Da sexta para o sábado, pleno Carnatal, perdi o sono e liguei a televisão. Parei num dos canais que estava mostrando ao vivo o desfile do referido show. O grande público, jovem em sua maioria, dança animadamente ao som de uma música tipo axé, cuja letra começa assim: “Eu te amo, P...”. Embora me sinta a essa altura um velho ultrapassado, tenho vergonha de transcrever o palavrão contido na tal música, em respeito aos meus leitores, eu que jamais escrevi qualquer artigo utilizando-me de linguagem chula.
Confesso que fiquei estarrecido com os berros do cantor e autor da grande obra que, aliás, jactava-se de que estaria sendo perseguido por determinada emissora de televisão que se negara em divulgar sua bela canção.
Acho que o termo censura está sendo substituído por falta de gosto e de um verdadeiro sentido das coisas em geral. Uma coisa é se contar uma piada, por mais pornográfica que seja, a boca miúda, entre adultos e de formação moral já consolidada; outra coisa é lançar ao ar expressão tão deplorável como a utilizada na referida música, para que a juventude decore a letra e ache que está tudo certo. Aliás, tive ainda oportunidade de ouvir a segunda música do mesmo autor, de letra ainda mais duvidosa. Tratava-se de uma pretensa homenagem ao falecido músico e poeta Raul Seixas. Pretendeu o nosso herói rimar a palavra raUL com c...
Sei que serei considerado por muitos como retrógrado, “babaca” e demais coisas do gênero. Antes assim. Aconselho que os pais realmente exerçam certa censura sobre o que os seus filhos estão a absorver a título de cultura modernista, para que não se amplie ainda mais o caos que está a predominar em nossa sociedade.
O que se salvou nesse fatídico sábado foi a prazerosa visita que Marcinha e eu fizemos ao Instituto Ludovico, que é mantido pelos descendentes diretos do saudoso Câmara Cascudo. Ali sim, conhecemos um pouco mais da inesgotável obra do grande mestre e rememoramos um Brasil de saraus e bibliotecas que a memória do tempo está teimando em tentar apagar.
Vale a pena uma visita ao Instituto Ludovico, que a competente Daliana com a participação de toda a família instalou na antiga casa em que viveu o Mestre Cascudo, na Avenida Junqueira Ayres.
Ali, não só os alunos, mas os professores de hoje em dia entrariam em contato mais direto com o que deva ser considerado uma verdadeira mostra de cultura viva.
Salvei meu sábado, graças a Deus!
Por falar nisso, nosso Diógenes está de volta, trazendo na bagagem inúmeras estorinhas geniais.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
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