Há cerca de duas semanas vários jornalistas estranharam o fato de os deputados da atual legislatura norte-riograndense não saberem entoar o hino do nosso Estado.
A notícia despertou minha curiosidade. Desenvolvi uma pequena pesquisa entre diversos professores do primeiro e segundo graus e os pesquisados me responderam que nem eles nem os respectivos alunos conheciam a letra do hino. A música, alguns conseguiram lembrar de duas ou três frases musicais. Foi o máximo que consegui.
Portanto, a grosso modo pode-se dizer que praticamente ninguém sabe cantar o hino do Estado. Por que, então, cobrar isso dos representantes do povo?
Mas aí minha curiosidade ficou ainda mais aguçada. Fui ler atentamente o nosso hino e nele descobri os seguintes verbetes, verdadeiras pérolas de um português inacessível aos dias de hoje: esplendente, alarde, sustém, arcanos, Amazônia Caldeira, descantam, atlante, incende, recama, adejo... e assim por diante. Aliás, por coincidência três das palavras acima citadas são desconhecidas dos dicionários em geral.
Portanto, hino de letra e música difíceis, além de pouco divulgados.
Bem melhor fizeram os cariocas, ao adotarem como hino uma marchinha carnavalesca (Cidade Maravilhosa), que a todos cantam e encantam.
Já defendi daqui desse meu espaço que nosso hino deveria ser a famosa, cantada e decantada Serenata do Pescador, de Otoniel Menezes e Eduardo Medeiros, desde que se resumisse o longo embora belo poema. Duvido que nossos deputados pelo menos não cantarolassem. Quanto à boemia em geral, nem falar.
Em todo o caso, “para não dizer que não falei de flores”, eis aí minha modesta contribuição, isto é, a divulgação da letra do nosso hino oficial.
Antes, porém, algumas observações que chamam atenção a minha ignorância.
Primeiro, acho injusto chamar o holandês de astuto. Discussão que envolveria por certo algumas taças do vinho Cascudo.
Segundo, quem diabos é esse tal de Caldeira?
Terceiro, qual é o tal mistério escalado que o Brasil acordou?
Quarto: por que razão a glória do Rio Grande do Norte flutua em Belém?
Tem outras coisitas mais que não me convencem no longo poema.
Portanto, é querer exigir demais que nossos deputados cantem tão complexo e complicado hino.
É uma pena. Ei-lo.
HINO DO RIO GRANDE DO NORTE
Rio Grande do Norte esplendente
Indomado guerreiro e gentil,
Nem tua alma domina o insolente,
Nem o alarde o teu peito viril !
Na vanguarda, na fúria da guerra
Já domaste o astuto holandês !
E nos pampas distantes quem erra,
Ninguém ousa afrontar-te outra vez!
Da tua alma nasceu Miguelinho,
Nós, como ele, nascemos também,
Do civismo no rude caminho,
Sua glória nos leva e sustém!
Estribrilho
A tua alma transborda de glória!
No teu peito transborda o valor!
Nos arcanos revoltos da história
Potiguares é o povo senhor!
II
Foi de ti que o caminho encantado
Da Amazônia Caldeira encontrou,
Foi contigo o mistério escalado,
Foi por ti que o Brasil acordou!
Da conquista formaste a vanguarda,
Tua glória flutua em Belém!
Teu esforço o mistério inda guarda
Mas não pode negá-lo a ninguém!
É por ti que teus filhos descantam,
Nem te esquecem, distante, jamais!
Nem os bravos seus feitos suplantam
Nem teus filhos respeitam rivais!
III
Terra filha de sol deslumbrante,
És o peito da Pátria e de um mundo
A teus pés derramar trepidante,
Vem atlante o seu canto profundo!
Linda aurora que incende o teu seio,
Se recama florida e sem par,
Lembra uma harpa, é um salmo, um gorjeio,
Uma orquestra de luz sobre o mar!
Tuas noites profundas, tão belas,
Enchem a alma de funda emoção,
Quanto sonho na luz das estrelas,
Quanto adejo no teu coração
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
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