. Senão estaremos repetindo um erro histórico.

Enfim, votos nulos e brancos, na minha leitura, significa falta de credibilidade política. É o povo desancantado com as lideranças atuais. Votar em quem e por que?



quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A "pena" de Levandowsky


Na terça-feira passada o ministro Levandowsky se insurgiu mais uma vez em relação ao trabalho do ministro Relator do Mensalão, dizendo que as penas que estavam sendo aplicadas ao grande Valério estavam muito pesadas. Portanto, pena das penas...

Realmente as penas que pesam sobre o homem que criou o valerioduto, quando somadas, atingem mais de quarenta anos. Mas como nossa legislação não permite a condenação por mais de trinta anos, e tendo em vista o provável bom comportamento do futuro apenado (isto é, se ele não se escafeder antes para o exterior), sairá da cadeia bem antes, a tempo de ainda praticar novas falcatruas.

Insisto que o ministro estaria bem mais confortável exercendo a função de advogado de defesa.

De mim, quanto mais os mensaleiros forem apenados, mas me recordo do quanto que essa roubalheira prejudicou nossos sistemas de saúde, educação e segurança, além do mau exemplo para as futuras gerações.

A sorte de Valério é não ter nascido na China. Fora chinês já teria sido condenado à pena capital – fuzilamento – com a devolução do dinheiro roubado ao povo que ainda estivesse em seu poder.

E a família ainda teria que indenizar o Estado pelas balas que foram desferidas contra o meliante.

Viva o Brasil.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O outono da vida



            Filósofos, poetas e alguns menos cotados tentam explicar a vida por etapas, chegando mesmo a querer compará-la às estações do ano. Assim, acostumam-nos a festejar, ao início da jornada, em primaveras. Mas chega a um ponto que começam a escrever sobre “o outono da vida”.
            Como não sou filósofo, mas sendo um aprendiz de poeta que gosta de filosofar por conta própria prefiro raciocinar que o outono da vida começa quando cada pessoa quer assumir essa estação.
            Conheço muitos jovens que já nascem velho, sem ideia, sem esperança, sem fé, sem espírito de luta. Já começam no fim. Estes, sim, vivem a vida inteira o outono da vida.
            Outros – podem até os menos avisados classificar-lhes de velhos – nascem e morrem jovens, não importa a idade cronológica que ostentem nem os percalços que a vida lhe ofereça. São pessoas que carregam em si sempre uma nova idéia, um novo recomeço, que jamais perdem a esperança e que se alimentam de fé. São os lutadores. Por mais que caiam, levantam-se e recomeçam como se nada conseguisse atrapalhar-lhe os passos. Quando morrem, só morrem materialmente, pois continuam vivos na memória dos que os conheceram. Caem de pé, como as grandes árvores, mas antes de cair jogam suas sementes para que a terra germine novas e frondosas árvores.
            Por isso mesmo não aceito que se proclame para os mais velhos, o rótulo de “outono da vida”. Depende de cada um que se assuma velho. Prefiro acreditar que a vida é uma eterna primavera, não importa a idade nem o tempo de vida. O tempo, como diria o poeta, “é eterno enquanto dura”.
            Viva, pois, a primavera da vida!
           

domingo, 14 de outubro de 2012

Educaç;ao: piada de mau gosto

Há uma piada antiga, segundo a qual dois grandes fazendeiros de Minas, ao avistarem o mar pela primeira vez desenvolveram o seguinte diálogo.


- Pois é, compadre, que marzão besta! Já pensou se nossas vacas produzissem uma quantidade dessas de leite?

- É verdade compadre. Mas... onde encontraríamos tanta água para misturar no leite produzido?

A piada é ingênua, mas lembra o programa atual do governo federal relativo à criação de um enxame de escolas técnicas para espalhar por todo o país.

O problema é: - e estamos com um quadro de professores preparados para assumir tantas vagas?

Daí, acho demagogia a criação de prédios escolares sem que tenhamos preparados os professores e muito menos tenhamos dado, há anos, condições para que o professorado atual esteja à altura das reais necessidades pedagógicas.

