ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

jsc-2@uol.com.br


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

E a gente vai levando...

E a gente vai levando...




Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)



Não sou contra nem a favor do PT nem de partido político nenhum. No Brasil, todos têm suas mazelas e têm até mesmo virtudes. Depende do ângulo da visão.

O certo é que, como diz a composição popular, não sei se de Chico ou se do ex-ministro Gil, “A gente vai levando”,

Contudo, critica-se muito os poderes Legislativo e Executivo, mas está na hora – apesar da relativamente recente criação do Conselho Nacional de Justiça – de cuidar-se um pouco do Poder Judiciário. A começar pela cumeeira, isto é Supremo Tribunal Federal.

A meu ver, não tem desculpa para a proximidade da prescrição dos crimes provados e comprovados praticados pela turma do famoso mensalão. Afinal, crime de tão graves proporções, perpetrado contra os cofres públicos (leia-se, nós contribuintes) não poderia jamais incorrer nos favores prescribendos. Delúbio e Zé que me desculpem.

Certa feita levei pau num concurso público, lá na Bahia, porque aleguei que a prescrição nada mais era do que um calote legal. Fui reprovado, mas até hoje não me arrependo. A precrição tem como base razoável não deixar o acusado ao sabor dos caprichos do acusador. Até aí, tudo bem. Mas quando o acusador é o Estado, agindo em nome do dinheiro arrecadado ao povo, aí a prescrição cheira a favorecimento ao acusado.

A balela de alegar acúmulo de serviço em nada justifica o engavetamento, por anos a fio, de processo tão importante, a ponto de ser fulminado no mérito pelo exercício da prescrição. Não aceito, portanto, com a devida vênia, a falácia do Ministro Levandowsky.

O certo é que ‘a gente vai levando-wsky’.

Aos meus estimados leitores, os melhores votos de um feliz Natal, “apesar de você”...

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

João Faustino - culpado ou inocente?

Esteve preso “preventivamente”, meu amigo João Faustino, que terminou indo parar em um hospital para fazer um cateterismo. O coração do setentão aguentou o tranco.


O Ministério Público nasceu, na forma que conhecemos hoje, com a chamada Constituição Cidadã, de 1988. Não pode ser extinto ou ter atribuições repassadas à outra instituição. Seus membros (procuradores e promotores) têm liberdade para atuar segundo suas convicções, desde que com base na Lei.

Portanto, desde que arrimados na Lei, o Ministério Público tem ampla liberdade para atuar.

Se existe alguma falha ou açodamento legislativo, que se modifique a Constituição.

Não creio, como cidadão, que João Faustino tenha merecido a “via crucis” que lhe está sendo imposta. João, até hoje, foi uma das personalidades mais marcantes do seu tempo, no âmbito estadual. Exerceu ao longo de sua vida os mais variados cargos públicos, a partir de Secretário da Educação, deputado federal (quatro legislaturas), presidente da Comissão de Educação da Câmara Federal, membro do Conselho Federal de Educação e atualmente suplente de Senador da República.

Resido em Natal há mais de duas décadas e jamais vi nem ouvi ninguém fazer qualquer desabono a João Faustino.

Agora, João foi parar na prisão, sob acusações oriundas do Ministério Público. O veredicto, somente caberá à Justiça Estadual.

Mas... e se João for declarado ao final inocente, ou mesmo tenha, como Senador, acreditado na legitimidade de um contrato, que na realidade era fraudulento?

Como não me cabe emitir juízo de valor sobre o futuro julgamento, até porque nada conheço a respeito das acusações que lhe são imputadas, cabe-me, como cidadão comum, aguardar o julgamento e torcer pelo reconhecimento da inocência do meu amigo.

E se ele for inocentado? Quem vai arcar com os danos morais e materiais que atingiu meu amigo?

Esta é a pergunta que não quer calar.

Não vou torcer para que o Ministério Público tenha cometido tão grave engano, mas vou torcer pela inocência do meu amigo João. Mas se houve engano, devemos rever o conceito de liberdade de atuação e de convicção daquela instituição.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Essa é de Queiroz

Essa é de Queiroz




Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)



Trocadilho à parte, Eça de Queiroz, escritor e pensador português que morreu em 1900, em Paris, nunca deixou, ainda que passando tempos no estrangeiro, de escrever sobre sua terra natal, fixando via de regra a raiz dos seus pensamentos a partir da província de Évora, onde provavelmente nasceu.

Wellington Leiros enviou-me na semana passada um e-mail sobre o mesmo Eça, falando sobre crises políticas e destacando, já no século dezenove, as semelhanças da crise entre Portugal e Grécia.

O curioso, entretanto das críticas ecianas, é a atualidade do pensamento dele em relação aos dias que nossa geração tem atravessado ao longo dos anos. Até parece que Eça está vivendo entre nós e descrevendo figurões que desfilam no nosso noticiário nacional. Enfim, lá e cá, a história se repete e o teatro é o mesmo, mudam-se apenas os figurantes.

Notem, por exemplo, o pequeno trecho abaixo e me digam com o que parece:

“(...) na escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espetáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.”

E em outro trecho do seu trabalho:

“Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém são nulos a resolver crises. Não têm austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. (...) Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência”.

Bem, quem quiser saber mais procure ler o livro “Citações e Pensamentos de Eça de Queiroz”, isso se não quiser se contentar com o folhetim da história de Griselda.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Lupi, causa da não demissão

A presidenta Dilma já demitiu cinco ministros que tinham sido indicados por Lula e envolvidos em corrupção. Verdadeira saia justa, e que demonstrou muita habilidade política da afilhada. As razões das demissões, nem o próprio Lula pôde contestar.

Agora chegou a vez do falastrão Lupi, do Trabalho. Há razões de sobra para também demiti-lo, até porque o dito cujo fala demais. Contudo, dessa vez Dilma se fez de desentendida. Para muitos, uma incoerência. Para mim, sabedoria de estadista.

Ora, se já existe uma futura reforma ministerial, prevista para os primeiros dias do próximo ano; se já estamos praticamente adentrando dezembro, último ano de 2012, por que não aturar o “cowboy” do Ministério do Trabalho mais um pouco? Aliás, acho que ele confundiu BALA com BOLA.

Para mim a diferença entre Lula e Dilma é que esta é uma verdadeira estadista, na acepção da palavra. Lula não, apesar de ser inteligente a ponto de parecer um estadista. Contudo isso não denigre sua imagem, já que dentre outras coisas boas que fez, teve a capacidade de manter as principais políticas do antecessor e de fazer Dilma sua sucessora. Além do mais, na condição de político Lula teve a coragem e a competência de colocar o país no cenário mundial. Porém no fundo Lula não passa de um prisioneiro do próprio partido que ele criou, ajudado – dizem – por Goubery do Couto e Silva, o grande Maquiavel de 64.

Dilma, ao contrário, apesar dos laços afetivos que mantém com Lula, não tem demonstrado tanto apreço ao lulismo em si, pois prefere zelar mais pela administração dela e parece levar a sério a administração do país, apesar dos percalços de alguns ministros. E faz ela muito bem.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A greve da USP

Em pleno golpe de 64 eu estava casado de pouco, embora fosse estudante concluindo o curso de Filosofia. Depois fui estudar Direito e ao tempo que mudava de ano também ia ampliando a família e as responsabilidades para mantê-la.


Não me envolvi ou tomei qualquer partido. Minha situação era muito peculiar. Primeiro, mal tinha tempo para dormir, pois além dos estudos trabalhava duro nos demais expedientes. Além do mais, meu pai era militar, do Exército, o que tornava nossa situação ainda mais delicada, pois ao mesmo tempo em que ele estava prestes a ir para a reserva, paralelamente era diretor do Sindicato dos Professores de Pernambuco, órgão esse que deflagrou a primeira greve do Brasil pós-64.

Na época meus colegas de turma estavam divididos em suas opiniões políticas e eu tinha amigo dos dois lados. Hamilton Silva, por exemplo, era um grande (em todos os sentidos) comunista em vias de deixar o partido; ao mesmo tempo alunos brilhantes, como José Paulo Cavalcanti, Paulinho Henrique e outros cuja memória no momento me trai, faziam parte de uma juventude que não apoiava o golpe e que findaram por perder um ano de faculdade, por conta da repressão da época.

As greves, as reuniões, secretas ou não, as manifestações dentro e fora das faculdades sempre giram em torno de ideias.

Recordo-me que certa feita o então governador biônico Nilo Coelho (apoiado naturalmente pelos militares) visitou a Universidade Católica, por volta das 22 horas, a fim de conversar informalmente com um grupo de estudantes que estava organizando uma greve para o dia seguinte. Dispondo de informações privilegiadas, Nilo Coelho foi pessoalmente ponderar com as lideranças estudantis para que evitassem o confronto do dia seguinte, uma vez que a repressão seria para valer, podendo ocorrer, dentre outras coisas, prisões que certamente iriam prejudicar a conclusão do ano letivo.

Educadamente Nilo, ali mesmo, no pátio da Universidade, começou a conversar com os estudantes e um dos mais afoitos, o Hugo Comuna começou a destratar o Governador, que lhe passou um pito, dizendo que ali estava não na condição de colaborador das autoridades repressoras, mas zelando pelos estudantes de seu Estado. Nilo foi duro com Hugo, e Hugo botou o “rabo entre as pernas” e mudou o comportamento.

Embora eu não participasse, como já disse, diretamente de qualquer movimento, pró ou contra e como Nilo nos pegou na hora da saída do turno da noite participei daquele grupo informal de conversa.

Naqueles idos, os estudantes, certos ou errados, tinham por única bandeira o fim do golpe e a volta à democracia, além de tentar acabar com o acordo MEC-USAID.

Por isso estou estranhando que uma das bandeiras dos estudantes da USP seja pela liberação da maconha.

Será que estamos vivendo um excesso de democracia?

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Morrer de vergonha

Morrer de vergonha



            Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)

 

         O artigo de hoje vai ser longo, mas é o jeito. Tenho que falar sobre François Silvestre, Mano Décio Holanda e meu saudoso pai.

         François, como Décio, foi vítima de manobras (leia-se maracutaias) e maroteiros ou espertalhões. Mas François é parecido comigo. Reagiu e está aí, vivinho, contando a estória. Mas Décio, como meu pai, eram diferentes, diria até que ingênuos, em relação às maldades do mundo.

         Meu pai, no Recife do seu tempo, era considerado um dos melhores professores, porém um dia aderiu (era um dos diretores do Sindicato dos Professores) à primeira greve que foi deflagrada no Brasil após 64.

         Na condição de militar, que também o era, adiantou os fatos e organizou uma comissão de professores para fazer uma visita ao então comandante do IV Exército, general Justino Alves Bastos, e lá foi feita uma explanação mostrando as razões da greve. Moral da história: ninguém sofreu qualquer tipo de retaliação e a greve foi vitoriosa. Contudo, por conta disso meu pai findou perdendo o emprego no
Colégio Salesiano, e uma das alegações ridículas do diretor da época foi que ele era um professor superado. Logo ele!

