ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

jsc-2@uol.com.br


sábado, 24 de abril de 2010

A farda ou o professor

A farda ou o professor


Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)

Refiro-me ao artigo publicado em jornal local de autoria da professora Telma Araújo, em 16 de abril próximo passado. Ali a mestra traça um paralelo entre uma determinada escola que exige que o aluno só seja aceito na sala de aula trajando o fardamento completo e o fato de a mesma escola não haver preenchido ainda o quadro de professores, deixando os discípulos desocupados em muito momentos em que deveriam estar em sala de aula.

Pergunta a mestra: “o que é mais importante: o professor ou a farda?”

A pergunta induz logicamente a uma resposta, ou seja, mais importante seria a presença do professor.

Contudo, discordo, salvo melhor juízo, da dedução sugerida pela autora. A farda é uma questão de identidade social, sentimento de pertencimento a um grupo de trabalho ou estudo, de disciplina, e, farda incompleta não é farda. Se o regulamento do colégio prevê o uso de farda, que se cumpra o regulamento, em nome do bom e necessário processo formativo do alunado. A falta de professor é problema de outra natureza e que deve ser buscada a solução independentemente de outros fatores que envolvem os objetivos educacionais.

A propósito, um dia desses um jornal estampou a fotografia de um professor que além de mal trajado calçava sandálias conhecidas como japonesas. É de se perguntar, pode-se também exigir do aluno o uso do fardamento completo diante de um professor mal trajado e com apresentação tão lastimável?

Educação, a meu ver, é uma via de mão dupla e sua maior arma é o exemplo, como diria o mestre Paulo Freire “ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo”. Assim, tudo que se pretende cobrar do aluno deve ser cobrado com muito mais veemência do professor.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O amigo da onça

O amigo da onça








No Brasil até as tragédias às vezes são hilárias. Enfim, parece mesmo não ser um país sério, conforme o francês De Gaulle.

Há tempos o jurista e meu amigo de faculdade José Paulo Cavalcanti escreveu sobre um crime então inafiançável ocorrido nos confins do sertão Nordestino, consistente numa prisão em flagrante de um matuto que matara um tatu-peba para matar a própria fome. Transferido algemado para uma delegacia do Recife, há cerca de 600 km de casa, o pobre homem sequer assuntava sobre o que estava se passando na vida dele. Não fora Zé Paulinho assumir a causa do pobre diabo, até hoje deveria estar mofando pelas cadeias da vida.

Na ocasião, em competente artigo na revista Veja nosso jurista comentou: tivesse o pobre homem atirado no guarda que o prendeu, livrado o flagrante, iria responder o processo em liberdade, pois assim diz a Lei. O erro dele foi deixar o guarda vivo e se deixar prender pelo “assassinato” do tatu-peba.

Devo esclarecer que à época quem matava animal silvestre cometia crime inafiançável. A legislação evoluiu um pouco nesse sentido.

Mas o motivo dessa lera é outro.

Um matuto, em plena selva amazônica, foi atacado por uma onça. Teve a sorte de conseguir se defender e matou a onça. Preso, levou logo uma lição de moral do guarda florestal.

- O senhor compreende a gravidade do crime que cometeu?

- Eu? – indagou o pobre homem.

- Sim senhor, o senhor assassinou um animal silvestre que é protegido pela nossa legislação!

- Mas ‘seu’ guarda, era ela ou eu. A onça estava querendo me comer. Tive que matá-la pra me defender.

- Só que o senhor não podia ter matado a onça. Ela é protegida por Lei, portanto, o senhor vai ter que responder a um pesado processo e é bom ir contratando logo um bom advogado.

‘ - Advogado? Eu? – Ora, ‘seu’ guarda, não ganho nem para o leite das crianças, quanto mais pra contratar advogado.

Pobre homem, não sei o que fará para se safar. Tão longe, lá na distante Amazônia, não dá nem para eu pedir a Zé Paulo que lhe faça a caridade.

E o pior é que o tal guarda, ouvi dizer, é um autêntico amigo da onça.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O trem da minha vida

Era o trem da minha vida:


Corria devagarinho,

Era lindo o meu carrinho

Desse trem da minha vida.



Depois, porém, eu cresci

E o meu trem pequenino

Ficou pra outro menino

Que nem sequer conheci.



Mas a vida é mesmo assim,

Pois depois que a gente cresce

Nosso trem desaparece

Nas montanhas do sem fim.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Briga de bicudos

Briga de Bicudos

Já diziam os mais antigos que dois bicudos não se beijam.

Soube domingo passado, no gazebo de Gil/Carlinhos Pacheco, nos momentos dedicados a fofocas regadas a cerveja gelada, de desentendimento havido entre dois titãs do nosso Estado: o martinense François Silvestre e o ítalo-brasileiro, desembargador Sábato Barbosa D'Andréa.

