ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

jsc-2@uol.com.br


domingo, 29 de maio de 2011

Também não gostei, presidentA

Aos poucos a presidentA Dilma vai imprimindo sua própria marca, sua maneira de ser. Quanto ao estilo, é mais positivo, a meu ver, que a escorregadia maneira do presidente a quem substitui se posicionar, embora haja um certo continuísmo no governo.

A presidentA foi muito clara ao se pronunciar sobre o indigitado e tão badalado kit gay. “Vi e não gostei”. Curta e grossa, como certas coisas devem ser rebatidas.

Ninguém de bom senso está necessariamente contra as preferências de cada um, sejam sexuais ou de qualquer outra natureza. Até porque preferência sexual é uma coisa muito pessoal, depende da natureza de cada um e ninguém pode ir contra a forma de ser de cada um/a. Agora, uma coisa é certa: é importante respeitar o entendimento, valores e escolhas do vizinho e vice-versa. Ninguém pode pretender que eu contrarie a minha natureza. Compreendo as preferências sexuais de cada um e pronto. Quero que respeitem as minhas.

Por outro lado, chega a ser ridículo o puxassaquismo do marqueteiro que a título de enfatizar sua “campanha” chega a comentar a profundidade de penetração da língua da garota lésbica, ao beijar a coleguinha da hipotética escola. Acho que Dilma também não gostou do infeliz comentário do ridículo senhor.

Gostei muito da sinceridade da presidentA em relação à questão. Contudo, gostaria de saber quem vai bancar as despesas que já foram feitas em relação à produção do referido kit. Sem falar na baboseira da cartilha do “Nós pode”. São milhões de reais que se esvaem do bolso do já combalido contribuinte brasileiro.

E afinal de contas, quando o Brasil vai realmente enfrentar a problemática da educação do seu povo?

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Palocci e a professora Amanda

- O que eles têm em comum?

- Ambos nasceram no Brasil. Só isso.

De resto, são bem diferentes.

Palocci, homem inteligente, de rara competência, é capaz de sozinho ganhar vinte milhões de reais em um ano de eleições. Depois, volta ao núcleo do poder, assume um ministério ainda mais influente que o do tempo do escândalo da Caixa Econômica Federal e volta a ser a grande eminência parda da Nação. Blindado, não tem satisfação a dar da mágica que o transformou num dos milionários do país, a ninguém.

Já a professorinha, não.

Refiro-me à norte riograndense Amanda Gurgel, que notabilizou-se na internet graças ao seu brilhante e patético depoimento na nossa Assembléia Legislativa.

Amanda começou seu depoimento apresentando o contracheque aos atônitos deputados. Apenas R$ 930,00 por mês.

“Com esse salário os senhores não conseguiriam nem pagar a indumentária que usam para estar aqui” – começou entrando logo de sola, como se diz no jargão do futebol.

O destino da professora é incerto e não sabido. Afinal, como se diz na gíria, ela se queimou, concluindo seu depoimento desaforando a classe política em geral : - “Eu falaria aos governantes para deixarem de usar essa máscara de pessoas sérias, honestas, e que tratassem os educadores como eles merecem”.

Amanda é mais uma dessas heroínas anônimas, que honram a terra em que nasceram, mas que está fadada ao fracasso econômico-financeiro. Deus queira que não venha a ser demitida. Em tempos de golpe seria taxada de perigosa comunista. Como agora o próprio comunismo só existe em Cuba e em Macau, acho que irão taxá-la de doida. Deus queira que permaneça no emprego, com o mísero salário de R$ 930,00. Bem menos que um motorista de ônibus. Não que o motorista de ônibus não mereça o que ganha. Afinal de contas, ele conduz vidas humanas para o trabalho e para a escola. O problema é que Amanda também conduz vidas humanas para a vida a fora, como a maioria das educadoras que se empenham em fornecer elementos para que os alunos se apropriem das ferramentas necessárias para circularem em uma sociedade letrada. Deveria ser bem mais valorizada, portanto.

No primeiro governo de Lula eu admirava muito o Palocci. Mas agora admiro muitíssimo mais a Amanda em nome de quem saúdo as professoras desse Estado. Palocci, este da forma como enriqueceu não merece mais a admiração de ninguém.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Agora nós pode

Certa vez meu estimado e hoje finado professor Bento Ferreira de Carvalho descreveu, na informalidade, o então INPS como uma organização esculhambada, enquanto o jogo do bicho como uma esculhambação organizada. Explicou-me a tese e convenceu-me. Só que quando repassei a piada ao meu saudoso pai ele retrucou-me: como piada está boa, mas lembre-se de que a palavra esculhambação é uma palavra chula, não deve ser usada em certos ambientes etc.

Na semana passada, em função do artigo que hoje escrevo, tive a curiosidade de consultar dois dicionários, e lá está a palavra esculhambação como uma palavra normal (um deles apenas destaca que se trata de um regionalismo e que significa um estado de desordem, de anarquia, de bagunça, de avacalhação, dentre outros significados. Portanto, meu pai hoje estaria superado.