O mínimo que o governo deveria fazer era ter a humildade de estudar junto aos países que lograram êxito no desenvolvimento da educação para ver que “mágica” fizeram para transformar países como China e Coréia em países de educação em franca ascensão. Reativar, talvez, a verdadeira motivação que o Senador defenestrado do Ministério da Educação, Cristóvão Buarque, imaginou quando criou o programa bolsa-escola, depois deturpado pelo governo Lula visando fins eleitoreiros.



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Camilo Barreto

Nem me recordo direito qual foi o ano. Faz algum tempo. Acho que uns quatro lustros. Estava eu vindo de Mossoró para Natal. Quando chegamos próximos a Caiçara do Rio dos Ventos nosso carro foi interceptado pela polícia rodoviária. Chovia a cântaros.


- Boa tarde senhores.

- Boa tarde – respondemos todos.

- Os senhores estão indo para Natal?

- Sim senhor – respondeu o motorista.

- Pois infelizmente os senhores terão que retornar até Jucurutu e pegar a estrada que vai para Caicó.

- Mas senhor – interferi – será um desvio de mais de cem quilômetros!

- Nada posso fazer, meu senhor. A estrada aqui ficará interditada até que seja restaurada.

- Ora, mas e o senhor não está aqui conversando conosco? Como é que chegou até aqui?

- Por uma pequena passagem no asfalto que ainda não rompeu, amigo. E confesso que estou morrendo de medo. Mas eu tinha que enfrentar a travessia, por dever do meu ofício, para impedir que outros motoristas se arriscassem, pois o asfalto já foi comido em mais da metade pela enchente.

Inconformado, mas entendendo a situação, agradeci a atuação da autoridade. Algum tempo depois vim a saber que se tratava do doutor Camilo Barreto, superintendente local da Polícia Rodoviária Federal.

Passados mais alguns anos, fui apresentado por Anna Cascudo ao seu esposo.

- Muito prazer, Camilo Barreto.

Aproveitei a ocasião para relembrar-lhe o ocorrido há tempos.

Ele sorriu e me pediu desculpas pelo transtorno que havia causado a minha viagem.

A roda da vida girou, aproximei-me de Camilo e tivemos várias ocasiões sociais, cada uma mais agradável do que a outra.

Agora Camilo fez a grande viagem. Ficou me devendo uma taça de vinho que havíamos marcado para sorver qualquer dia desses.

Procuro avaliar a dor de Anna, dos filhos de Camilo e de sua querida enteada. Faz parte da vida de todos nós. O grande lenitivo é a saudade, que é a “vontade de viver de novo”.

De mim, que estava em Recife, só pude me despedir de Camilo em pensamento. Quanto ao vinho, agora só quando nos encontrarmos no andar superior.

Adeus Camilo. Os que lhe conheceram e que conviveram com você têm orgulho de haver participado da sua refinada companhia.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Marmelada à vista

Marmelada à vista




Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)



Deu na grande imprensa hoje, dia 9, que a CPI do Cachoeira encerrará seus trabalhos sem investigar os políticos. O acordo teria sido firmado entre o PMDB e o PT.

O objetivo da mais nova safadeza beneficiará, à primeira vista, o governador Perillo, mas o objetivo mesmo é livrar a cara dos políticos dos partidos acordantes.

Especula-se que a ideia surgiu a partir do depoimento do famoso doutor Pagot, que declarou que houve convite para que as empreiteiras “colaborassem” com a campanha da presidenta Dilma.

De mim, juro que me recuso a acreditar que Dilma tenha pessoalmente participado da irregularidade. Pela postura dela, até hoje, nada indica que ela, sim, soubesse de alguma coisa. Afinal, ela foi uma candidata que surgiu do nada, para cobrir uma emergência, que foi a defenestração de Zé do Mensalão. Dilma,, creio eu, não sabia de nada. É bem diferente da situação do seu criador.