         Pois bem, meu pai, diante de tantas humilhações ingressou na Justiça do Trabalho com um pedido de rescisão indireta, tendo o colégio o convidado para um acordo financeiramente vantajoso, mas o certo é que ele, a partir de então, passou a se c
onsiderar, ele mesmo, um professor superado, por mais que continuasse a ser respeitado pelos colegas e amado pelos ex-alunos. E mais, foi convidado (e aceitou) para lecionar na Universidade Católica e no Colégio Militar do Recife. Mas nada disso conseguiu afastar dele a pecha de "superado". Morreu poucos anos depois, e nunca mais soube manter o bom humor de outrora. Acho que morreu de vergonha.

         Peço encarecidamente aos meus poucos leitores que leiam a crônica de François Silvestre escrita em 30 de outubro passado. Nota-se, ali, que também o Mano Décio morreu de vergonha, graças aos maroteiros e sabidões da chamada sociedade civilizada.

 

 

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O destino de Lula

Não gosto de Lula, entretanto discordo daqueles que pretendem se deleitar com o atual estado de saúde do ex-presidente.

Desejar o mal, a quem quer que seja, jamais será considerado uma virtude.

Jamais simpatizei com a asquerosa silhueta de Kadaffi, entretanto me enojei com a maneira como o trataram nos seus últimos momentos de vida. Kadaffi tinha tudo para merecer uma morte por meio de uma condenação através de um órgão de Justiça, mas não morrer miseravelmente, como um cão vadio. Um ato desumano.

Por mais que sejam evidenciados defeitos no nosso ex-presidente e que dele se discorde, não é justo colocar em blogs notas se vangloriando de seu atual estado de saúde. Afinal, todos nós, mais cedo ou mais tarde partiremos, de um modo ou de outro. E quanto mais “importantes” tenham sido nossas vidas aqui na terra, seremos possivelmente mais severamente julgados. Contudo, cabe a Deus o julgamento de cada um de nós.

Por outro lado, por mais que se discorde dos atos ou atitudes de Lula, ninguém pode lhe tirar o mérito de chegar onde chegou e de governar nosso país por oito anos, colocando-nos enfim no cenário mundial, ele mesmo projetando-se como um líder, apesar dos escândalos internos que obnubilaram seu governo.

Lula não é nenhum santo, todo mundo sabe disso. Porém jamais será digno de ninguém escarnecer ou menosprezar o estado de saúde dele. Deus é quem sabe. Lula é um homem inteligente, racional e tem sensibilidade bastante para ele mesmo aquilatar os caminhos ou descaminhos de seus atos. Nenhum juiz é melhor do que a própria consciência de cada um de nós.

Por enquanto, o mínimo que se pode desejar é que Lula escape do terrível mal que o aflige e que Deus tome conta do resto.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Décio Holanda

Ultimamente tenho andado me perguntando qual será a idade ideal para morrer.


Cheguei a perguntar ao doutor Vicente Modesto, meu cardiologista, o que significa realmente o risco cirúrgico. Ele sorriu e me disse o seguinte: o ser humano vive sob risco de morte, desde o dia em que nasce. Quando chega a hora dele, não há escapatória, de modo que não adianta pensar sobre esse assunto. Enfim, quem sabe é Deus.

Sexta-feira passada, sem mais nem menos, o mano Décio partiu. Assim, de repente, dentro de casa, sem se despedir dos amigos.

Disse-me Dominguinhos que ele aparecera no início da semana lá pelo Azulão – a catedral da boemia – meio macambúzio.

Será que ele pressentiu alguma coisa?

Eu soube por Pegado que estava tudo combinado para no dia seguinte formarem uma caravana para visitar Roberto Furtado em Muriú. Portanto, pelo menos naquela sexta-feira não estava nos seus planos qualquer encontro com a sinistra.

Cerca de um mês atrás encontrei-me com Décio na casa de Clênio. Tomou duas doses de whisky e pediu licença para se retirar.

- Que é que há? Não está gostando do tira-gosto, diga logo – insultei.

- Nada disso – respondeu-me com aquela voz rouca característica. O problema é que hoje é sexta-feira e é dia de levar Gracinha para dançar na AABB. E ai de mim, se falhar!

Todos sorrimos, e lá se foi, banzeiro e bonachão o amigo, a quem estava vendo pela última vez.

O negócio dele, nos últimos tempos era nos relatar as aventuras do netinho.

Não parecia, mas Décio era homem de cultura geral bem acima da média. Homem sofrido na vida, embora tenha recebido dos pais excelente formação – e talvez por isso mesmo – não demonstrava o menor apego às coisas materiais. Um homem simples, mas que jamais foi um simplório. Desconheço quem não gostasse de sua companhia. Quando passava da terceira dose, se o ambiente era musical simplesmente pegava o microfone e começava a cantar. No início, afinado, lembrando, sem ser imitativo, Martinho da Vila, principalmente quando cantava Jaguatirica.

Certa feita (Gracinha estava presente), pedi-lhe para cantar aquele samba que começa “Já tive mulheres”. Olhou-me de cenho, fechou a cara e respondeu: esqueci da letra.

- Como esqueceu a letra? Ontem mesmo, no clube de Engenharia, você cantou.

- Já lhe disse que esqueci a letra e pronto!

Depois foi que me esclareceu, chamando-me num canto.

- Sílvio, jamais me peça para cantar essa música na frente de Gracinha, pois ela não gosta.

Cai na risada, mas o assunto ficou encerrado.

Minha amiga Gracinha, de uma coisa eu tenho certeza: vocês se amavam e foram felizes. Prefira, portanto, mandar a tristeza às favas e guardar na saudade, para sempre, o grande companheiro que tinha muita consciência do que você significava para ele.

oOo

Aproveito o ensejo para convidar os amigos a prestar uma homenagem ao mano Décio amanha, às 19 horas, na Catedral (missa de sétimo dia).

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Orlando Silva - o outro

Novidade para melhor. A presidenta Dilma criou uma banca para auxiliá-la no processo de escolha de nova ministra do STF, que irá substituir a ex-ministra Ellen Grecie.

São cinco candidatas, todas ligadas, direta ou indiretamente, ao governo. Claro que surgirão críticas.

Nada obstante, avalio que o novo critério adotado é bem melhor que o que vigorou até hoje. Escolha sem qualquer critério técnico de avaliação, puramente baseado na amizade ou na indicação de "amigos" do poder, que, só por coincidência poderia recair entre os melhores.

Com a nova postura presidencial, de qualquer sorte a Presidenta divide a responsabilidade da escolha com uma banca de técnicos, os quais deverão justificar os respectivos votos, contribuindo assim para uma nomeação menos impessoal em relação aos "amigos" do Poder.

Concordo com a maioria dos meus antigos colegas no sentido de que a escolha e as promoções do Poder Judiciário deveriam ser procedidas sem a interferência do Poder Executivo, pois somente assim diminuiria em muito a interferência do Legislativo em assunto que deveria pertencer exclusivamente ao Poder Judiciário. Mas enquanto essa mudança não vem, temos que reconhecer que a Presidenta demonstrou sensibilidade e reconhecimento da gravidade que deve envolver tão importante nomeação. Diga-se o que disser, considero um grande passo e uma demonstração de respeito ao Poder Judiciário.

A medida pode não ser a ideal, mas é a possível para o momento histórico.

A banca será constituída pelo ministro da Justiça, por um membro da Advocacia Geral da União e pelo secretário executivo da Casa Civil.

Realmente, uma atitude no mínimo elogiável.

...

Dedico o artigo de hoje ao amigo dr. Sávio Vieira, falecido na 4ª. Feira passada, mais uma vítima do uso de cigarros. Grande companheiro, nos considerávamos os "mais recentes amigos de infância". Que Deus o guarde na eterna glória.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Ministro - a nova escolha

Novidade para melhor. A presidenta Dilma criou uma banca para auxiliá-la no processo de escolha de nova ministra do STF, que irá substituir a ex-ministra Ellen Grecie.

São cinco candidatas, todas ligadas, direta ou indiretamente, ao governo. Claro que surgirão críticas.

Nada obstante, avalio que o novo critério adotado é bem melhor que o que vigorou até hoje. Escolha sem qualquer critério técnico de avaliação, puramente baseado na amizade ou na indicação de “amigos” do poder, que, só por coincidência poderia recair entre os melhores.

Com a nova postura presidencial, de qualquer sorte a Presidenta divide a responsabilidade da escolha com uma banca de técnicos, os quais deverão justificar os respectivos votos, contribuindo assim para uma nomeação menos impessoal em relação aos “amigos” do Poder.

Concordo com a maioria dos meus antigos colegas no sentido de que a escolha e as promoções do Poder Judiciário deveriam ser procedidas sem a interferência do Poder Executivo, pois somente assim diminuiria em muito a interferência do Legislativo em assunto que deveria pertencer exclusivamente ao Poder Judiciário. Mas enquanto essa mudança não vem, temos que reconhecer que a Presidenta demonstrou sensibilidade e reconhecimento da gravidade que deve envolver tão importante nomeação. Diga-se o que disser, considero um grande passo e uma demonstração de respeito ao Poder Judiciário.

A medida pode não ser a ideal, mas é a possível para o momento histórico.

A banca será constituída pelo ministro da Justiça, por um membro da Advocacia Geral da União e pelo secretário executivo da Casa Civil.

Realmente, uma atitude no mínimo elogiável.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Mais iuma vez, Dilma

Nela não votei. Mas poderei algum dia votar, quem sabe! Por exemplo, se ela mudar de partido e se continuar a me impressionar do jeito como vem fazendo, ou seja, assumir essa postura de estadista.


Pensando calmamente é preciso que se compreenda a situação da política interna que prende a Presidenta, de certa forma, às peias petistas. Afinal, foi decidido o apoio e a indicação que recebeu para estar na posição em que se encontra. Ela precisará de muita habilidade para assumir os princípios que defendeu em campanha, ser ela mesma, sem demonstrar ranços de ingratidão.

Contudo, mais cedo ou mais tarde, pelo andar da carruagem, terá que ocorrer a ruptura, caso ela continue com o comportamento atual.

Em primeiro lugar, não há como se negar a inteligência que lhe é inata, a capacidade administrativa e profissionalismo demonstrado ao longo dos anos que vem ocupando cargos públicos de gerenciamento e comando. Mas por isso mesmo foi louvável e mesmo corajosa a escolha de Lula para indicá-la como sua sucessora.

Sendo Dilma tão talentosa quanto Lula, em relação ao seu discurso de palanque, aliando-se esse talento ao que lhe é inato - o da fama de boa administradora - isso faria dela, de logo, uma das maiores Presidentas que o País já conheceu. E ainda está em tempo. Basta que ela faça um bom curso de oratória.

Mas voltando à realidade do jogo da política, o que eu acho mesmo é que Lula já escolheu Dilma contando com o retorno nos próximos quatro anos.

Porém continuo acreditando que Deus é brasileiro.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Um prêmio Nobel para o Brasil

          O primeiro brasileiro a ser cogitado para o honroso prêmio, por duas indicações infrutíferas, foi o grande marechal Cândido Rondon, patrono da arma de Comunicação do Exército brasileiro.

         Depois ocorreram umas poucas outras indicações, como por exemplo, Celso Furtado, Dom Hélder Câmara, e outras mais, igualmente infrutíferas.

 Enfim, o Brasil jamais recebeu a honraria.

         Se acaso houvesse o Nobel do Futebol, sem dúvida alguma já a teríamos obtido. Ao menos o rei Pelé ou mesmo Garrincha, quem sabe!

