ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

jsc-2@uol.com.br


quarta-feira, 30 de junho de 2010

ALEJURN - Nova Administração

Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)



Dia 11 passado ocorreu a primeira eleição e posse da segunda diretoria da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte. Candidato único, o eleito foi Jurandyr Navarro. Bem que poderia ter sido por aclamação, já que era a vontade da esmagadora maioria.

A Alejurn, criada há dois anos, foi presidida inicialmente pelo procurador Adalberto Targino, cuja operosa administração abriu importantes picadas para a estrada que se pretende projetar e que por certo será bem pavimentada pelo seu sucessor.

Apesar do pouco tempo de existência a Alejurn já apresenta inestimável contribuição à cultura jurídica do nosso Estado, graças a inúmeras palestras ali proferidas e as já programadas para o futuro. Os planos são muitos, o sonhos também e Jurandyr, sem dúvida alguma aprofundará com muito gosto de competência os planos iniciais da primeira administração. Aliás, graças a sua induvidosa liderança não teve dificuldade de manter em sua diretoria vários associados que já pertenciam à diretoria passada, o que demonstra o espírito de colaboração de todos.

Soube através do vice-presidente, Odúlio Botelho que dentre outras coisas o atual presidente pretende intensificar os encontros que ocorrem normalmente ás sextas-feiras, visando não apenas a divulgação literária, mas promovendo saraus permeados por poesia, prosa, música e lançamento de livros, o que somente enriquecerá mais ainda as atividades da promissora instituição. Cogita-se também na aquisição de terreno para construção da sede própria.

Enfim, planos, projetos e sonhos que por certo atingirão seu intento, graças à operosidade de Jurandyr e os companheiros que o apoiam.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Os galos, pobrezinhos!

Os galos, pobrezinhos!




Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)



Primeiro as crianças. Nossa legislação proíbe que crianças menores de 14 anos trabalhem. Em compensação nosso país é o 3º país que mais explora o trabalho infantil.

Segundo o competente procurador do Ministério Público do Trabalho, Xisto Thiago de Medeiros Neto, somente três por cento das crianças de 5 a 11 anos que trabalham chegam ao ensino médio, sendo 12 por cento das que começam a trabalhar de 12 a 15 anos e que atingem a mesma etapa de ensino. No dizer do Procurador “isso significa que quanto mais cedo a criança inicia um trabalho doméstico, menores são as chances de ela concluir os estudos”.

E mais: “O Brasil é o terceiro país da América Latina que mais explora o trabalho infantil doméstico, ficando atrás apenas do Haiti e da Nicarágua. Mais de 2,5 milhões de crianças e adolescentes brasileiras entre 5 a 16 anos são exploradas. E mais da metade não tem carteira de trabalho assinada e nem mesmo remuneração.

Contudo, nossa legislação maior, a denominada Constituição Cidadã proíbe qualquer tipo de trabalho a menores de 16 anos, exceto como aprendiz, a partir dos 14 anos.

Portanto, não nos faltam leis boas, o que nos falta é quem as aplique e as fiscalize e puna os infratores. Por isso mesmo, chamo nossa legislação de romântica. Coisa pra novela das oito.

E para não me alongar mais nem me aborrecer, eis a última manchete de tal Jornal: Rinha é desarticulada, 30 pessoas são detidas e 72 galos apreendidos. Essa é a manchete. Agora, vamos à prática: “Depois da apreensão, no entanto, a Cipam (Companhia de Polícia) está com um problema. Os galos não têm onde ficar, pois não é de responsabilidade da Companhia a guarda do animal e o IBAMA de Natal, segundo o tenente Bezerra, disse não ter condições de receber”.

E continua: “Estamos vendo com Mossoró para ver se levamos essas aves para ali. Agora criamos um problema, porque não adianta realizarmos operações, apreendermos os animais e não tê-los para onde mandar”, desabafou o oficial, que revelou que várias outras operações estão sendo programadas para serem colocadas em prática na Grande Natal”.

Em conclusão: nossas crianças são tratadas como animais, e estão tratando os animais (pelo menos os galos) como tratam nossas crianças.

