ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

jsc-2@uol.com.br


segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Décio Holanda

Ultimamente tenho andado me perguntando qual será a idade ideal para morrer.


Cheguei a perguntar ao doutor Vicente Modesto, meu cardiologista, o que significa realmente o risco cirúrgico. Ele sorriu e me disse o seguinte: o ser humano vive sob risco de morte, desde o dia em que nasce. Quando chega a hora dele, não há escapatória, de modo que não adianta pensar sobre esse assunto. Enfim, quem sabe é Deus.

Sexta-feira passada, sem mais nem menos, o mano Décio partiu. Assim, de repente, dentro de casa, sem se despedir dos amigos.

Disse-me Dominguinhos que ele aparecera no início da semana lá pelo Azulão – a catedral da boemia – meio macambúzio.

Será que ele pressentiu alguma coisa?

Eu soube por Pegado que estava tudo combinado para no dia seguinte formarem uma caravana para visitar Roberto Furtado em Muriú. Portanto, pelo menos naquela sexta-feira não estava nos seus planos qualquer encontro com a sinistra.

Cerca de um mês atrás encontrei-me com Décio na casa de Clênio. Tomou duas doses de whisky e pediu licença para se retirar.

- Que é que há? Não está gostando do tira-gosto, diga logo – insultei.

- Nada disso – respondeu-me com aquela voz rouca característica. O problema é que hoje é sexta-feira e é dia de levar Gracinha para dançar na AABB. E ai de mim, se falhar!

Todos sorrimos, e lá se foi, banzeiro e bonachão o amigo, a quem estava vendo pela última vez.

O negócio dele, nos últimos tempos era nos relatar as aventuras do netinho.

Não parecia, mas Décio era homem de cultura geral bem acima da média. Homem sofrido na vida, embora tenha recebido dos pais excelente formação – e talvez por isso mesmo – não demonstrava o menor apego às coisas materiais. Um homem simples, mas que jamais foi um simplório. Desconheço quem não gostasse de sua companhia. Quando passava da terceira dose, se o ambiente era musical simplesmente pegava o microfone e começava a cantar. No início, afinado, lembrando, sem ser imitativo, Martinho da Vila, principalmente quando cantava Jaguatirica.

Certa feita (Gracinha estava presente), pedi-lhe para cantar aquele samba que começa “Já tive mulheres”. Olhou-me de cenho, fechou a cara e respondeu: esqueci da letra.

- Como esqueceu a letra? Ontem mesmo, no clube de Engenharia, você cantou.

- Já lhe disse que esqueci a letra e pronto!

Depois foi que me esclareceu, chamando-me num canto.

- Sílvio, jamais me peça para cantar essa música na frente de Gracinha, pois ela não gosta.

Cai na risada, mas o assunto ficou encerrado.

Minha amiga Gracinha, de uma coisa eu tenho certeza: vocês se amavam e foram felizes. Prefira, portanto, mandar a tristeza às favas e guardar na saudade, para sempre, o grande companheiro que tinha muita consciência do que você significava para ele.

oOo

Aproveito o ensejo para convidar os amigos a prestar uma homenagem ao mano Décio amanha, às 19 horas, na Catedral (missa de sétimo dia).

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Orlando Silva - o outro

Novidade para melhor. A presidenta Dilma criou uma banca para auxiliá-la no processo de escolha de nova ministra do STF, que irá substituir a ex-ministra Ellen Grecie.

São cinco candidatas, todas ligadas, direta ou indiretamente, ao governo. Claro que surgirão críticas.

Nada obstante, avalio que o novo critério adotado é bem melhor que o que vigorou até hoje. Escolha sem qualquer critério técnico de avaliação, puramente baseado na amizade ou na indicação de "amigos" do poder, que, só por coincidência poderia recair entre os melhores.

Com a nova postura presidencial, de qualquer sorte a Presidenta divide a responsabilidade da escolha com uma banca de técnicos, os quais deverão justificar os respectivos votos, contribuindo assim para uma nomeação menos impessoal em relação aos "amigos" do Poder.

