ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

HINOS

Há cerca de duas semanas vários jornalistas estranharam o fato de os deputados da atual legislatura norte-riograndense não saberem entoar o hino do nosso Estado.


A notícia despertou minha curiosidade. Desenvolvi uma pequena pesquisa entre diversos professores do primeiro e segundo graus e os pesquisados me responderam que nem eles nem os respectivos alunos conheciam a letra do hino. A música, alguns conseguiram lembrar de duas ou três frases musicais. Foi o máximo que consegui.

Portanto, a grosso modo pode-se dizer que praticamente ninguém sabe cantar o hino do Estado. Por que, então, cobrar isso dos representantes do povo?

Mas aí minha curiosidade ficou ainda mais aguçada. Fui ler atentamente o nosso hino e nele descobri os seguintes verbetes, verdadeiras pérolas de um português inacessível aos dias de hoje: esplendente, alarde, sustém, arcanos, Amazônia Caldeira, descantam, atlante, incende, recama, adejo... e assim por diante. Aliás, por coincidência três das palavras acima citadas são desconhecidas dos dicionários em geral.

Portanto, hino de letra e música difíceis, além de pouco divulgados.

Bem melhor fizeram os cariocas, ao adotarem como hino uma marchinha carnavalesca (Cidade Maravilhosa), que a todos cantam e encantam.

Já defendi daqui desse meu espaço que nosso hino deveria ser a famosa, cantada e decantada Serenata do Pescador, de Otoniel Menezes e Eduardo Medeiros, desde que se resumisse o longo embora belo poema. Duvido que nossos deputados pelo menos não cantarolassem. Quanto à boemia em geral, nem falar.

Em todo o caso, “para não dizer que não falei de flores”, eis aí minha modesta contribuição, isto é, a divulgação da letra do nosso hino oficial.

Antes, porém, algumas observações que chamam atenção a minha ignorância.

Primeiro, acho injusto chamar o holandês de astuto. Discussão que envolveria por certo algumas taças do vinho Cascudo.

Segundo, quem diabos é esse tal de Caldeira?

Terceiro, qual é o tal mistério escalado que o Brasil acordou?

Quarto: por que razão a glória do Rio Grande do Norte flutua em Belém?

Tem outras coisitas mais que não me convencem no longo poema.

Portanto, é querer exigir demais que nossos deputados cantem tão complexo e complicado hino.

É uma pena. Ei-lo.



HINO DO RIO GRANDE DO NORTE

Rio Grande do Norte esplendente

Indomado guerreiro e gentil,

Nem tua alma domina o insolente,

Nem o alarde o teu peito viril !

Na vanguarda, na fúria da guerra

Já domaste o astuto holandês !

E nos pampas distantes quem erra,

Ninguém ousa afrontar-te outra vez!

Da tua alma nasceu Miguelinho,

Nós, como ele, nascemos também,

Do civismo no rude caminho,

Sua glória nos leva e sustém!

Estribrilho

A tua alma transborda de glória!

No teu peito transborda o valor!

Nos arcanos revoltos da história

Potiguares é o povo senhor!

II

Foi de ti que o caminho encantado

Da Amazônia Caldeira encontrou,

Foi contigo o mistério escalado,

Foi por ti que o Brasil acordou!

Da conquista formaste a vanguarda,

Tua glória flutua em Belém!

Teu esforço o mistério inda guarda

Mas não pode negá-lo a ninguém!

É por ti que teus filhos descantam,

Nem te esquecem, distante, jamais!

Nem os bravos seus feitos suplantam

Nem teus filhos respeitam rivais!

III

Terra filha de sol deslumbrante,

És o peito da Pátria e de um mundo

A teus pés derramar trepidante,

Vem atlante o seu canto profundo!

Linda aurora que incende o teu seio,

Se recama florida e sem par,

Lembra uma harpa, é um salmo, um gorjeio,

Uma orquestra de luz sobre o mar!

Tuas noites profundas, tão belas,

Enchem a alma de funda emoção,

Quanto sonho na luz das estrelas,

Quanto adejo no teu coração

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