ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

jsc-2@uol.com.br


sexta-feira, 29 de abril de 2011

Um requiem para Requião

Perdoem o infame trocadilho. Mas faz sentido.




Não posso nem negar que tenho lá minhas simpatias pelo Senador Requião. Homem inteligente e de uma sinceridade pra mais da conta. Mas dessa vez ele, como se diz na gíria, pisou na bola.



Exageros à parte, dá até para entender que o jornalista também exagerou na pergunta, não por sua improcedência, mas possivelmente pelo momento impróprio da abordagem.



Contudo, não importa. Por mais que o jornalista tenha sido infeliz na abordagem, a pergunta não foi de modo algum ofensiva. Muito mais exagerou o interlocutor, arrebatando abruptamente o equipamento de trabalho do profissional (o gravador) e apagando a gravação até ali produzida.



O homem público tem que estar psicologicamente preparado para investidas dos profissionais da comunicação e quando estas agridem por acaso a intimidade do interlocutor cabe a ele usar os meios legais de revide. Essa é a regra do jogo. Aliás, nesse terreno Carlos Lacerda era um mestre. Jamais deixou de revidar à altura qualquer agressão verbal. Cito-o por dever da narrativa, não que admirasse propriamente suas qualidades.



A pergunta do jornalista incomodou sim. Mas muito mais nos incomoda essa legislação absurda que premia indiscriminadamente ex-governadores com polpudas “aposentadorias” num país que tanto maltrata aqueles que devem realmente receber justas aposentadorias, conquistada ao longo de anos a fio de trabalho. O quadro é realmente acintoso e não é apenas o senador em questão que recebe a absurdeza.



Muito cômoda a posição do senador Sarney, presidente da mesma instituição, a querer tapar o sol com uma peneira, tentando minimizar ridiculamente o comportamento do colega. O fato foi realmente lamentável, num país que se quer democrático, e o próprio Requião procurou se explicar. Bem melhor, no frigir dos ovos, sua ida à tribuna para se explicar que a saída insossa do seu colega.



Sou a favor sim, da liberdade de imprensa. Não por ser também uma das vítimas de atitudes veladas de censura que por vezes sofri, mas por que entendo não se puder falar em verdadeira democracia se não houver liberdade de fato para que se possa externar os próprio pensamentos. Que se valorize o debate e que se apliquem leis capazes de coibir os excessos.



Portanto, se por acaso se excedeu o jornalista (não estou afirmando), muito mais se excedeu o Requião. Um réquiem para ele.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Uma vida ao violão

Conheço Henrique Annes desde que ele tinha apenas 12 anos de idade, fins da década de cinquenta. Na ocasião a ele fomos apresentados pelo grande violonista já falecido Wilson Sandes responsável por apresentar a criança ao instrumento que abraçaria pela vida a fora.


De lá para cá Henrique só evoluiu, no tamanho e no talento. Aos quatorze anos já era uma violonista de chamar atenção, e assim que pode ingressou no conservatório pernambucano de música, sem abandonar, entretanto, a roda de amigos boêmios que tocavam por pura diversão. Uma criança paparicada pelos adultos, tendo em vista além dos clássicos, a que já se iniciara, ser também um dileto apreciador da música popular brasileira (leiam-se chorinhos, principalmente).

Henrique cresceu, ganhou o mundo, ficou famoso, mas jamais cortou suas raízes com Pernambuco. Estudou toda a obra do grande Alfredo Medeiros, autor de Choro Triste, gravou em parceria com Canhoto da Paraíba, além de ele próprio ser autor de vários chorinhos.

Assim, para Henrique, mesmo na intimidade, tanto faz estar tocando um clássico universal, Pixinguinha, ou Jacob ou mesmo músicas brasileiras de menor repercussão. O importante é que a música lhe desperte a atenção.