Concordo com a maioria dos meus antigos colegas no sentido de que a escolha e as promoções do Poder Judiciário deveriam ser procedidas sem a interferência do Poder Executivo, pois somente assim diminuiria em muito a interferência do Legislativo em assunto que deveria pertencer exclusivamente ao Poder Judiciário. Mas enquanto essa mudança não vem, temos que reconhecer que a Presidenta demonstrou sensibilidade e reconhecimento da gravidade que deve envolver tão importante nomeação. Diga-se o que disser, considero um grande passo e uma demonstração de respeito ao Poder Judiciário.

A medida pode não ser a ideal, mas é a possível para o momento histórico.

A banca será constituída pelo ministro da Justiça, por um membro da Advocacia Geral da União e pelo secretário executivo da Casa Civil.

Realmente, uma atitude no mínimo elogiável.

...

Dedico o artigo de hoje ao amigo dr. Sávio Vieira, falecido na 4ª. Feira passada, mais uma vítima do uso de cigarros. Grande companheiro, nos considerávamos os "mais recentes amigos de infância". Que Deus o guarde na eterna glória.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Ministro - a nova escolha

Novidade para melhor. A presidenta Dilma criou uma banca para auxiliá-la no processo de escolha de nova ministra do STF, que irá substituir a ex-ministra Ellen Grecie.

São cinco candidatas, todas ligadas, direta ou indiretamente, ao governo. Claro que surgirão críticas.

Nada obstante, avalio que o novo critério adotado é bem melhor que o que vigorou até hoje. Escolha sem qualquer critério técnico de avaliação, puramente baseado na amizade ou na indicação de “amigos” do poder, que, só por coincidência poderia recair entre os melhores.

Com a nova postura presidencial, de qualquer sorte a Presidenta divide a responsabilidade da escolha com uma banca de técnicos, os quais deverão justificar os respectivos votos, contribuindo assim para uma nomeação menos impessoal em relação aos “amigos” do Poder.

Concordo com a maioria dos meus antigos colegas no sentido de que a escolha e as promoções do Poder Judiciário deveriam ser procedidas sem a interferência do Poder Executivo, pois somente assim diminuiria em muito a interferência do Legislativo em assunto que deveria pertencer exclusivamente ao Poder Judiciário. Mas enquanto essa mudança não vem, temos que reconhecer que a Presidenta demonstrou sensibilidade e reconhecimento da gravidade que deve envolver tão importante nomeação. Diga-se o que disser, considero um grande passo e uma demonstração de respeito ao Poder Judiciário.

A medida pode não ser a ideal, mas é a possível para o momento histórico.

A banca será constituída pelo ministro da Justiça, por um membro da Advocacia Geral da União e pelo secretário executivo da Casa Civil.

Realmente, uma atitude no mínimo elogiável.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Mais iuma vez, Dilma

Nela não votei. Mas poderei algum dia votar, quem sabe! Por exemplo, se ela mudar de partido e se continuar a me impressionar do jeito como vem fazendo, ou seja, assumir essa postura de estadista.


Pensando calmamente é preciso que se compreenda a situação da política interna que prende a Presidenta, de certa forma, às peias petistas. Afinal, foi decidido o apoio e a indicação que recebeu para estar na posição em que se encontra. Ela precisará de muita habilidade para assumir os princípios que defendeu em campanha, ser ela mesma, sem demonstrar ranços de ingratidão.

Contudo, mais cedo ou mais tarde, pelo andar da carruagem, terá que ocorrer a ruptura, caso ela continue com o comportamento atual.

Em primeiro lugar, não há como se negar a inteligência que lhe é inata, a capacidade administrativa e profissionalismo demonstrado ao longo dos anos que vem ocupando cargos públicos de gerenciamento e comando. Mas por isso mesmo foi louvável e mesmo corajosa a escolha de Lula para indicá-la como sua sucessora.

Sendo Dilma tão talentosa quanto Lula, em relação ao seu discurso de palanque, aliando-se esse talento ao que lhe é inato - o da fama de boa administradora - isso faria dela, de logo, uma das maiores Presidentas que o País já conheceu. E ainda está em tempo. Basta que ela faça um bom curso de oratória.

Mas voltando à realidade do jogo da política, o que eu acho mesmo é que Lula já escolheu Dilma contando com o retorno nos próximos quatro anos.

Porém continuo acreditando que Deus é brasileiro.