         Pelo menos no ramo da literatura creio que também de há muito já merecemos a tal distinção. Mas, nada.

       Se eu tivesse alguma influência nessa avaliação sugeriria que os organizadores do Prêmio criassem uma nova modalidade: a da corrupção.

         Aí, sim, duvido que alguém nos passasse para trás nessa matéria.

         Por falar nisso, foi interessante a manifestação de certos setores do povo a respeito da matéria. Esses movimentos, quando não são manipulados pelos políticos, começam tímidos, minguados, como as fontes que fazem nascer os grandes rios. Aí, dependendo da sua autenticidade, começam a engrossar as fileiras e vão se avolumando.

         Alguém se lembra do padre Payton?

         E as diretas já?

         E os estudantes que deram início ao movimento que derrubou Collor?

         Pois é, o atual movimento se irá adiante, não sei. Só sei que ele passou a existir e numa data muito simbólica: o nosso Sete de Setembro.

         Tomara que vingue.

         E se são realmente boas as intenções da Presidente Dilma, ela que se cuide, pois já existem boatos de franca sabotagem contra seu governo.

         E se realmente são boas as intenções dela, embora nela não tenha votado, terá meu apoio e meu aplauso, e, de resto, dos homens de bem desse país.


domingo, 4 de setembro de 2011

O novo engodo oficial


Logo de início achei excelente a notícia. Mas depois vi o malogro da situação.

Acho que Lula não tinha ainda se mudado para Sumpaulo, quando o grande senador João Calmon pregava a revolução brasileira através da educação. Ninguém lhe deu ouvidos. A essa época, também, entre nós, vivia outro grande educador, o norte-riograndense Djalma Maranhão, que ousava dizer que era possível se alfabetizar e pôs em prática o “De pé no chão também se aprende a ler”.

Nos últimos anos pretendeu um senador, pernambucano de origem, seguir os passos de Calmon. Logo o apelidaram de "senador de uma nota só", pois praticamente só falava de educação. Resultado, Ministro da Educação de Lula, apresentou uma tese que era boa para o povo mas ruim de voto (bolsa escola). Moral da história: foi demitido pelo telefone.

Agora o governo Dilma acaba de anunciar a criação de mais de duzentas escolas técnicas e bem umas dez universidades por esses brasis afora.

Passado meu entusiasmo, perguntei-me?

- E onde estão os professores e professoras que irão povoar esses belos prédios?

E mais: - Há quantos anos deixamos de formar professores de qualidade?

- Há quantos anos nossos professores deixaram de usar paletó e gravata e passaram a usar sandálias japonesas na sala de aula?

Ninguém se iluda, o governo federal continua jogando para a platéia. Estamos entrando em nova geração perdida em termos de educação. Prédios e equipamentos nada acrescentam se não tiver a real “valorização do professor”que pressupõe: uma formação inicial sólida e formação continuada comprometidas com a aprendizagem dos alunos; condições de trabalho; e sálarios dignos que atraiam os jovens para fazerem carreira no magistério. O que vem sendo proclamado pelo Ministério necessita tornar-se realidade!

Se é bem verdade que o aluno deve ser o centro do sistema, entretanto o sistema jamais funcionará sem a participação de bons professores.

A manobra é muito antiga. Poucos se interessam por obras de saneamento básico, porque elas não aparecem nas vésperas das eleições. Melhor construir jardins e caiar muros.

No meu tempo de menino ser professor era um orgulho, para o professor e para a família dele. Hoje em dia, ser professor dá pena, para não dizer coisa pior.

Sem querer discutir o assunto, mas tendo que falar sobre ele, ultimamente uma promotora aqui do nosso Estado, fazendo referência à merenda escolar dos alunos declarou que, caso sobre merenda, os professores estão proibidos dela se servirem. “Que se jogue a merenda no lixo” – declarou. Não é assim! As professoras necessitam trabalhar três expedientes para manter-se e caso exista uma Lei Federal que necessita ser cumprida que a LEI contemple os professores!

O problema é que investir na melhoria do ensino propriamente dito é como trabalho de saneamento. Só aparece o resultado muitas eleições depois. Quem colhe os frutos são as novas gerações, e não os políticos atuais.

Mas de volta ao assunto e usando meu direito de contribuinte lesado, prefiro que a merenda escolar que sobre se destine aos pobres professores. Pelo menos isso.





terça-feira, 30 de agosto de 2011

O livro de Gustavo

Não pude comparecer ao lançamento. Mas fui presenteado, mesmo assim, com o trabalho de Gustavo, pelo seu pai, meu amigo Clênio Freire.

Conheci Gustavo ele mal saído da adolescência. Extrovertido, bem humorado e bom estudante. Primeiro graduou-se em Biologia; depois, em Direito. Somente isso não significaria qualquer sinal de competência. A não ser o seu próprio currículo, já tão rico, apesar dos poucos anos de estrada. Talento, competência, bom humor e tenacidade. Acho que são palavras próximas de uma conceituação do meu jovem amigo.

Em menos de duas décadas, ele consegue um grande feito, ou seja, publica um livro da importância do Bioética e Direito.

Muito antes de nós alguém já disse que não existe nada de novo sob o Sol. Verdade inconteste. Mas existem sob o Sol, sempre, novas idéias, novas visões científicas, novos conceitos, novas descobertas e novas invenções.

Pois Gustavo conseguiu inovar sob um assunto antigo, mas que somente nas décadas atuais os cientistas sociais começam a produzir resultados de investigações, a influir na construção de novas posturas e em novos rumos para a humanidade. Sob pena, aliás, de destruirmos o planeta Terra antes mesmo da vontade Divina.

Hoje em dia minha ignorância a respeito das coisas avultou-se. Sobrou-me apenas a experiência acumulada do dia a dia. Mesmo assim sou capaz de avaliar a importância dessa produção, registrando a coragem e competência de Gustavo, o que projeta seu nome para o futuro.

O livro, de fato, contém apenas 129 páginas que conseguem chamar atenção não apenas dos estudiosos, mas de qualquer ser pensante pretendente a preservar o que resta do nosso planeta, pela reflexão muito óbvia, isto é, chama a atenção espetaculosa de todos os estragos que as guerras (principalmente as modernas) têm causado à humanidade, os mediatos e imediatos que elevam o número de mortes e doenças aparentes ou não. Entretanto a pobreza filosófica do mundo moderno obnubilam nosso pensamento em relação a fenômenos letais que estão destruindo o próprio mundo, paulatinamente e em termos globais.

Creio que essa seja a maior importância do destaque que Gustavo pretendeu desfraldar em defesa da vida (bio), servindo-se para tanto das ferramentas essenciais para a proteção da própria vida em geral, ou seja, destacando a ética e as leis, quer sejam elas ligadas ao direito natural, ou ao direito dos homens.

É de chamar atenção, a meu ver, o número de aviões cada vez crescente ao movimentar os ares do planeta, diuturnamente, provocando verdadeiro deslocamento dos ventos. Chama atenção, também, a imensa quantia de petróleo que é retirada das profundezas da terra, ao longo de mais de um século, sem que nada se reponha de onde tanto se explora. O que falar da destruição da fauna e da flora em geral, em nome de um progresso materialista irresponsável?

Enfim, são tantos os temas e subtemas que emergem de momentos reflexivos e pesquisas científicas que urge registros desenvolvidos por outros Gustavos, com a visão humanística e competência capazes de nos alertar para os inimagináveis crimes contra a humanidade que estamos a cometer o cada dia, em nome de um progresso inexistente e enganoso.

 

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Histórias (quase) engraçadas

Mal entrado na adolescência li uma crônica, salvo engano, do grande Rubem Braga, na qual seu personagem recebera um dinheiro a mais do governo.


Honesto (naquele tempo havia dessas manias), o beneficiário recorreu à repartição que lhe pagou a mais e dirigiu-se ao caixa, para providenciar a devida devoluão do excessivo pagamento.

De saída, foi logo recebendo um "delicado" não, do caixa.

'- Impossível, amigo, nossos caixas são somente pagadores. Para recolher dinheiro para o erário dirija-se à repartição tal.

Além de honesto, o bom homem teve a paciência de no dia seguinte enfrentar outro ônibus (a estória se passava no Rio de Janeiro) e tentou a nova repartição.

- É verdade, amigo, aqui apenas recolhemos pagamentos de impostos. Mas não é seu caso. Você está apenas querendo devolver dinheiro que lhe pagamos a mais. Portanto, não se trata dee impostos. Nada podemos fazer.

Já chateado, nosso herói tentou falar fcom o chefe da tal repartição. Ao final de três horas de espera foi atendido nos seguintes termos.

- Diga logo o que deseja, amigo. Já está na hora do almoo e tenho que sair.

- Bem, senhor diretor, estou apenas querendo deevolver um dinheiro...

- Devolver? Um dinheiro? Ora, amigo, aqui não recebemos devolução, a não ser recolhimento de impostos devidos. Portanto, o caixa lhe deu a informação correta.

Indignado o homem que já estava com a manhã perdida perdeu também a paciência, mas para não ir para casa com peso na consciência simlesmente pegou o envolope com o dinheiro da devolução e lançou-o à mesa do diretor.

- Pois o senhor faça desse dinheiro o que quiser. Quem perde é o Estado, mas ganho eu a minha paz de espírito.

E se foi.

Bem, a história é mais ou menos assim. Lembrei-me dela porque hoje acordei recordando uma parecida que se passou comigo.

Há uns vinte anos, assumi a presidência da então Junta de conciliação e Julgamento de Macau.

Naqueles idos, pelo menos por aqui, nem se falava no tal computador. As audiências e os atos procesiais em geral (inclusive as sentenças) andavam a passo de cágado, pois até então a única grande revolução que houvera na Justsiça fora a descoberta da máquina de datilografia, em sustituição às atas feitas à mão.

Assim, uma sentença, por mais parecida que fosse com a outra, tinha que ser totalmente datilografada, já que não havia os modernos recursos de adicionar trechos já computadorizados.

Nosso Tribunal ainda estava em vais de instalação e muito havia a se fazer e em que gastar.

Assim, adquiri eu mesmo um computador e introduzi-o na Junta. Um sucesso. A produção deu um salto.

Àquela altura estávamos criando no Tribunal uma diretoria de informática, uma grande novidade da época. Mas tudo incipiente e nossos computadores não passavam de dois ou très espalhados pela administração central. a implantação de novos computadores só começaria a ocorrer no próximo ano.

Bem, meu computador deu um problema e trouxe-o para Natal, para que a diretoria de informática desse um jeito.

Quinze dias depois recebi a notícia de que náo havia verba para consertar meu compujtjador. e como o comprutador era meu, o problema era meu. A pouca verba que havia destinava-se ao conserto de computadores de prorpriedade do governo. A não ser que eu fizesse uma doação do objeto para a repartição.

- Sem problema, disse eu. Só uso o computador mesmo apra o trabalho, na Junta. Vocês podem preparar o termo de doação, contanto que me mandem o bicho consertado, pois as sentenças estão começando a ficar atrasadas, pois tivermos que voltar à datilografia.

- Tudo bem, assim que o termo estiver preparado o senhor assina e em seguida providenciamos o conserto.

Cerca de um mês depois perdi a paciencia e telefonei.