Na semana passada recebo um telefonema de Henrique. Fazia seguramente uns 20 anos que não entrávamos em contato. O último ocorreu aqui em Natal, quando foi entrevistado no programa Memória Viva, pelo saudoso Carlinhos Lira. Terminado o programa, continuaram os dois ali mesmo no estúdio, trocando figurinhas. Chegou a ponto de o tímido Carlinhos pegar o violão de Henrique e dedilhar algumas músicas. Ainda recordo como se fosse hoje.

- Carlinhos, você toca profissionalmente?

- Não amigo, aliás, nem sei porque tive a ousadia de pegar seu violão.

- Ora, você ainda tem tempo de se dedicar ao instrumento, pois talento não lhe falta.

Eis parte do diálogo entre Carlinhos e Henrique. Tudo presenciado por mim.

Mas Henrique não é apenas esse instrumentista de fama mundial. Trata-se de uma excelente figura humana e que estará nos visitando quando aqui se apresentará no Teatro Alberto Maranhão. Vem a convite do grande violonista pernambucano João Raione professor da Escola de Música da UFRN, de quem foi professor. A data está a ser marcada.

Aos que gostam de música clássica e de chorinho brasileiro, o aviso. Não percam a oportunidade de conhecer Henrique Annes ao vivo. Realmente vale a pena.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A loucura de Wellington e o trem bola

Os dois assuntos não se interligam, mas pertencem à memória da semana que passou.


Quanto a Wellington, era tão louco que planejou adredemente o próprio suicídio. Normalmente o suicida comete o ato de inopino. Dificilmente se planeja a própria morte com a meticulosidade do nosso “serial killer”. Quanto a escolher salas de aulas de adolescentes do colégio onde estudou, já assistimos a esse filme antes, exportado dos Estados Unidos.

Achei Wellington parecido com Bin Laden, quando assisti seu patético discurso no vídeo (acho, pela voz arrastada, que estava drogado). Só com uma pequena diferença: Bin Laden não se suicida nunca. Sempre manda os outros...

A Nação ficou estarrecida. Até a durona Presidenta chorou. Não era pra menos. Afinal, nunca antes nesse país se viu tanta miséria humana. São os mais novos mártires brasileiros, que até hoje não sabem porque tiveram que morrer.

Não adianta os milagreiros de última hora ficarem a se debater em soluções milagrosas ou mirabolantes, tais como o que fazer para a segurança das escolas ou se é preciso promover um novo plebiscito para consultar o povo sobre a proibição ou não do uso de armas. O buraco é bem mais embaixo e nada tem a ver, objetivamente, com a atitude do maluco. O maluco era maluco e pronto. Fora na Rússia, ou nos Estados Unidos, ou na Suíça, o fenômeno teria acontecido da forma que aconteceu. Nossos problemas são de outra natureza.

Na mesma semana estamos diante de um novo problema. Refiro-me ao trem bala. Um gozador, amigo meu, está chamando de trem bola, dada a vultosa quantia que será espargida em função da sua criação, já que o Senado aprovou a milionária medida provisória, que de provisória, aliás, não tem nadica de nada. Excelente o discurso da senadora Kátia Abreu, transmitido ao vivo pela TV Senado. Quantas obras bem mais importantes e de real necessidade visando a infra-estrutura nacional poderiam ser realizadas no lugar do trem bola ou bala, sei lá. Aliás, muito bom também o pronunciamento do nosso senador José Agripino.

De arrepiar, igualmente, a fala do senador Roberto Requião, denunciando o “currículo” de um dos planejadores do já famoso trem. E olha que o senador é do PMDB.

Confesso que nunca fui muito com a cara do então presidente Itamar, mas falando francamente, estou apreciando com muita simpatia a sua atuação como senador. O Itamar, realmente, é muito franco.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Oposição, o bem necessário

Até que enfim, parece que a oposição vai se organizar para valer, pelo menos no Senado Federal, graças à inconteste liderança de Aécio Neves.


Quarta-feira da semana passada ele deu mostras da sua capacidade e liderança política. Ainda no vigor de sua relativa juventude, permaneceu dialogando e debatendo com os colegas de Senado durante mais de cinco horas, sem arredar o pé da tribuna.

