ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
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quarta-feira, 4 de maio de 2011

A volta do boêmio

Não faço referência ao famoso samba-canção eternizado na voz do velho Nelson Gonçalves.

Também aviso de logo que me considero um boêmio, pois curto a boêmia. Refiro-me à boa boêmia, a que pratico com meus amigos e que meu saudoso pai me ensinou. São pessoas de espírito alegre, que gostam de música, poesia e de jogar (boa) conversa fora. Pode ser em um bar ou em uma reunião domingueira, de preferência em lugares sossegados.

Mas a palavra tem também seu lado pouco lisonjeiro, ligando por vezes seu sentido a pessoas irresponsáveis, hedonistas, que saem pela vida a fora e que por vezes não tendo pátria nem profissão digna, praticam atos à margem das boas normas de conduta, quer por instinto de sobrevivência, quer por egoísmo, em favor próprio e/ou do grupo a que pertence.

O cristianismo nos ensina que devemos dar a outra face, perdoar até nossos próprios inimigos ou devedores. Entretanto, Cristo expulsou com veemência os vendilhões do templo.

Deduzo que podemos e devemos perdoar aqueles que erram, mas jamais estimulá-los a repetir erros antigos. E mais, é preciso que certos erros, além de reprovados, sejam penalizados pela sociedade. Por exemplo, se alguém alcançou o patrimônio público, o mínimo que se espera é que o patrimônio seja ressarcido.

Em 2.005 Delúbio confessou, apesar do eufemismo (dinheiro não contabilizado) que praticou atos financeiros pouco recomendáveis. O processo hiberna no Supremo até hoje (tomara que não prescreva). Mas ainda que prescreva, a prescrição não transforma o ato praticado num ato de moral. Apenas ele deixa praticamente de existir no mundo jurídico, mas não se apaga na memória da sociedade.

Por enquanto, pelo menos, não se pode nem falar em perdão, expresso ou tácito, já que a ação praticada pelo boêmio Delúbio ainda acha-se “sub-judice”.

Mas nosso herói pediu seu retorno ao partido político a que pertencia, de forma “emocionante”, isto é, aquele mesmo cinismo que expôs ao usar o eufemismo “dinheiro não contabilizado”.

O partido aceitou Delúbio de volta. Ao menos não esperou pelo julgamento do Supremo. O presidente do partido, alegando motivo de doença, renunciou ao resto do mandato.

Ou seja, continua tudo como antes, no quartel de Abrantes.

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