- Amigo, o computador está pronto? Já faz um mês e nem o termo de doação vocês prepararam para eu assinar.

- Ah, doutor, tem uma novidade. O termo de doação não pode ser feito, pois seu computador é de segunda mão e a repartição não aceita esse tipo de doação.

Como na crônica de Rubem, deixei o computador por lá mesmo, enferrujando, e tive que esperar mais de um ano para que a Junta de Macau voltasse a funcionar com um computador. Que não o meu.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

CPI - por que não?

Embora já passado na casca do alho, confesso-me um ingênuo em relação às malícias da Política e dos políticos.


Pela lógica, tem razão os partidos de oposição quando pretendem instalar a CPI da corrupção.

Por outro lado, não entendo por que o governo federal (leia-se presidentA Dilma) insiste para que os partidos da base do governo procurem obstruir o desejo oposicionista.

Quanto aos oposicionistas pode-se alegar que só desejam a autopromoção, o brilho dos holofotes da mídia em geral. Pode até ser, mas não tem lógica.

Acho que a base governamental em parte tem razão. Mas as denúncias de corrupção são tão notáveis que melhor seria enfrentar uma CPI (já que a maioria dos membros serão mesmo da base do governo), de acordo com o antigo lema do "quem não deve não teme".

E nesse vai e vem nós, humildes eleitores, ficamos cada vez mais confusos. E o nosso rico dinheiro se esvai pelos ralos das infindáveis discussões e tempo perdido.

Creio que cabia ao governo Dilma, com as devidas cautelas, permitir a instalação da tal CPI. Acho que ganharíamos todos, inclusive o governo. A não ser que as maracutaias sejam tantas e tão profundas a ponto de se tornarem verdadeiros segredos de Estado.

Se realmente existem segredos inconfessáveis, tudo indica que o maior deles é necessariamente o do ex Palocci. Afinal há muito sua cara de pau foi desmascarada e ele sempre esteve na linha de frente dos apoios às candidaturas maiores. E, como não nasceu em berço de ouro fica difícil de explicar tanto sucesso financeiro no plano pessoal.

Quanto aos demais ministros demitidos por mais que possam, por acaso, ter se aproveitado do erário público, serão considerados sempre uns santos diante do grande mago Palocci.

De qualquer forma está fora do comentário acima o ministro Jobim, pois até agora nada se pode alegar da conduta dele, a não ser seu tamanho e grossura.



domingo, 7 de agosto de 2011

Jobim perdeui o tom

Perdeu o tom e o emprego. Falou demais.

Ninguém tem dúvida que o Jobim Nelson tem mente brilhante e currículo invejável. Mas o que lhe sobra em competência falta em modéstia. E mais, diz o que pensa, mas não pensa no que diz.

Com toda inteligência que Deus lhe deu, em matéria de reserva mental é um gigante de pés de barro. Acho que deve sofrer fortes dores no fígado.

Corajoso, capaz de segurar cobras imensas, grandalhão e grandiloquente, de repente começou a pronunciar frases dúbias e que começaram a afrontar o governo da ex-guerrilheira.

Talvez Dilma não tenha de logo demitido Jobim quando desnecessariamente fez uma dúbia alusão a idiotas e que tinha votado em José Serra, não por faltar a ela coragem, mas por exercer prudência em relação aos militares, por motivos óbvios.

Mas Jobim, talvez se considerando intocável pelo mesmo motivo, continuou sua verborragia extra-prudencial e ironizou com duas ministras de uma só vez. Foi demais.

Àquela altura, Dilma, que não tem nada de ingênua, já tinha produzido as sondagens necessárias e com toda razão fez o que tinha que fazer.

Jobim foi ministro do STF por indicação de Fernando Henrique. Jamais negou sua admiração por aquele ex-presidente. Lula sabia disso. Até aí, tudo bem. Nesse ponto uma nomeação de Lula que confiou na ombridade do amigo do rival político. E Dilma, em respeito a indicação do ex-presidente Lula manteve, talvez nem tanto por vontade própria dela, Jobim no novo ministério.

Considerando que no Brasil o voto é secreto, somente se justifica a desnecessária confissão de voto pelo ministro da defesa a uma provocação, uma afronta à presidente Dilma.

Ao contrário do outro Tom, que jamais desafinou Jobim tentou subir na serra, daí ter sido defenestrado.

Quanto à nomeação do novo ministro, aí é assunto para outra lera.

sábado, 30 de julho de 2011

Amigos da mesma laia

Acho que amizade sincera só pode dar certo quando os amigos são, como se diz no vulgo, da mesma laia.


Se não possuem interesses e valores em comum não são amigos. Aliás, nem os mesmos gostos. Isso não significa que um seja melhor ou pior do que o outro, apenas são diferentes e tem o seu modo de ser que é singular em relação aos interesses ou gostos pessoais.

Muita gente se gaba de possuir um milhão de amigos. Acho que quem tem um milhão de amigos não tem nenhum. Amigos mesmo, contam-se nos dedos da mão. E mesmo assim, é difícil tê-los dez. Outra coisa: fazer amizade é fácil, difícil é conservá-las!

Muitos confundem amizade com coleguismo, com parceiros de jogo ou de bar, ou de boemia. Ledo engano. São amizades passageiras, pois a verdadeira amizade tem que ter a duração da eternidade.

Existe a possibilidade de amigos não pertencerem à mesma classe social, ou as mesmas afinidades. Mas isso é coisa rara. Do contrário, os irmãos de sangue seriam necessariamente amigos entre si.

Todavia, não se busque investir numa amizade apenas por alguém pertencer à mesma classe social . O fundamental de uma amizade sincera é que não seja baseada em interesses menores ou em coisas materiais. Pode-se ter bons relacionamentos comerciais ou profissionais sem que o relacionamento se baseie numa amizade e sim, apenas, nos interesses comuns.

Outro detalhe infelizmente importante: o fato de você dedicar sinceramente uma amizade a determinada pessoa não significa que haja por parte dela uma reciprocidade. E você não tem que se magoar com isso, pois o fato de você amar alguém não significa que terá que ser correspondido. Limite-se pois a amar sem ser amado.

Finalmente, se você quer saber que é realmente amigo de outra pessoa, basta que pergunte a você mesmo: seria eu capaz de dar a vida por Fulano (ou Fulana)?

Se sua consciência responder a isso afirmativamente, então considere-se amigo verdadeiro. Caso contrário, desista, pois vocês não são da mesma laia.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

O biombo - Será?

Recebi pela internet (Bené Chaves) um interessante texto (O Biombo) do grande ator e escritor Carlos Verezza, a quem muito admiro pelo profissionalismo e autenticidade.

Contudo, prefiro discordar, quando ele diz que enganou-se quando acreditou que a presidentA Dilma esboçasse uma maior independência em relação à triste figura (sic).

Segundo o mesmo, Dilma não passa de um terceiro mandato de Lula, com todos os poderes cooptados. E cita como exemplo o parecer do procurador geral Roberto Gurgel, inocentando o grande Palocci etc. etc.

Prefiro discordar e prefiro acreditar que Dilma, apesar dos naturais compromissos que realmente possa haver firmado com o ex, tem personalidade bastante para discordar, pelo menos no essencial, aos rumos que Lula daria a certos entraves administrativos especialmente os mais diretamente ligados à corrupção. Afinal, praticamente de uma única lingada ela demitiu 16 suspeitos (porque ainda não julgados pela Justiça) ladrões do Ministério dos Transportes. Acho recado bastante para o resto da quadrilha que há anos vem sangrando as economias do povo brasileiro.

Aliás, é bom lembrar que nunca antes nesse país se viu tanta firmeza numa canetada só.

E, diga-se de passagem, Dilma ainda está no início da caminhada do seu mandato. Agora, pretender que ela de pronto rompesse com o chefe que a fez chegar ao Poder, aí era querer demais.

Acho melhor, por todos os títulos, discordarmos um pouco do Verezza e dar um crédito, embora que com as devidas reservas, à presidente que mal completou o primeiro semestre de um governo de quatro anos.

E se ela continuar assim, claro que findará tendo que “trair” o chefe em prol do povo brasileiro. Plaza aos céus.

sábado, 23 de julho de 2011

O biombo - Será?

Recebi pela internet (Bené Chaves) um interessante texto (O Biombo) do grande ator e escritor Carlos Verezza, a quem muito admiro pelo profissionalismo e autenticidade.


Contudo, prefiro discordar quando ele diz que se enganou quando acreditou que a presidentA (sic) Dilma esboçasse uma maior independência em relação à triste figura.

Segundo o mesmo Dilma não passa de um terceiro mandato de Lula, com todos os poderes cooptados. E cita como exemplo o parecer do Procurador Geral Roberto Gurgel, inocentando o grande Palocci, dentre outras coisas.

Prefiro discordar e prefiro acreditar que Dilma, apesar dos naturais compromissos que realmente possa haver firmado com o ex, tem personalidade bastante para discordar pelo menos no essencial, aos rumos que Lula daria a certos entraves administrativos especialmente os mais diretamente ligados à corrupção. Afinal, praticamente de uma única canetada ela demitiu quase vinte suspeitos (ainda não julgados pela Justiça), ladrões do Ministério dos Transportes. Acho recado bastante necessário para o resto da quadrilha que há anos vem sangrando as economias do povo brasileiro.

Aliás, é bom lembrar que nunca antes nesse país se viu tanta firmeza numa canetada só.

E, diga-se de passagem, Dilma ainda está no início da caminhada do seu mandato. Agora, pretender que ela de pronto rompesse com o chefe que a fez chegar ao Poder, aí era querer demais.

Acho melhor, por todos os títulos, discordarmos um pouco do Verezza e dar um crédito, embora que com as devidas reservas, à Presidente que mal completou o primeiro semestre de um governo de quatro anos.

E se ela continuar assim, claro que findará tendo que “trair” o chefe em prol do povo brasileiro. Plaza aos céus!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O país dos extremos

O pais dos extrremos

Na minha opinião somos o país dos extremos. Exemplos vários.

Comecemos pela proibição do trabalho infantil. Recentemente foi descoberto um autêntico trabalho escravo no Estado do Piauí. Como de resto existem vários pelo Brasil a fora que retiram as crianças de viverem potencialmente a infância e os seus direitos sociais, como o acesso à educação de qualidade.

Outrossim, é meritória a campanha que tenta a todo custo livrar nosso país da prostituição infantil, tanto ao longo das rodovias como nos nossos grandes centros urbanos. Porém, no duro, ninguém consegue acabar com os flanelinhas, desocupados e fumadores de crack. Estou me referindo às crianças na rua.

De há muito penso sobre o fenômeno e me atrevo a dar uma opinião. É muito fácil (ou menos problemático) localizar o trabalho escravo ou mesmo promover blitz espetaculosas. Via de regra previamente acompanhadas pelos chamados “furos” jornalísticos. Mas... o que fazer com as crianças desocupadas e que continuam fora da escola? Bem, aí vem a parte difícil e complexa. Muito fácil aplicar os rigores da lei e as fiscalizações espetaculosas. O que é mais difícil (o lado propriamente social), aí, deixa-se para depois...

