Certa vez meu estimado e hoje finado professor Bento Ferreira de Carvalho descreveu, na informalidade, o então INPS como uma organização esculhambada, enquanto o jogo do bicho como uma esculhambação organizada. Explicou-me a tese e convenceu-me. Só que quando repassei a piada ao meu saudoso pai ele retrucou-me: como piada está boa, mas lembre-se de que a palavra esculhambação é uma palavra chula, não deve ser usada em certos ambientes etc.
Na semana passada, em função do artigo que hoje escrevo, tive a curiosidade de consultar dois dicionários, e lá está a palavra esculhambação como uma palavra normal (um deles apenas destaca que se trata de um regionalismo e que significa um estado de desordem, de anarquia, de bagunça, de avacalhação, dentre outros significados. Portanto, meu pai hoje estaria superado.
Superado fiquei eu também, ou melhor, estarrecido, ao ouvir e depois ler uma reportagem segundo a qual o Ministério da Educação e Cultura - MEC defende que aluno não precisa seguir algumas regras da gramática para falar de forma correta.
Como exemplo, cita o livro publicado às expensas daquela instituição intitulado “Por uma vida melhor”, aprovado para o ensino da Língua Portuguesa destinado a Educação de Jovens e Adultos -EJA de escolas públicas.
A título de ilustração, no citado livro, às folhas 14 agora permite a frase: “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”.
A orientação aos alunos continua na página seguinte: “Mas eu posso falar ‘os livro’?”. E a resposta dos autores: “Claro que pode. Mas, com uma ressalva, dependendo da situação a pessoa corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico”.
(I)moral da estória: pelo que estou entendendo, se um professor de Português, agora, fizer alguma observação ao aluno no sentido de que está falando errado ele poderá vir a ser processado por dano moral, já que está sendo linguisticamente preconceituoso.
Mas agora, a confusão: o MEC informou ainda que a norma culta da língua portuguesa será sempre a exigida nas provas e avaliações. Agora, durma-se com um barulho desses.
O grande filósofo nacional Chacrinha tinha razão quando dizia: “Eu vim para confundir e não para explicar”.
Portanto, agora sim, estamos todos confundidos. Falar errado, agora pooooode. Escrever errado, também pooooode. Mas se escrever errado na avaliação (vestibular, por exemplo, aí leva pau).
É ou não e uma esculhambação?
Enfim, matemática num sou bam, bam, bam naum, mas português eu agaranto.
quinta-feira, 19 de maio de 2011
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LÍNGUA (Georgeana Alves)
ResponderExcluirHá muitas línguas
A língua do Pê
Do Saci-Pererê
Do Senado
Do favelado
Do letrado
Do letrista
Do lingüista
Há línguas extintas
Há muitas línguas
A língua das tintas
Da pintura
Da Magistratura
Da prisão
Da mansão
Da nobreza
Da fraqueza
Da regência
Da descrença
Há uma língua Azul
Há muitas línguas
A língua de Raul
De queixas
De Seixas
De Camarões
De Camões
Há língua de “palmo”,
De “trapo”
De “badalo”
De Saramago!!!
Há línguas no museu
Há língua de Abreu
De formação
De Catalão
De Libra
De fibra
De Louis Braille!
Há línguas no baile
Há muitas línguas
A língua indiferente do indiferente
A língua oposta do oposto
A língua nacional do irracional
A língua do jornal
Do sinal
Do santo
Do Esperanto
Do Romeno
Do tormento
Do Chico Bento!
A língua de Castro
A língua do astro
Do roqueiro
Do grafiteiro
Do “jeitinho brasileiro”!
Há línguas no mundo inteiro!
A galega
A francesa
A espanhola...
Há língua portuguesa!
Filha do Latim
Falada por Jobim
Em Portugal,
Angola,
Guiné-Bissau... Cresceu;
E a tribo Guarani também aprendeu!
Língua da Ilha da Madeira...
Do Brasil!
À brasileira!
Do nordestino
Do velho
Do jovem
Do menino
Do mineiro...
Português brasileiro
Também é Português verdadeiro!
Há línguas e línguas
Há muitas línguas
A língua Viperina
A Neolatina
A analfabética
A poética
A Materna
A “eterna”...
A língua da “guerra”,
A língua Viva,
E viva todas as línguas da Terra!
A verbal
A musical
A gestual
A obscena
A da cena...
A língua da Lei
Da Canção
Da Boa Razão
Do Destino
Dos Meios
De Afonso Arinos...!
Há língua nas leis do mundo inteiro!
Com a língua se acha o respeito
O direito
A dignidade
A amizade
A razão
A compreensão...
O caminho da inclusão!
Língua pra falar
Pra amar
Pra participar
Pra ler
Pra escrever...
Pra sonhar!
Com a língua se viaja
Pela imagem
Pela coragem...
Pelos mares!
Com a língua se descobre novos lugares
Outras terras
Outras Serras
Outros saberes!
Assim a quis
Machado de Assis
Com a língua Machado criava
Os dias quentes de verão
Os jardins da primavera
E o beijo dos beija-flores!
E recriava o romance dos amores!
E no jardim da infância
Um pouco de lembrança
Das cores,
Das flores...
Há muitas línguas
A língua que forma
Que informa
Que inclui
Que exclui...
Línguas que se destroem
Línguas que se constroem
Línguas no trem...
Língua é poder
É força
E domina quem a tem!
Há muitas línguas
Há homens sem língua
Há homens de língua
Há, porém, homens sem vozes
Porque lhes roubam a língua!
Mata-se o Homem, mata-se a língua
Mata-se a língua, mata-se o homem
E mata-se todo o mundo!
Muda-se o Homem, muda-se a língua;
Muda-se o tempo, mudam-se as línguas,
Muda-se a língua, muda-se todo o mundo!
Há muitas línguas
Há sempre novidades,
Diferentes em toda e qualquer cidade;
E do mau uso da língua
Ficam-se as marcas na sociedade
E do Casimiriano as saudades!
A língua define origem
Traça os destinos
Ilumina na escuridão
Quebra as correntes da escravidão
Expande a mente
Torna seres mais conscientes!
Porém, com a sobrevivência na mente
O aprendizado no chão
E a incerteza na frente
Sem lei nem grei:
É a língua que encontrarei!
No entanto, resta-me a esperança
De um estalar de latidos da consciência
E ainda na minh’ existência
Poder ver
Um belo saber
Um belo viver
E toda criança ser bem sucedida quando crescer!