Quer queira quer não, impossível de dissociar sua figura em relação à figura do avô, o saudoso Tancredo Neves. Mas Aécio tem estilo próprio, tendo herdado do avô o profissionalismo e aquela simpatia natural.

O debate foi de alto nível e mais competente ainda foi o discurso do jovem orador. Respeitou o governo, proferiu um discurso com argumentos bem fundamentados, reconhecendo-lhe as qualidades e dizendo verdades com elegância e firmeza.

Embora a política seja uma ciência, mas é também uma arte. Aliás, em relação aos políticos, ela é bem mais arte do que ciência. Prova disso é o fenômeno Lula. Aliás, não é o mesmo caso de Dilma, que, não tendo a liderança e competência naturais de Lula, entretanto exerce a política muito mais como uma dedicada e estudiosa técnica.

Apesar dos pesares, acho que a presidenta vai muito bem, pelo menos até agora, nesses três meses de governo. Discreta, dotada de personalidade marcante, preferiu divergir dos rumos de Lula em relação ao estilo populista e assistencialista dele. Acho que por isso mesmo está agradando ou, pelo menos, não está desagradando tanto.

Sem dúvida, o Brasil está vivendo um grande momento político e o futuro nos reserva melhores rumos, com uma oposição responsável e o governo, por isso mesmo, mais atento aos novos caminhos.

Lula, a meu ver, já cumpriu o papel que tinha que cumprir nessa transição para uma verdadeira democracia e espero que ele passe a fazer o que mais gosta, que é usar o palanque. Está com a vida feita, o futuro materialmente garantido e pelo visto vai ganhar muito dinheiro fazendo palestras pelas universidades do planeta.

Quanto a Dilma, graças a sua forte personalidade, espera-se que ela se saia bem em relação aos aloprados. Não entendi a nomeação de Genuíno para assessorar o Ministério da Defesa, mas... ninguém é perfeito, nem mesmo ela. Como dizem que o mal por si se destrói, acho que será apenas uma questão de tempo.

Quanto a Aécio, não é difícil de prever o brilhante e futuro estadista que tem à sua frente, pois como poucos, sabe aliar a política como ciência e como arte.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Quoando vale a pena morrer

A não ser para aquele pessimista da piada, mais cedo ou mais tarde chegará o nosso dia.

Um dos heróis de Shakespeare, cujo nome não me ocorre no momento dizia que “mais vezes que o corajoso, morre o covarde, pois o corajoso sabe enfrentar a sua hora, ao passo que o covarde morre todos os dias”. A frase é mais ou menos essa.

Lembrei-me da frase refletindo sobre a lição de coragem que o grande José Alencar acaba de nos dar. Lutou, resistiu, mas jamais se acovardou diante da possibilidade da passagem para outro plano.

Homem bem humorado, “mineirinho” por derradeiro, conversa mansa e macia, mas de franqueza assustadora, demonstrou que além das inúmeras vitórias conquistadas e que a vida lhe proporcionou teve a humildade como norte e sobriedade (serenidade) como bandeira.

Homem de poucos estudos formais, mas de inteligência rara e autêntico fazedor de frases. Viveu até os últimos dias a ensinar o que os antigos chamavam de “regras do bom viver”, que com certeza aprendeu na universidade da vida.

Eu costumo dizer que a diferença entre o sábio e o sabido é que o sabido pensa que é sábio. E nesse sentido não hesito em dizer que José Alencar foi um sábio, pois sabia que o sabido, como o apressado, normalmente come cru.

Nosso ex-vice-presidente não é apenas um autêntico líder que partiu. É um homem que legou à sua pátria um exemplo de vida digno de ser imitado em todos os sentidos.

O Brasil é e sempre foi assim: um país cheio de contrastes e de contrários. Por vezes, o país do faz de conta, por vezes, o país que vai dar certo.