Outra balela: o Brasil sem fome. Ou seja, aplica-se o dinheiro do contribuinte no falacioso fome zero, mas nada de se ensinar o povo a produzir, simultaneamente. A educação continua sendo criminosamente descuidada, pois um povo educado desenvolveria com mais eficiência seu senso crítico, o que vale dizer, melhor conscientização na hora da escolha dos governantes. Ou seja, povo de barriga aparentemente cheia é povo aparentemente feliz, para alegria de maus políticos.

Não tenho autoridade técnica para falar de estatísticas. Mas tenho pra mim que nossa Nação gasta muito mais com segurança do que com educação. Os resultados começam a florescer e vai dar trabalho para inverter a estatística. Hoje em dia pagamos à polícia, em geral, bem melhor do que aos nossos professores. Não que os policiais não mereçam. Mas os resultados do seu trabalho são imediatistas. A polícia prende, a Justiça solta e a bandidagem continua a florescer, ao passo que professores mal pagos e mal formados vão se marginalizando ou migrando para profissões que lhe asseguram uma qualidade de vida mais digna. Antigamente, ser professor no Brasil era uma honra e dava status. Hoje em dia, dá pena. Afinal, investir em educação é o mesmo que investir em saneamento. Trabalho de custo elevado e de resultados de futuro relativamente longínquo em relação às próximas eleições. Bem mais produtivo as obras de fachada.

Só para exemplificar: quantas escolas poderiam ser construídas com o dinheiro gasto nessa tal arena das dunas que demoliu nosso poema de concreto?

Acho que hoje amanheci de mal humor.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Promover para remover?

Há muitos anos trabalhei numa instituição que quando desejava se livrar de algum membro de certa importância que estava criando alguma dificuldade local, mas que não podia demiti-lo utilizava uma estratégia: a promoção do “servidor”.


- Parabéns, fulano, você foi promovido para (se estava no Rio Grande do Sul era deslocado para Amazonas, por exemplo, ou mesmo para algum país distante da Ásia). Você foi promovido a diretor (e lá surgia um cargo de certa importância). Contanto que a comunidade local pudesse se ver livre do “incômodo”, nem que fosse por algum tempo.

Havia até festa de despedida. No fundo, os altos escalões bem sabiam do que se tratava.

A presidentA Dilma é sucessora do presidente Lula. Legítima cria da política dele, em nível nacional. Mas embora continue adotando as grandes metas do governo anterior, ela tem revelado com uma relativa autonomia. Sabe-se das dificuldades que tem sentido em não criar embaraços para seu antecessor e no varejo bem que tem atendido aos seus apelos.

Mas de repente Dilma externa um elogio desabrido e justo a alguns feitos do ex-presidente Fernando Henrique. Se tal fato tivesse ocorrido por causa do falecimento dele, poderia ser interpretado como um elogio protocolar, mero exercício de diplomacia política. Mas não, Fernando está vivo e bulindo, como se diz no popular. Compreendo como sendo o reconhecimento de uma base deixada para que políticas sociais pudessem ter continuidade... políticas de ESTADO e não de GOVERNO.

Sei não, mas tenho pra mim que Lula não gostou da atitude de Dilma. Afinal, sempre que pode, ele faz críticas negativas ao governo anterior, pois, como sempre proclama... “nunca dantes, na história desse país....”

Portanto, nossa presidentA está adquirindo cada vez mais luz própria, no que alias, faz muito bem.

Quanto a Lula, acaba de ser nomeado para um alto cargo na África...

Semana memorável. Morre Itamar Franco, que em apenas dois anos de mandato devolveu a auto-estima do brasileiro com o sucesso do plano Real.

Semana significativa. A presidentA Dilma, pessoalmente, demite quatro figurões do Ministério dos Transportes, inclusive o famoso Pagot, tão denunciado pelo senador Mário Couto, do Pará, desde o início do segundo governo Lula. Parabéns presidentA.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O anjo de Hamburgo

Acabo de receber um e-mail da minha amiga Albanisa Cysne, paribana radicada de há muito no Ceará, dando conta de uma das nossas maiores heroínas brasileiras de todos os tempos.

Refiro-me a dona Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, falecida em 2008. Casada com o grande poeta e diplomata Guimarães Rosa, enviuvou em 1967, e ainda mulher formosa preferiu permanecer viúva.

Apesar de uma mulher de conduta irreprochável, dona Aracy sempre foi uma inconformada com as injustiças da vida. Assim rebelou-se desde cedo com as recomendações da ditadura Vargas que restringiam, ao tempo da guerra, vistos para autorizar a vinda de judeus para o Brasil. Funcionária concursada do Itamarati, trabalhando em Hamburgo, Alemanha, ainda solteira, desobedeceu às ordens da diplomacia brasileira e furtivamente misturava entre as papeladas que o cônsul brasileiro tinha que assinar a autorização para que judeus se deslocassem legalmente da Alemanha para o nosso país. Aliás, faça-se justiça, seu futuro esposo que também trabalhava no mesmo consulado sabia de suas manobras, mas não a denunciava.

Por sua corajosa atitude em favor do povo judeu Aracy recebeu expressiva homenagem de Israel, e tem seu nome emplacado no famoso Jardim dos Justos, naquele país.

Mais tarde, por ocasião do regime militar que vigorou entre nós a partir de 1964, aqui já residindo, deu guarida a inúmeros brasileiros que foram perseguidos pela revolução, dentre eles o famoso compositor Geraldo Vandré.

Portanto, dona Aracy enfrentou com sua coragem Hitler, Getúlio Vargas e Costa e Silva.

Não sei se no Brasil existe ou já foi feita alguma homenagem a essa valorosa mulher. Desconheço.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Adeus, Machadão

Está chegando a hora. O “Poema de concreto” será reduzido a escombro. Vai morrer na flor da idade – apenas 39 anos, enquanto o Coliseu de Roma resiste há mais de dois mil anos.


O Machadão, ao tempo da sua construção, foi inaugurado sob o nome de Marechal Castelo Branco. O ano era 1979.

O apelido “Poema de concreto” foi batizado pelo saudoso ex-governador Cortez Pereira, tendo sido ratificado pelo grande comentarista futebolístico João Saldanha, quando de sua primeira visita ao estádio.

Realmente o projeto do meu amigo, arquiteto Moacir Gomes, pela delicadeza de suas formas, lembra um poema. Tenho certeza que comigo concordaria o poeta (e arquiteto) Joaquim Cardozo.

É justo que a memória se recorde que o então jovem arquiteto Daniel Holanda (filho do grande construtor Joaquim Victor de Holanda) também colaborou, embora ainda jovem e iniciando sua carreira. E mais, que o cálculo que garantiu aquela beleza arquitetônica foi de outro grande, dos calculistas José Pereira e Hélio Varela de Albuquerque, este, exímio violonista.

Em 1989 o Brasil começava a buscar novos caminhos políticos. Aproveitou-se a opinião para prestar uma justa homenagem ao grande esportista João Cláudio de Vasconcelos Machado, que emprestou seu nome ao estádio que de logo foi apelidado, e até hoje, de Machadão.

Inicialmente o Estádio foi projeto para 42.000 espectadores, embora seu recorde de público tenha alcançado posteriormente mais de 50.000. Posteriormente, com o advento do descaso dos responsáveis por sua conservação, a capacidade de público ficou reduzida praticamente à metade. Agora, nem isso. Restará apenas a memória de tão bela obra, em função de uma futura Copa do Mundo que aqui abrigará um ou dois jogos daquele campeonato.

Extinto o Machadão, surgirá diante da paga de milhões e milhões de reais do contribuinte uma tal de Arena das Dunas.

Sinceramente, não sei se valerá à pena. Mas que valeu a pena a obra de Moacyr e José Pereira, ah, disso não tenhamos dúvida.

Adeus, Machadão. Desculpe o que fizeram com você.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O poder e o papel da imprensa

Refiro-me à imprensa séria, descomprometida. Imprensa sem cor partidária. Imprensa que só funciona nos regimes democráticos, sem mordaça. Imprensa capaz de derrubar chefes poderosos de Estado, como Nixon, nos Estados Unidos. Imprensa como a Folha de São Paulo, capaz de derrubar um ministro poderoso como Palocci.

Não cabe à imprensa provar ou julgar os atos de quem quer que seja. A prova cabe a quem acusa; o julgamento cabe à Justiça. A imprensa apenas divulga o que chegou ao seu conhecimento. Nem todas as informações que chegam ao conhecimento dela são verdadeiras. Mas, como disse, não é outro seu papel, senão o de divulgar.

Em relação a Palocci, ninguém é capaz de duvidar da sua capacidade, da sua competência. Afinal, não é todo mundo que consegue em apenas dois anos multiplicar o próprio patrimônio por vinte!

Por outro lado, apesar da crise política que envolveu o governo Dilma, que lhe deu todo crédito; apesar do parecer do Procurador Geral do Estado, que não acatou as denúncias, por falta de fundamentação técnica, Palocci não pode e não deve jactar-se de um remoto procedimento ético de sua parte. Ele pode até ser inocentado futuramente pela Justiça. Esta nem sempre julga de acordo com a verdade absoluta. Tecnicamente é possível inocentar-se o culpado e condenar-se um inocente.

Justiça mesmo, afinal de contas, reside na consciência de cada um.

Cristo foi condenado à morte, mas todos temos consciência da sua inocência.

Barrabás foi inocentado dos seus crimes, contudo todos sabem dos crimes por ele praticado.

Assim, o maior juiz de Palocci é a consciência dele. Isto é, se ele tem alguma.

O resto é bla-blá-blá.

E mais, que não se julgue Palocci apenas por sua aparência. A julgar pelas aparências, pessoalmente acho que ele é um cara de pau. Mas a ninguém é dado julgar ninguém apenas pelas aparências.

Agora, gostei mesmo foi da nova Ministra. Muito bonita!

domingo, 5 de junho de 2011

Cuidado, os tempos são outros

Cuidado, os tempos são outros


Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)



Outro dia, em Recife, fui dar uma volta no antigo Mercado da Madalena.

De logo, avistei no fim do corredor um amigo da época de escola, que não encontrava há séculos.

- Oswaldo, sua bichona, ah quanto tempo!

Ao estender a mão para cumprimentar o amigo, meu braço foi algemado por um guarda municipal.

- O senhor está preso! – sentenciou.

Aí, Oswaldo interveio.

- Preso nada, seu guarda, o cidadão aqui é meu amigo de infância.

- Mas está preso. Bichona é pejorativo, portanto, é homofobia. O correto seria chamá-lo de grande homossexual.

- Mas que é isso, “seu” guarda? O amigo aqui é o Marcão Quatro-olhos, que era seu apelido quando estudávamos na escola primária.

- Pois o senhor também está preso (e foi logo colocando a outra ponta da algema no braço de Oswaldo).

- E o que foi que eu fiz?

- O senhor praticou bullying, pois desde que seu amigo era criança o destratava com apelido tão odioso.

Nessa mesma hora, por coincidência, vai chegando perto de nós o “Jairzinho Pé-de-pato”, com dois quilos de alcatra na mão.

Usando de prudência, chamei-o apenas pelo nome de Jairzinho, que nos reconhecendo e nos vendo naquela situação, duplamente algemados, foi logo exclamando.

- Que porra é essa negão? O que é que você e o Oswaldo aprontaram?

E aí não teve jeito, fomos os três parar na delegacia, e hoje estamos respondendo processo por HOMOFOBIA, BUILLYIING e RACISMO.