A meu ver o acordo em vista não tem direcionamento em relação ao comportamento de Dilma, mas dos próprios partidos citados, cujo projeto de poder origina-se no próprio PT e que foi apoiado, posteriormente, por certos setores do PMDB.

Continuo, portanto apostando que Dilma, nesse sentido, é uma pessoa séria e que por obra do destino assumiu a presidência da República. Ela sim, uma técnica que nunca exerceu a política por profissão criminosa.

De qualquer sorte, os diabéticos que se cuidem. Marmelada à vista.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Ainda sobre o Mensalão


O julgamento ainda não terminou e pelo andar da carruagem, na prática Zé pegará no máximo prisão em regime semi-aberto ou coisa menor. Esse é o sistema e temos que nos submeter.

Entretanto o julgamento passará para a História do país, não tanto pelo resultado, mas por certos pronunciamentos e certos comportamentos de alguns ministros. Hoje em dia, graças aos recursos tecnológicos, podemos apreciar através da televisão não só os pronunciamentos, mas as expressões faciais e o cinismo ou a sinceridade de todos os presentes.

Quem quiser, por exemplo, pode tornar a assistir o grande ministro Celso de Melo dizer:

“A ordem jurídica, senhor Presidente, não pode permanecer indiferente a condutas de membros do Congresso Nacional ou de quaisquer outras autoridades da República – que hajam eventualmente incidido em censuráveis desvios éticos e reprováveis transgressões criminosas, no desempenho da elevada função de representação política do Povo Brasileiro.

Sabemos todos que o cidadão tem o direito de exigir que o Estado seja dirigido por administradores íntegros, por legisladores probos e por juizes incorruptíveis.

O direito ao governo honesto – nunca é demasiado reconhecê-lo – traduz uma prerrogativa insuprimível da cidadania.

A imputação, a qualquer membro do Congresso Nacional, de quantos que importem em transgressão ao decoro parlamentwr revela-se de fato que assume, perante o corpo de cidadãos, a maior gravidade, a exigir, por isso mesmo, por efeito de imposição ética emanada de um dos dogmas essenciais da República, a repulsa por parte do Estado, tanto mais se se considerar que o Parlamento recebeu, dos cidadãos, não só o poder de representação política e a competência pra legislar, mas também, o mandato para fiscalizar os órgãos e agentes dos demais Poderes.”

O voto do Ministro foi longo – merecidamente longo. Não dá para reproduzir tudo aqui. Pronunciamento digno de um Rui Barbosa, no mínimo.

Nada obstante, outro ministro acabou por defender na sessão seguinte a tese que Zé não sabia de nada e de nada participou em relação ao Mênsalão.

É ver para crer.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O selinho e a virgindade


Hebe inventou o selinho. Aliás, Hebe era dessas raras pessoas que vieram ao mundo para dar certo. Tudo o que se propôs a fazer, deu certo.

Até rolar no chão, em pleno palco, diante de milhões de telespectadores, o fez por mais de uma vez. Duvido que outra mulher da importância dela tenha tido a coragem, até hoje, de fazer o que ela fez diante das telas. O segredo: autenticidade, honestidade profissional e, por mais paradoxal que pareça, respeito ao seu público. Sim, porque ela dava ao público o supra-sumo da sua verdade como pessoa humana. Nela não havia falsidade nem fingimento. Sem pretender ser a dona da verdade, entretanto era a própria encarnação da verdade. Comediante, humorista, cantora, apresentadora. Um ícone no melhor sentido da palavra. Incluo aqui seus corajosos pronunciamentos políticos.

Não sei que nossa geração conheceu profissional mais autêntico do que Hebe. É verdade que não tinha lá essas culturas todas, entretanto me refiro à cultura formal, porque sua experiência de vida e inteligência superava qualquer curso de doutorado. Ela que foi a mais perfeita estudante da chamada universidade da vida.

Só senti uma coisa, com a mais ou menos esperada partida de Hebe. Gostaria de ter sabido da opinião dela a respeito dessa jovem brasileira que está pondo à venda o próprio selinho.

De mim, desconfio que nessa história tem pita.