Agora, durma-se com um barulho desses.

domingo, 13 de junho de 2010

As "minhas" castanholas

Cascudo falou, Serejo falou, François falou. Agora, falo eu. Falo-ei (desculpem o trocadilho) não em nome da Botânica, ou da tradição cascudeana, ou do protesto serejeiro, ou da gozação silvestre dos últimos artigos de jornal. Refiro-me, isto sim, às duas castanholas que ornamentavam a frente da casinha dos meus pais, em Recife, às sombras das quais jogávamos bola de gude, Hélio e eu, e que à noite, por volta das 23 horas meu saudoso pai armava sua indefectível rede de dormir, não para dormir, mas para jogar conversa fora, descansando da faina diária de dez ou doze aulas que acabara de ministrar no colégio Salesiano.

Eu gostava mesmo era quando os vizinhos demoravam a chegar (mas findavam chegando), pois a conversa de meu pai era pra homem nenhum botar defeito. Quando eles demoravam minha conversa com ele era a dois. Tinha de tudo: história de Júlio César, Aníbal, Scipião Emiliano, Napoleão Bonaparte; ou então histórias antigas em torno de Lampião, ou da Revolução de 35. E a rede não parava, era um pra lá e pra cá, movida a um cacetinho que ele empunhava para produzir o embalo.

Na primavera as castanholas davam fruto. Um fruto de sabor duvidoso, mas que sempre quebrava o galho da molecada da Rua da Lama, que por lá passava de volta das aulas da Capela-Escola Santa Teresinha. Ao fruto denominavam coração de negro, ou coração da índia.

Um dia, meu pai de há muito falecido e eu já morando em Natal meu irmão Fernando decidiu cortar as árvores e cimentou a frente da casa. Eu só soube da notícia.

Concordo em parte com François Silvestre. Cascudo, quando não estava exercendo seu sábio magistério era sim, um gozador de primeira, graças a sua rara inteligência. Além do mais, misturava gozação com coisa séria, dado o seu modo filosófico de ser. Enfim, um gênio em tudo que se metia e se intrometia. Resta a nós, seus antigos discípulos ou admiradores procurar lembrar, por todos os meios, tudo o que nos deixou de história, estória, lenda, mito ou simplesmente folclore.

Agora, diante dessa confusão diante da castanhola cascudeana me liga o poeta Diógenes se dizendo com um problema.

- Sílvio, meu bichinho, estou com um problema.

- Só um? – respondo curto e grosso. Pelo que me consta você toma conta de uma árvore gorda, o baobá, há mais de vinte anos.

- Bem, existe uma velha mangueira que divide o terreno do meu escritório com o vizinho e eu acho que ela está bichada. Tenho medo que ela finde caindo e amassando nossos carros. Você acha que eu devo mandar cortá-la?

- Sei lá, doutor Diógenes, consulte as autoridades constituídas, ou seja, as autoridades ditas competentes, pois por mais incompetentes que elas possam vir a ser, só a elas cabe decidir se a mangueira pode ou não ser arrancada. Aproveite a época, pois se for obtida a autorização dará uma boa fogueira de São João. E me chame para os comes e bebes em torno da fogueira.

Esse Diógenes me sai com cada uma. Sei lá!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O acadêmico Eider Furtado

O acadêmico Eider Furtado


Ocorreu no dia 27 do mês de maio passado a posse na Academia Norte Rio-grandense de Letras do ilustre epigrafado.

Essas posses costumam, por vezes serem chatas, modorrentas e até boas motivadoras para um bom cochilo. Não foi o caso. Nem uma conhecida figura política acostumada a tirar cochilos nessas ocasiões cochilou. Tudo por causa do discurso do homenageado.

Mas antes mesmo, durante a saudação do acadêmico Ernani Rosado o auditório lotado ouviu o discurso de boas vindas com o máximo de atenção, dado a sua vibrante e bem elaborado oratória.

Em seguida, uma vez empossado, coube ao doutor e agora acadêmico Eider Furtado proferir a sua oração.