Essa historinha não passa de uma ficção. Mas tenha cuidado. Hoje em dia é um perigo encontrar amigos de infância!

domingo, 29 de maio de 2011

Também não gostei, presidentA

Aos poucos a presidentA Dilma vai imprimindo sua própria marca, sua maneira de ser. Quanto ao estilo, é mais positivo, a meu ver, que a escorregadia maneira do presidente a quem substitui se posicionar, embora haja um certo continuísmo no governo.

A presidentA foi muito clara ao se pronunciar sobre o indigitado e tão badalado kit gay. “Vi e não gostei”. Curta e grossa, como certas coisas devem ser rebatidas.

Ninguém de bom senso está necessariamente contra as preferências de cada um, sejam sexuais ou de qualquer outra natureza. Até porque preferência sexual é uma coisa muito pessoal, depende da natureza de cada um e ninguém pode ir contra a forma de ser de cada um/a. Agora, uma coisa é certa: é importante respeitar o entendimento, valores e escolhas do vizinho e vice-versa. Ninguém pode pretender que eu contrarie a minha natureza. Compreendo as preferências sexuais de cada um e pronto. Quero que respeitem as minhas.

Por outro lado, chega a ser ridículo o puxassaquismo do marqueteiro que a título de enfatizar sua “campanha” chega a comentar a profundidade de penetração da língua da garota lésbica, ao beijar a coleguinha da hipotética escola. Acho que Dilma também não gostou do infeliz comentário do ridículo senhor.

Gostei muito da sinceridade da presidentA em relação à questão. Contudo, gostaria de saber quem vai bancar as despesas que já foram feitas em relação à produção do referido kit. Sem falar na baboseira da cartilha do “Nós pode”. São milhões de reais que se esvaem do bolso do já combalido contribuinte brasileiro.

E afinal de contas, quando o Brasil vai realmente enfrentar a problemática da educação do seu povo?

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Palocci e a professora Amanda

- O que eles têm em comum?

- Ambos nasceram no Brasil. Só isso.

De resto, são bem diferentes.

Palocci, homem inteligente, de rara competência, é capaz de sozinho ganhar vinte milhões de reais em um ano de eleições. Depois, volta ao núcleo do poder, assume um ministério ainda mais influente que o do tempo do escândalo da Caixa Econômica Federal e volta a ser a grande eminência parda da Nação. Blindado, não tem satisfação a dar da mágica que o transformou num dos milionários do país, a ninguém.

Já a professorinha, não.

Refiro-me à norte riograndense Amanda Gurgel, que notabilizou-se na internet graças ao seu brilhante e patético depoimento na nossa Assembléia Legislativa.

Amanda começou seu depoimento apresentando o contracheque aos atônitos deputados. Apenas R$ 930,00 por mês.

“Com esse salário os senhores não conseguiriam nem pagar a indumentária que usam para estar aqui” – começou entrando logo de sola, como se diz no jargão do futebol.

O destino da professora é incerto e não sabido. Afinal, como se diz na gíria, ela se queimou, concluindo seu depoimento desaforando a classe política em geral : - “Eu falaria aos governantes para deixarem de usar essa máscara de pessoas sérias, honestas, e que tratassem os educadores como eles merecem”.

Amanda é mais uma dessas heroínas anônimas, que honram a terra em que nasceram, mas que está fadada ao fracasso econômico-financeiro. Deus queira que não venha a ser demitida. Em tempos de golpe seria taxada de perigosa comunista. Como agora o próprio comunismo só existe em Cuba e em Macau, acho que irão taxá-la de doida. Deus queira que permaneça no emprego, com o mísero salário de R$ 930,00. Bem menos que um motorista de ônibus. Não que o motorista de ônibus não mereça o que ganha. Afinal de contas, ele conduz vidas humanas para o trabalho e para a escola. O problema é que Amanda também conduz vidas humanas para a vida a fora, como a maioria das educadoras que se empenham em fornecer elementos para que os alunos se apropriem das ferramentas necessárias para circularem em uma sociedade letrada. Deveria ser bem mais valorizada, portanto.

No primeiro governo de Lula eu admirava muito o Palocci. Mas agora admiro muitíssimo mais a Amanda em nome de quem saúdo as professoras desse Estado. Palocci, este da forma como enriqueceu não merece mais a admiração de ninguém.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Agora nós pode

Certa vez meu estimado e hoje finado professor Bento Ferreira de Carvalho descreveu, na informalidade, o então INPS como uma organização esculhambada, enquanto o jogo do bicho como uma esculhambação organizada. Explicou-me a tese e convenceu-me. Só que quando repassei a piada ao meu saudoso pai ele retrucou-me: como piada está boa, mas lembre-se de que a palavra esculhambação é uma palavra chula, não deve ser usada em certos ambientes etc.

Na semana passada, em função do artigo que hoje escrevo, tive a curiosidade de consultar dois dicionários, e lá está a palavra esculhambação como uma palavra normal (um deles apenas destaca que se trata de um regionalismo e que significa um estado de desordem, de anarquia, de bagunça, de avacalhação, dentre outros significados. Portanto, meu pai hoje estaria superado.

Superado fiquei eu também, ou melhor, estarrecido, ao ouvir e depois ler uma reportagem segundo a qual o Ministério da Educação e Cultura - MEC defende que aluno não precisa seguir algumas regras da gramática para falar de forma correta.

Como exemplo, cita o livro publicado às expensas daquela instituição intitulado “Por uma vida melhor”, aprovado para o ensino da Língua Portuguesa destinado a Educação de Jovens e Adultos -EJA de escolas públicas.

A título de ilustração, no citado livro, às folhas 14 agora permite a frase: “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”.

A orientação aos alunos continua na página seguinte: “Mas eu posso falar ‘os livro’?”. E a resposta dos autores: “Claro que pode. Mas, com uma ressalva, dependendo da situação a pessoa corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico”.

(I)moral da estória: pelo que estou entendendo, se um professor de Português, agora, fizer alguma observação ao aluno no sentido de que está falando errado ele poderá vir a ser processado por dano moral, já que está sendo linguisticamente preconceituoso.

Mas agora, a confusão: o MEC informou ainda que a norma culta da língua portuguesa será sempre a exigida nas provas e avaliações. Agora, durma-se com um barulho desses.

O grande filósofo nacional Chacrinha tinha razão quando dizia: “Eu vim para confundir e não para explicar”.

Portanto, agora sim, estamos todos confundidos. Falar errado, agora pooooode. Escrever errado, também pooooode. Mas se escrever errado na avaliação (vestibular, por exemplo, aí leva pau).

É ou não e uma esculhambação?

Enfim, matemática num sou bam, bam, bam naum, mas português eu agaranto.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Dia das mães

- Quem é ela? Como é ela?

- Pouco importa.

Sendo velha, é jovem;

Sendo jovem, é adulta;

Sendo feia, é bela;

Sendo bela, é sóbria;

Sendo rica, se faz pobre;

Sendo pobre, é tão rica,

Posto que vale por todos os tesouros conhecidos.

Mesmo quando sofre, está feliz,

Pois todo quanto lhe basta é muito pouco.

E se está feliz, transborda toda sua alegria

Sob a forma de pétalas de rosa a perfumar o mundo.

Nela não habita a malícia, ou a maldade,

Pois ela só cogita em dar-se, de corpo inteiro,

E, qual inocente cordeiro,

Imola-se humildemente,

Buscando dessa forma minorar

As dores e os cruéis constrangimentos

Pelos quais o filho acaso há de passar.





(Sílvio Caldas, órfão)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A volta do boêmio

Não faço referência ao famoso samba-canção eternizado na voz do velho Nelson Gonçalves.

Também aviso de logo que me considero um boêmio, pois curto a boêmia. Refiro-me à boa boêmia, a que pratico com meus amigos e que meu saudoso pai me ensinou. São pessoas de espírito alegre, que gostam de música, poesia e de jogar (boa) conversa fora. Pode ser em um bar ou em uma reunião domingueira, de preferência em lugares sossegados.

Mas a palavra tem também seu lado pouco lisonjeiro, ligando por vezes seu sentido a pessoas irresponsáveis, hedonistas, que saem pela vida a fora e que por vezes não tendo pátria nem profissão digna, praticam atos à margem das boas normas de conduta, quer por instinto de sobrevivência, quer por egoísmo, em favor próprio e/ou do grupo a que pertence.

O cristianismo nos ensina que devemos dar a outra face, perdoar até nossos próprios inimigos ou devedores. Entretanto, Cristo expulsou com veemência os vendilhões do templo.

Deduzo que podemos e devemos perdoar aqueles que erram, mas jamais estimulá-los a repetir erros antigos. E mais, é preciso que certos erros, além de reprovados, sejam penalizados pela sociedade. Por exemplo, se alguém alcançou o patrimônio público, o mínimo que se espera é que o patrimônio seja ressarcido.

Em 2.005 Delúbio confessou, apesar do eufemismo (dinheiro não contabilizado) que praticou atos financeiros pouco recomendáveis. O processo hiberna no Supremo até hoje (tomara que não prescreva). Mas ainda que prescreva, a prescrição não transforma o ato praticado num ato de moral. Apenas ele deixa praticamente de existir no mundo jurídico, mas não se apaga na memória da sociedade.

Por enquanto, pelo menos, não se pode nem falar em perdão, expresso ou tácito, já que a ação praticada pelo boêmio Delúbio ainda acha-se “sub-judice”.

Mas nosso herói pediu seu retorno ao partido político a que pertencia, de forma “emocionante”, isto é, aquele mesmo cinismo que expôs ao usar o eufemismo “dinheiro não contabilizado”.

O partido aceitou Delúbio de volta. Ao menos não esperou pelo julgamento do Supremo. O presidente do partido, alegando motivo de doença, renunciou ao resto do mandato.

Ou seja, continua tudo como antes, no quartel de Abrantes.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Um requiem para Requião

Perdoem o infame trocadilho. Mas faz sentido.




Não posso nem negar que tenho lá minhas simpatias pelo Senador Requião. Homem inteligente e de uma sinceridade pra mais da conta. Mas dessa vez ele, como se diz na gíria, pisou na bola.



Exageros à parte, dá até para entender que o jornalista também exagerou na pergunta, não por sua improcedência, mas possivelmente pelo momento impróprio da abordagem.



Contudo, não importa. Por mais que o jornalista tenha sido infeliz na abordagem, a pergunta não foi de modo algum ofensiva. Muito mais exagerou o interlocutor, arrebatando abruptamente o equipamento de trabalho do profissional (o gravador) e apagando a gravação até ali produzida.



O homem público tem que estar psicologicamente preparado para investidas dos profissionais da comunicação e quando estas agridem por acaso a intimidade do interlocutor cabe a ele usar os meios legais de revide. Essa é a regra do jogo. Aliás, nesse terreno Carlos Lacerda era um mestre. Jamais deixou de revidar à altura qualquer agressão verbal. Cito-o por dever da narrativa, não que admirasse propriamente suas qualidades.



A pergunta do jornalista incomodou sim. Mas muito mais nos incomoda essa legislação absurda que premia indiscriminadamente ex-governadores com polpudas “aposentadorias” num país que tanto maltrata aqueles que devem realmente receber justas aposentadorias, conquistada ao longo de anos a fio de trabalho. O quadro é realmente acintoso e não é apenas o senador em questão que recebe a absurdeza.