Superado fiquei eu também, ou melhor, estarrecido, ao ouvir e depois ler uma reportagem segundo a qual o Ministério da Educação e Cultura - MEC defende que aluno não precisa seguir algumas regras da gramática para falar de forma correta.

Como exemplo, cita o livro publicado às expensas daquela instituição intitulado “Por uma vida melhor”, aprovado para o ensino da Língua Portuguesa destinado a Educação de Jovens e Adultos -EJA de escolas públicas.

A título de ilustração, no citado livro, às folhas 14 agora permite a frase: “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”.

A orientação aos alunos continua na página seguinte: “Mas eu posso falar ‘os livro’?”. E a resposta dos autores: “Claro que pode. Mas, com uma ressalva, dependendo da situação a pessoa corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico”.

(I)moral da estória: pelo que estou entendendo, se um professor de Português, agora, fizer alguma observação ao aluno no sentido de que está falando errado ele poderá vir a ser processado por dano moral, já que está sendo linguisticamente preconceituoso.

Mas agora, a confusão: o MEC informou ainda que a norma culta da língua portuguesa será sempre a exigida nas provas e avaliações. Agora, durma-se com um barulho desses.

O grande filósofo nacional Chacrinha tinha razão quando dizia: “Eu vim para confundir e não para explicar”.

Portanto, agora sim, estamos todos confundidos. Falar errado, agora pooooode. Escrever errado, também pooooode. Mas se escrever errado na avaliação (vestibular, por exemplo, aí leva pau).

É ou não e uma esculhambação?

Enfim, matemática num sou bam, bam, bam naum, mas português eu agaranto.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Dia das mães

- Quem é ela? Como é ela?

- Pouco importa.

Sendo velha, é jovem;

Sendo jovem, é adulta;

Sendo feia, é bela;

Sendo bela, é sóbria;

Sendo rica, se faz pobre;

Sendo pobre, é tão rica,

Posto que vale por todos os tesouros conhecidos.

Mesmo quando sofre, está feliz,

Pois todo quanto lhe basta é muito pouco.

E se está feliz, transborda toda sua alegria

Sob a forma de pétalas de rosa a perfumar o mundo.

Nela não habita a malícia, ou a maldade,

Pois ela só cogita em dar-se, de corpo inteiro,

E, qual inocente cordeiro,

Imola-se humildemente,

Buscando dessa forma minorar

As dores e os cruéis constrangimentos

Pelos quais o filho acaso há de passar.





(Sílvio Caldas, órfão)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A volta do boêmio

Não faço referência ao famoso samba-canção eternizado na voz do velho Nelson Gonçalves.

Também aviso de logo que me considero um boêmio, pois curto a boêmia. Refiro-me à boa boêmia, a que pratico com meus amigos e que meu saudoso pai me ensinou. São pessoas de espírito alegre, que gostam de música, poesia e de jogar (boa) conversa fora. Pode ser em um bar ou em uma reunião domingueira, de preferência em lugares sossegados.

Mas a palavra tem também seu lado pouco lisonjeiro, ligando por vezes seu sentido a pessoas irresponsáveis, hedonistas, que saem pela vida a fora e que por vezes não tendo pátria nem profissão digna, praticam atos à margem das boas normas de conduta, quer por instinto de sobrevivência, quer por egoísmo, em favor próprio e/ou do grupo a que pertence.

O cristianismo nos ensina que devemos dar a outra face, perdoar até nossos próprios inimigos ou devedores. Entretanto, Cristo expulsou com veemência os vendilhões do templo.

Deduzo que podemos e devemos perdoar aqueles que erram, mas jamais estimulá-los a repetir erros antigos. E mais, é preciso que certos erros, além de reprovados, sejam penalizados pela sociedade. Por exemplo, se alguém alcançou o patrimônio público, o mínimo que se espera é que o patrimônio seja ressarcido.

Em 2.005 Delúbio confessou, apesar do eufemismo (dinheiro não contabilizado) que praticou atos financeiros pouco recomendáveis. O processo hiberna no Supremo até hoje (tomara que não prescreva). Mas ainda que prescreva, a prescrição não transforma o ato praticado num ato de moral. Apenas ele deixa praticamente de existir no mundo jurídico, mas não se apaga na memória da sociedade.

Por enquanto, pelo menos, não se pode nem falar em perdão, expresso ou tácito, já que a ação praticada pelo boêmio Delúbio ainda acha-se “sub-judice”.

Mas nosso herói pediu seu retorno ao partido político a que pertencia, de forma “emocionante”, isto é, aquele mesmo cinismo que expôs ao usar o eufemismo “dinheiro não contabilizado”.

O partido aceitou Delúbio de volta. Ao menos não esperou pelo julgamento do Supremo. O presidente do partido, alegando motivo de doença, renunciou ao resto do mandato.

Ou seja, continua tudo como antes, no quartel de Abrantes.