O discurso parecia prenunciar que seria longo, e dado o adiantado da hora confesso que temi pelo seu sucesso. Mas não, o advogado, professor, compositor, musicista e talentoso orador prendeu a atenção de todos e conseguiu abordar em pinceladas literárias e com sabor de autêntico jornalismo, em menos de uma hora, quatro personalidades que já fazem parte da história do nosso Estado, rememorando e reverenciando a todos, cumprindo a praxe acadêmica, mas revelando com sua competência o motivo dos votos que conquistou dos agora seus pares para ali estar e passar doravante a conviver.

Assim, deu início à sua peroração citando o fundador da Casa, no seu dizer “o mestre de todos”, o grande Câmara Cascudo, relembrando os idos de 1943, tempos em que labutava como jornalista no jornal “A República” e que testemunhou, como tal a frase cunhada por outro famoso, o jornalista Assis Chateaubriand, que escrevera na ocasião no muro da entrada da casa de Cascudo: “Ficarei agarrado às paredes desta casa como os cascudos às pedras do rio Assu.”

Em seguida, mas não com essa pressa que o artigo exige, rememorou lanços da vida do fundador da Cadeira 16, agora por ele ocupada, ou seja, o acadêmico Manoel Segundo Wanderley, contemporâneo de Castro Alves e como ele, poeta que lutou em prol da libertação dos escravos do Brasil. Aliás, diga-se de passagem, embora aqui tenha dado seus frutos, o fundador da cadeira a16 nasceu em Timbaúba – Pernambuco, em 1875.

Segundo Wanderley foi sucedido pelo professor Rômulo Chaves Wanderley, de quem o novel acadêmico foi contemporâneo tendo por isso mesmo feito referências muito mais vivenciadas do que relatadas pela história do sucedido. Rômulo, vindo do Assu, era também um grande poeta, como bem apraz à sua terra Natal, tendo gerado, dentre outros, o grande Francisco Berilo Wanderley, bem mais presente à vida contemporânea do nosso Estado e companheiro de turma do homenageado na Faculdade de Direito da nossa UFRN.

A partir daí doutor Eider passou a tecer considerações, agora, em torno de Maria Eugênia Maceira Montenegro, última ocupante da referida cadeira 16, agora por ele ocupada. Aqui se seguiram dados bem mais recentes, apoiado nas informações coletadas junto à desembargadora e escritora Maria do Perpétuo Socorro Wanderley de Castro, a qual forneceu esclarecedores depoimentos da grande mineira de Lavras.

Mas eis que quando o tempo já nos induzia ao término do discurso de posse Eider nos surpreende e prepara nosso espírito para um final apoteótico:

“E como se voltasse no tempo, procuro ver, ao meu lado, encorajando-me, meus pais, que Deus, há tempo, já os chamou para mais perto de Si. Imagino-os comigo, vaidosos por ver o filho, ainda que não o mereça, acolhido nesta Academia de Letras. O tempo passa mais rápido do que desejamos, mas a saudade não passa, antes seguindo seu curso num crescendo avassalador.”

Bem, a partir daí a emoção tomou conta dos presentes, principalmente dos parentes e amigos mais próximos desse homem que dos altos de seus oitenta aniversários (permiti evocar tempos que lhe foram tão caros), mas que soube como ninguém rememorá-los com tranqüilidade, dominando a própria emoção, verdadeira demonstração de autocontrole e disciplina.

Destaco aqui a beleza de uma frase, por ele proferida. “Senhoras e Senhores: o mundo, sem a menor dúvida, está cheio de grandes mães, nenhuma entretanto terá sido maior do que a minha mãe”.

Eis, amigos leitores, em rápidas pinceladas, a explicação da ascensão do mais novo acadêmico da Academia de Letras do Rio Grande do Norte, aliás, também já acadêmico e fundador da Academia de Letras Jurídicas do nosso Estado.

Segundo o presidente da Academia que agora torna Eider um bi-imortal, o poeta Diógenes da Cunha Lima, Eider é um norte-riograndense que exerce a cidadania em tempo integral e dedicação exclusiva. E eu concordo com ele.

Nem preciso comentar sobre a excelência do coquetel que se seguiu à posse. Água escocesa fluindo em abundância e da melhor qualidade.

Valeu, meu amigo Eider Furtado. Parabéns.