Muito cômoda a posição do senador Sarney, presidente da mesma instituição, a querer tapar o sol com uma peneira, tentando minimizar ridiculamente o comportamento do colega. O fato foi realmente lamentável, num país que se quer democrático, e o próprio Requião procurou se explicar. Bem melhor, no frigir dos ovos, sua ida à tribuna para se explicar que a saída insossa do seu colega.



Sou a favor sim, da liberdade de imprensa. Não por ser também uma das vítimas de atitudes veladas de censura que por vezes sofri, mas por que entendo não se puder falar em verdadeira democracia se não houver liberdade de fato para que se possa externar os próprio pensamentos. Que se valorize o debate e que se apliquem leis capazes de coibir os excessos.



Portanto, se por acaso se excedeu o jornalista (não estou afirmando), muito mais se excedeu o Requião. Um réquiem para ele.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Uma vida ao violão

Conheço Henrique Annes desde que ele tinha apenas 12 anos de idade, fins da década de cinquenta. Na ocasião a ele fomos apresentados pelo grande violonista já falecido Wilson Sandes responsável por apresentar a criança ao instrumento que abraçaria pela vida a fora.


De lá para cá Henrique só evoluiu, no tamanho e no talento. Aos quatorze anos já era uma violonista de chamar atenção, e assim que pode ingressou no conservatório pernambucano de música, sem abandonar, entretanto, a roda de amigos boêmios que tocavam por pura diversão. Uma criança paparicada pelos adultos, tendo em vista além dos clássicos, a que já se iniciara, ser também um dileto apreciador da música popular brasileira (leiam-se chorinhos, principalmente).

Henrique cresceu, ganhou o mundo, ficou famoso, mas jamais cortou suas raízes com Pernambuco. Estudou toda a obra do grande Alfredo Medeiros, autor de Choro Triste, gravou em parceria com Canhoto da Paraíba, além de ele próprio ser autor de vários chorinhos.

Assim, para Henrique, mesmo na intimidade, tanto faz estar tocando um clássico universal, Pixinguinha, ou Jacob ou mesmo músicas brasileiras de menor repercussão. O importante é que a música lhe desperte a atenção.

Na semana passada recebo um telefonema de Henrique. Fazia seguramente uns 20 anos que não entrávamos em contato. O último ocorreu aqui em Natal, quando foi entrevistado no programa Memória Viva, pelo saudoso Carlinhos Lira. Terminado o programa, continuaram os dois ali mesmo no estúdio, trocando figurinhas. Chegou a ponto de o tímido Carlinhos pegar o violão de Henrique e dedilhar algumas músicas. Ainda recordo como se fosse hoje.

- Carlinhos, você toca profissionalmente?

- Não amigo, aliás, nem sei porque tive a ousadia de pegar seu violão.

- Ora, você ainda tem tempo de se dedicar ao instrumento, pois talento não lhe falta.

Eis parte do diálogo entre Carlinhos e Henrique. Tudo presenciado por mim.

Mas Henrique não é apenas esse instrumentista de fama mundial. Trata-se de uma excelente figura humana e que estará nos visitando quando aqui se apresentará no Teatro Alberto Maranhão. Vem a convite do grande violonista pernambucano João Raione professor da Escola de Música da UFRN, de quem foi professor. A data está a ser marcada.

Aos que gostam de música clássica e de chorinho brasileiro, o aviso. Não percam a oportunidade de conhecer Henrique Annes ao vivo. Realmente vale a pena.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A loucura de Wellington e o trem bola

Os dois assuntos não se interligam, mas pertencem à memória da semana que passou.


Quanto a Wellington, era tão louco que planejou adredemente o próprio suicídio. Normalmente o suicida comete o ato de inopino. Dificilmente se planeja a própria morte com a meticulosidade do nosso “serial killer”. Quanto a escolher salas de aulas de adolescentes do colégio onde estudou, já assistimos a esse filme antes, exportado dos Estados Unidos.

Achei Wellington parecido com Bin Laden, quando assisti seu patético discurso no vídeo (acho, pela voz arrastada, que estava drogado). Só com uma pequena diferença: Bin Laden não se suicida nunca. Sempre manda os outros...

A Nação ficou estarrecida. Até a durona Presidenta chorou. Não era pra menos. Afinal, nunca antes nesse país se viu tanta miséria humana. São os mais novos mártires brasileiros, que até hoje não sabem porque tiveram que morrer.

Não adianta os milagreiros de última hora ficarem a se debater em soluções milagrosas ou mirabolantes, tais como o que fazer para a segurança das escolas ou se é preciso promover um novo plebiscito para consultar o povo sobre a proibição ou não do uso de armas. O buraco é bem mais embaixo e nada tem a ver, objetivamente, com a atitude do maluco. O maluco era maluco e pronto. Fora na Rússia, ou nos Estados Unidos, ou na Suíça, o fenômeno teria acontecido da forma que aconteceu. Nossos problemas são de outra natureza.

Na mesma semana estamos diante de um novo problema. Refiro-me ao trem bala. Um gozador, amigo meu, está chamando de trem bola, dada a vultosa quantia que será espargida em função da sua criação, já que o Senado aprovou a milionária medida provisória, que de provisória, aliás, não tem nadica de nada. Excelente o discurso da senadora Kátia Abreu, transmitido ao vivo pela TV Senado. Quantas obras bem mais importantes e de real necessidade visando a infra-estrutura nacional poderiam ser realizadas no lugar do trem bola ou bala, sei lá. Aliás, muito bom também o pronunciamento do nosso senador José Agripino.

De arrepiar, igualmente, a fala do senador Roberto Requião, denunciando o “currículo” de um dos planejadores do já famoso trem. E olha que o senador é do PMDB.

Confesso que nunca fui muito com a cara do então presidente Itamar, mas falando francamente, estou apreciando com muita simpatia a sua atuação como senador. O Itamar, realmente, é muito franco.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Oposição, o bem necessário

Até que enfim, parece que a oposição vai se organizar para valer, pelo menos no Senado Federal, graças à inconteste liderança de Aécio Neves.


Quarta-feira da semana passada ele deu mostras da sua capacidade e liderança política. Ainda no vigor de sua relativa juventude, permaneceu dialogando e debatendo com os colegas de Senado durante mais de cinco horas, sem arredar o pé da tribuna.

Quer queira quer não, impossível de dissociar sua figura em relação à figura do avô, o saudoso Tancredo Neves. Mas Aécio tem estilo próprio, tendo herdado do avô o profissionalismo e aquela simpatia natural.

O debate foi de alto nível e mais competente ainda foi o discurso do jovem orador. Respeitou o governo, proferiu um discurso com argumentos bem fundamentados, reconhecendo-lhe as qualidades e dizendo verdades com elegância e firmeza.

Embora a política seja uma ciência, mas é também uma arte. Aliás, em relação aos políticos, ela é bem mais arte do que ciência. Prova disso é o fenômeno Lula. Aliás, não é o mesmo caso de Dilma, que, não tendo a liderança e competência naturais de Lula, entretanto exerce a política muito mais como uma dedicada e estudiosa técnica.

Apesar dos pesares, acho que a presidenta vai muito bem, pelo menos até agora, nesses três meses de governo. Discreta, dotada de personalidade marcante, preferiu divergir dos rumos de Lula em relação ao estilo populista e assistencialista dele. Acho que por isso mesmo está agradando ou, pelo menos, não está desagradando tanto.

Sem dúvida, o Brasil está vivendo um grande momento político e o futuro nos reserva melhores rumos, com uma oposição responsável e o governo, por isso mesmo, mais atento aos novos caminhos.

Lula, a meu ver, já cumpriu o papel que tinha que cumprir nessa transição para uma verdadeira democracia e espero que ele passe a fazer o que mais gosta, que é usar o palanque. Está com a vida feita, o futuro materialmente garantido e pelo visto vai ganhar muito dinheiro fazendo palestras pelas universidades do planeta.

Quanto a Dilma, graças a sua forte personalidade, espera-se que ela se saia bem em relação aos aloprados. Não entendi a nomeação de Genuíno para assessorar o Ministério da Defesa, mas... ninguém é perfeito, nem mesmo ela. Como dizem que o mal por si se destrói, acho que será apenas uma questão de tempo.

Quanto a Aécio, não é difícil de prever o brilhante e futuro estadista que tem à sua frente, pois como poucos, sabe aliar a política como ciência e como arte.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Quoando vale a pena morrer

A não ser para aquele pessimista da piada, mais cedo ou mais tarde chegará o nosso dia.

Um dos heróis de Shakespeare, cujo nome não me ocorre no momento dizia que “mais vezes que o corajoso, morre o covarde, pois o corajoso sabe enfrentar a sua hora, ao passo que o covarde morre todos os dias”. A frase é mais ou menos essa.

Lembrei-me da frase refletindo sobre a lição de coragem que o grande José Alencar acaba de nos dar. Lutou, resistiu, mas jamais se acovardou diante da possibilidade da passagem para outro plano.

Homem bem humorado, “mineirinho” por derradeiro, conversa mansa e macia, mas de franqueza assustadora, demonstrou que além das inúmeras vitórias conquistadas e que a vida lhe proporcionou teve a humildade como norte e sobriedade (serenidade) como bandeira.

Homem de poucos estudos formais, mas de inteligência rara e autêntico fazedor de frases. Viveu até os últimos dias a ensinar o que os antigos chamavam de “regras do bom viver”, que com certeza aprendeu na universidade da vida.

Eu costumo dizer que a diferença entre o sábio e o sabido é que o sabido pensa que é sábio. E nesse sentido não hesito em dizer que José Alencar foi um sábio, pois sabia que o sabido, como o apressado, normalmente come cru.

Nosso ex-vice-presidente não é apenas um autêntico líder que partiu. É um homem que legou à sua pátria um exemplo de vida digno de ser imitado em todos os sentidos.

O Brasil é e sempre foi assim: um país cheio de contrastes e de contrários. Por vezes, o país do faz de conta, por vezes, o país que vai dar certo.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Devo estar errado

Não vou discutir, pois neste mundo de meu Deus eu não sei mais nem o que dizer.


De acordo com a Portaria 48 da Previdência Social, o preso de justiça passa agora a ter o direito a uma pensão de R$ 810,00 mensais. E se vier a falecer na prisão a família passa a receber pensão por morte (ou seja, vitalícia).

Por essa lógica é bem melhor estar preso do que trabalhar o mês inteiro para ganhar o salário mínimo, que é de apenas R$ 545,00.

Bem sei que alguém vai me criticar, por estar “contra” os familiares do presidiário.

Mas eu não estou contra ninguém. Apenas gostaria de entender o baixo salário dos professores em geral; o da própria polícia em geral, dentre outros que se qualificam para prestar serviços públicos de qualidade e atualmente são avaliados sistematicamente, tendo como parâmetro básico o investimento em formação continuada e desempenho ( caso concreto dos professores da Rede Municipal de Natal).

Aliás, não dá pra entender também como Fernandinho Beira Mar consegue, através de uma prisão chamada de segurança máxima, continuar dirigindo seus “negócios”.