François teria tirado uma brincadeira através de uma de suas crônicas com o referido amigo, o qual não gostara da lera.

Tomando conhecimento da insatisfação do doutor Sábato d’Andréa, François publicou nova crônica, com a coragem e a humildade que lhe é peculiar, pedindo desculpas pelo mal entendido e estendendo a mão amiga à reconciliação.

Conheço François bem mais do que conheço o desembargador, que há anos não tenho o prazer de conviver. E conheço o bastante para saber que François é um homem de coragem, de atitude e de destemor, daí acreditar na sinceridade da mão estendida. Mão da concórdia, mão de um homem de bem, estendida para outro homem de bem.

Portanto, espero que o doutor Sábato saiba bem valorizar a atitude de François, que não é de medo ou de bajulação, mas de respeito, lhaneza e cavalheirismo.

Enfim, amizade de dois grandes norte riograndenses que não pode se desgastar por conta de um mal entendido. Todos sairíamos perdendo, afinal.

Aliás, gostaria de estar presente durante a bebemoração do reencontro.

Parabéns François, como sempre, você é um exemplo para todos nós. E pare com suas brincadeiras de gosto duvidoso (RS).

.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Lula e a greve de fome

Lula e a greve de fome




Não resisto. Registro.

Semana passada li na coluna do grande jornalista Walter Gomes uma citação sobre uma historinha contada por outro papa dessa nobre profissão, o professor Elio Gaspari.

Segundo o primeiro (desculpem o trocadilho), Élio jura que em 1980, quando o então sindicalista Lula penou 31 dias de cadeia, por motivo político, o atual Presidente da República resolveu fazer uma greve de fome, em sinal de protesto.

O primeiro ponto que me chama atenção é a contradição presidencial em querer comparar os presos políticos cubanos, em greve similar, com os bandidos de São Paulo. Nada a ver. Contudo, como nosso Presidente tem cometido em suas falas de improviso algumas gafes – propositais ou não - admito que ele estivesse diante de uma, como se diz na gíria, saia justa, posto que o grevista Zapata morreu, infelizmente, quando nosso Presidente visitava o amigo de longa data, Fidel. Realmente confesso que não sei, fora eu a “vítima” entrevistada, se eu teria me saído melhor, naquela angustiante hora. É como diz o povão: certas horas, melhor ficar calado; ou “em boca fechada não entra mosquito”. Mas Lula falou e tá falado. Qualquer um de nós estamos sujeitos a situações embaraçosas.

Agora, o que não vejo saída, voltando à “vaca fria”, é para o que se passou com a greve de fome engendrada por Lula quando sindicalista, conforme citada anteriormente. Segundo Gaspari, ao chegar o quarto e último dia da greve Lula foi flagrado escondendo guloseimas. Mas não se deu por achado e protestou com veemência:

- Como esse cara é xiita. O que é que tem guardarmos duas balinhas, companheiro?

Agora, durmam com um barulho desses...

Lula e a greve de fome

Lula e a greve de fome




Não resisto. Registro.

Semana passada li na coluna do grande jornalista Walter Gomes uma citação sobre uma historinha contada por outro papa dessa nobre profissão, o professor Elio Gaspari.

Segundo o primeiro (desculpem o trocadilho), Élio jura que em 1980, quando o então sindicalista Lula penou 31 dias de cadeia, por motivo político, o atual Presidente da República resolveu fazer uma greve de fome, em sinal de protesto.

O primeiro ponto que me chama atenção é a contradição presidencial em querer comparar os presos políticos cubanos, em greve similar, com os bandidos de São Paulo. Nada a ver. Contudo, como nosso Presidente tem cometido em suas falas de improviso algumas gafes – propositais ou não - admito que ele estivesse diante de uma, como se diz na gíria, saia justa, posto que o grevista Zapata morreu, infelizmente, quando nosso Presidente visitava o amigo de longa data, Fidel. Realmente confesso que não sei, fora eu a “vítima” entrevistada, se eu teria me saído melhor, naquela angustiante hora. É como diz o povão: certas horas, melhor ficar calado; ou “em boca fechada não entra mosquito”. Mas Lula falou e tá falado. Qualquer um de nós estamos sujeitos a situações embaraçosas.

Agora, o que não vejo saída, voltando à “vaca fria”, é para o que se passou com a greve de fome engendrada por Lula quando sindicalista, conforme citada anteriormente. Segundo Gaspari, ao chegar o quarto e último dia da greve Lula foi flagrado escondendo guloseimas. Mas não se deu por achado e protestou com veemência:

- Como esse cara é xiita. O que é que tem guardarmos duas balinhas, companheiro?

Agora, durmam com um barulho desses...