Também gostaria de entender a lógica do Estatuto da Criança e do Adolescente quando temos flagrado crianças de apenas 12 anos liderando quadrilhas e adolescentes assaltando e matando adoidado praticamente na impunidade, em nome de uma refinada e proclamada legislação que os protege, mas nem asseguram os seus direitos básicos e deixa a ver navios os homens que ganham o “pão de cada dia com o suor de seus rostos”!

O crime cada vez mais se sofistica, inclusive se atualizando e se apoiando nas benesses que o mundo virtual está a propiciar.

Onde os bandidos conseguem tantas bananas de dinamite para assaltar os caixas eletrônicos?

A coisa chegou a um ponto que aqui e acolá estamos vendo os próprios pais denunciarem os filhos criminosos, entregando-os à Justiça, por se confessarem impotentes em impor limites e educá-los.

Não sei o que se passa em outros países. Mas se a lógica for essa, as profecias que anunciam o fim do mundo para 2.014 estão fazendo sentido. Se cuidem.

quarta-feira, 23 de março de 2011

O trem da minha vida

Era o trem da minha vida;

Corria devagarinho,

Era lindo o meu carrinho

Desse trem da minha vida.



Depois, porém, eu cresci

E o meu trem pequenino

Ficou pra outro menino

Que nem sequer conheci.



Mas a vida é mesmo assim,

Pois depois que a gente cresce

Nosso trem desaparece

Nas montanhas do sem fim.

Cadê catita?

O trem sempre exerceu em mim especial fascínio. De fato, desde criança era o transporte que me levava para as férias. Viagem que era verdadeira e inesquecível aventura.


Do Recife (PE), para Porto Real do Colégio (AL) levávamos dois dias, com baldeação/pernoite em Maceió. Em Colégio (naqueles idos não havia ainda a ponte), atravessávamos o rio São Francisco em canoa, ou para Propriá ou diretamente para o Cedro de São João, se era tempo de rio cheio.

O primeiro dia da viagem era o mais prazeroso. Passávamos em Viçosa (AL), onde saboreávamos as gostosas pinhas. Quanto ao almoço, dispensávamos a ida a restaurantes, já que minha mãe preparava de véspera um verdadeiro farnel, com arroz, galinha caipira e farofa. Quanto aos pequenos lanches, íamos fazendo à medida que o trem parava em algumas estações.

Agora leio em um jornal local que nosso Estado do Rio Grande do Norte cedeu a sua Catita para um museu em Recife, onde vive em verdadeiro abandono.

Catita era uma das pequenas locomotivas que ligavam Redinha à Ribeira, através da velha ponte de ferro cujos restos mortais ainda permanecem sobre o Rio Potengi e que fazia o trajeto desde o ano de 1916.

Era uma locomotiva a vapor, que fora depois substituída pelas locomotivas movidas a Diesel a partir de 1975.

Pois bem, por um verdadeiro ato de lesa majestade nossa Catita foi transportada para o museu do Trem, em Recife e lá permanece até hoje, sob virtual abandono. Puro ato de arbitrariedade, uma vez que Catita sempre serviu aqui, em Natal e daqui jamais deveria ter saído.

O IPHAN-RN deu parecer favorável no sentido de que a Catita, a qual se encontra atualmente em Recife e pertence ao Rio Grande do Norte, tenha sua vinda para Natal.

E mais, numa feliz idéia os Amigos do Patrimônio Histórico,Artístico, Cultural e da Cidadania, além do Centro de Tecnologia do Gás (CTGás) pretendem promover a restauração da locomotiva e do reboque, além da conversão de combustível e a construção de três vagões, visando fazer parte de um roteiro turístico de Natal que incluirá o bairro das Rocas, Ribeira e Cidade Alta.

Portanto, a Catita é nossa e o gato não lambe.

Mãos à obra!

quarta-feira, 16 de março de 2011

Crime de desespero

Não sou do ramo, mas o assunto mais uma vez me chama atenção. Aliás, o próprio Código Penal prevê a situação sob a denominação de violenta emoção. Acho mesmo que é uma tênue limitação entre o consciente e o inconsciente de quem comete um crime dessa natureza.

Deu no noticiário de quarta-feira passada. Dona Rosicleide de Tal, mãe de três filhos, está esperando há seis meses para receber o benefício do INSS por motivo de doença. Desesperada, após tantas idas e vindas perdeu a cabeça e juntamente com o marido promoveu um verdadeiro quebra-pau nas dependências da instituição que vem lhe causando tanto desconforto.

Moral dessa história tão imoral: cerca de dez computadores quebrados, além de móveis despedaçados, o que tornará a prestação de serviço do referido Posto ainda mais demorada. Perda do Estado, perda dos demais (im)pacientes, perda das pretensões de dona Rosicleide – enfim – perda total.

A “criminosa” foi presa em flagrante e juntamente com o esposo tiveram que pagar fiança de R$ 150,00 para responder a futuro processo em liberdade. Quantia relativamente irrisória para quem está empregado, e não para quem está na tal fila de espera há seis meses.

É verdade que já dobrei o cabo da boa esperança, mas se tivesse que recomeçar minha vida, jamais desejaria ser, por dinheiro nenhum, juiz criminal. Jamais eu teria coragem de condenar dona Rosicleide. A não ser que a legislação em vigor previsse severa punição para todos os envolvidos, isto é, do (ir)responsável pelo Posto do INSS ao Presidente da República, passando naturalmente pelo ministro da saúde.

É, eu não daria mesmo para ser juiz criminal.

domingo, 13 de março de 2011

Cascudo - algumas revelações

No período pré-carnavalesco recebi um bom presente do poeta Diógenes. Trata-se de algumas correspondências a ele enviadas pelo grande Cascudo, por motivações diversas.


Li-as com avidez. Linguagem simples, amistosa, bem humorada e sobretudo plena de gratidão e gostosa ironia.

Numa delas Cascudo agradece ao governador Cortez Pereira pela homologação da Resolução 01/CD, de 31 de janeiro do Conselho Diretor da Fundação José Augusto (então dirigida por Diógenes), que prestou homenagem ao então septuagenário, que conclui dizendo: “Deus lhe conceda em minha idade emoções semelhantes”.

Em outra correspondência, ainda para Diógenes, a ironia é patente.

“Solicito a devolução dos originais “MOVIMENTO DA INDEPENDÊNCIA NO RIO GRANDE DO NORTE”, entregue em mãos do Governador em 5 de julho (1972). Fora “encomendado” em março, com noticiário na imprensa.

É preciso fazer cessar essa afetuosa penitência e a série de decepções miúdas, sonhando evitar o desalento no seu velho professor. A edição no Sul é uma blague. Não será a primeira vez, e Deus me livre que seja a última, em que trabalho inútil e gratuita para a minha Província.

Editar-se-á no segundo Centenário. No Paraíso, ao qual me destino, folgarei com as turbas, se memória desta vida se consente nos altos lugares da compensação teológica. (...) etc.

Mas o melhor de tudo e seu requerimento ao doutor Juiz Eleitoral da Comarca de Natal, que vale a pena transcrever, cuja petição foi redigia pelo próprio Diógenes, naturalmente que a mando...:

“LUÍS DA CÃMARA CASCUDO, brasileiro, casado, escritor, residente e domiciliado nesta Comarca e Cidade do Natal-RN, expõe e requer a Vossa Excelência:

Por viver há mais de 70 (setenta) anos (doc. Junto) é-lhe dispensado, por lei, a obrigatoriedade do exercício do voto – art. 6º., alínea b) do Código Eleitoral;

Pretende o peticionário ficar em sua casa, sendo marido, pai e avô, íntimo de si mesmo, lendo, escrevendo, descansando.

Em assim sendo, requer a Vossa Excelência se digne fornecer-lhe documento que o isente das sanções da lei eleitoral, como permite o art. 10 da Lei 45.747/2965.

P. deferimento.

Natal, 17 de julho de 1978”

Portanto, eis ai em rápidas pinceladas um retrato do grande homem que o Rio Grande do Norte por vezes descurou.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Hinos - a repercuss/ao

Praticamente desde a fundação deste Jornal que escrevo um artigo semanal. Tarefa difícil para mim. Não sei como Serejo consegue fazer uma crônica diária e com a boa qualidade de sempre. Casamento do talento com a competência.

Outrossim, artigos há que os escrevo sem a menor pretensão, mas que de repente obtém repercussão bem além do esperado. Foi o caso, por exemplo, do artigo da semana passada, quando fiz alguns comentários sobre o hino do Rio Grande do Norte, em razão de críticas que foram dirigidas aos nossos deputados por não saberem cantá-lo.

Em menos de 48 horas recebi inúmeros e-mails praticamente em apoio aos meus comentários, além de vários telefonemas.

Logo no dia seguinte recebi um telefonema da grande Leide Câmara, escritora especializada no cancioneiro potiguar, autora, além de outras obras, do Dicionário da Música do Rio Grande do Norte que em meu socorro esclareceu dentre outras coisas que havia um hino antes do atual oficialmente adotado, que era cantado nas escolas.

Não bastasse a autoridade de Leide, recebo um e-mail de outro grande, nosso Ivoncísio Meira de Medeiros, que transcrevo a seguir, para maior esclarecimento dos leitores e em prol da cultura potiguar.

“O hino do RGN oficial foi aprovado pela AL no Governo de Dinarte Mariz, em 1957, em detrimento daquele que se cantava nas escolas de autoria do Dr. Nestor dos Santos Lima (a briga foi feia). A sua autoria é do poeta GONGORICO Augusto Meira (não é meu parente), nascido em Ceará-Mirim (Engenho Diamante). No Pará foi Promotor de Justiça em Santarém e depois, já em Belém, foi Professor de Direito, Deputado Estadual e Federal, por várias legislaturas, e Senador. Gozou dos favores do Interventor Barata Foi jornalista e dono de Jornal. Como poeta escreveu centenas de sonetos e querendo suplantar Camões, escreveu "Brasíleis", poema épico maior que os "Lusiadas". Quanto a sua curiosidade sobre as figuras históricas, por ele citadas no Segundo Canto, esclareço que FRANCISCO CALDEIRA CASTELO BRANCO foi Capitão-Mór do Rio Grande do Norte (16/12/1614) e seguindo para o norte conquistou e ocupou a "boca" do Rio Amazonas e fundou a cidade de Belém. Poema gongórico não convence e você flutua nas palavras e construções épicas ao bel prazer do autor. Estou com ensáio pronto a respeito do assunto que publicarei em livro. Ivoncísio Meira de Medeiros. “

Recebi ainda do poeta Diógenes Cunha Lima hino de sua autoria, acompanhado de CD, denominado Hino do Rio Grande do Norte (para escolas), cuja letra também transcrevo e encerro o assunto.

“Sou potiguar, sou valente, sou gentil,

Avançamos para o mar

Que guarda história, venturas mil,

Com muito orgulho, destino nordestino,

A nossa terra é a esquina do Brasil.

O nosso Rio Grande, o nosso Rio Grande

É rico em chão, em gente, em coração,

Pequeno Estado em nós se expande,

Honra o passado, o amor à terra, à tradição.

Refrão:

Brancos, negros, os potis

Misturam suas virtudes

Nas águas do Potengi.

As cidades e o campo

Vivem nossa Capital,

Onde a beleza nasce e se renova

Todo dia é dia de natal.