ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Agora nós pode

Certa vez meu estimado e hoje finado professor Bento Ferreira de Carvalho descreveu, na informalidade, o então INPS como uma organização esculhambada, enquanto o jogo do bicho como uma esculhambação organizada. Explicou-me a tese e convenceu-me. Só que quando repassei a piada ao meu saudoso pai ele retrucou-me: como piada está boa, mas lembre-se de que a palavra esculhambação é uma palavra chula, não deve ser usada em certos ambientes etc.

Na semana passada, em função do artigo que hoje escrevo, tive a curiosidade de consultar dois dicionários, e lá está a palavra esculhambação como uma palavra normal (um deles apenas destaca que se trata de um regionalismo e que significa um estado de desordem, de anarquia, de bagunça, de avacalhação, dentre outros significados. Portanto, meu pai hoje estaria superado.

Superado fiquei eu também, ou melhor, estarrecido, ao ouvir e depois ler uma reportagem segundo a qual o Ministério da Educação e Cultura - MEC defende que aluno não precisa seguir algumas regras da gramática para falar de forma correta.

Como exemplo, cita o livro publicado às expensas daquela instituição intitulado “Por uma vida melhor”, aprovado para o ensino da Língua Portuguesa destinado a Educação de Jovens e Adultos -EJA de escolas públicas.

A título de ilustração, no citado livro, às folhas 14 agora permite a frase: “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”.

A orientação aos alunos continua na página seguinte: “Mas eu posso falar ‘os livro’?”. E a resposta dos autores: “Claro que pode. Mas, com uma ressalva, dependendo da situação a pessoa corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico”.

(I)moral da estória: pelo que estou entendendo, se um professor de Português, agora, fizer alguma observação ao aluno no sentido de que está falando errado ele poderá vir a ser processado por dano moral, já que está sendo linguisticamente preconceituoso.

Mas agora, a confusão: o MEC informou ainda que a norma culta da língua portuguesa será sempre a exigida nas provas e avaliações. Agora, durma-se com um barulho desses.

O grande filósofo nacional Chacrinha tinha razão quando dizia: “Eu vim para confundir e não para explicar”.

Portanto, agora sim, estamos todos confundidos. Falar errado, agora pooooode. Escrever errado, também pooooode. Mas se escrever errado na avaliação (vestibular, por exemplo, aí leva pau).

É ou não e uma esculhambação?

Enfim, matemática num sou bam, bam, bam naum, mas português eu agaranto.

Um comentário:

  1. LÍNGUA (Georgeana Alves)

    Há muitas línguas
    A língua do Pê
    Do Saci-Pererê
    Do Senado
    Do favelado
    Do letrado
    Do letrista
    Do lingüista

    Há línguas extintas
    Há muitas línguas
    A língua das tintas
    Da pintura
    Da Magistratura
    Da prisão
    Da mansão
    Da nobreza
    Da fraqueza
    Da regência
    Da descrença

    Há uma língua Azul
    Há muitas línguas
    A língua de Raul
    De queixas
    De Seixas
    De Camarões
    De Camões

    Há língua de “palmo”,
    De “trapo”
    De “badalo”
    De Saramago!!!

    Há línguas no museu
    Há língua de Abreu
    De formação
    De Catalão
    De Libra
    De fibra
    De Louis Braille!

    Há línguas no baile
    Há muitas línguas
    A língua indiferente do indiferente
    A língua oposta do oposto
    A língua nacional do irracional

    A língua do jornal
    Do sinal
    Do santo
    Do Esperanto
    Do Romeno
    Do tormento
    Do Chico Bento!

    A língua de Castro
    A língua do astro
    Do roqueiro
    Do grafiteiro
    Do “jeitinho brasileiro”!

    Há línguas no mundo inteiro!
    A galega
    A francesa
    A espanhola...

    Há língua portuguesa!
    Filha do Latim
    Falada por Jobim
    Em Portugal,
    Angola,
    Guiné-Bissau... Cresceu;
    E a tribo Guarani também aprendeu!

    Língua da Ilha da Madeira...
    Do Brasil!
    À brasileira!
    Do nordestino
    Do velho
    Do jovem
    Do menino
    Do mineiro...

    Português brasileiro
    Também é Português verdadeiro!

    Há línguas e línguas
    Há muitas línguas
    A língua Viperina
    A Neolatina
    A analfabética
    A poética
    A Materna
    A “eterna”...

    A língua da “guerra”,
    A língua Viva,
    E viva todas as línguas da Terra!
    A verbal
    A musical
    A gestual
    A obscena
    A da cena...

    A língua da Lei
    Da Canção
    Da Boa Razão
    Do Destino
    Dos Meios
    De Afonso Arinos...!

    Há língua nas leis do mundo inteiro!

    Com a língua se acha o respeito
    O direito
    A dignidade
    A amizade
    A razão
    A compreensão...
    O caminho da inclusão!

    Língua pra falar
    Pra amar
    Pra participar
    Pra ler
    Pra escrever...
    Pra sonhar!

    Com a língua se viaja
    Pela imagem
    Pela coragem...
    Pelos mares!

    Com a língua se descobre novos lugares
    Outras terras
    Outras Serras
    Outros saberes!

    Assim a quis
    Machado de Assis
    Com a língua Machado criava
    Os dias quentes de verão
    Os jardins da primavera
    E o beijo dos beija-flores!
    E recriava o romance dos amores!

    E no jardim da infância
    Um pouco de lembrança
    Das cores,
    Das flores...

    Há muitas línguas
    A língua que forma
    Que informa
    Que inclui
    Que exclui...

    Línguas que se destroem
    Línguas que se constroem
    Línguas no trem...

    Língua é poder
    É força
    E domina quem a tem!

    Há muitas línguas
    Há homens sem língua
    Há homens de língua
    Há, porém, homens sem vozes
    Porque lhes roubam a língua!

    Mata-se o Homem, mata-se a língua
    Mata-se a língua, mata-se o homem
    E mata-se todo o mundo!

    Muda-se o Homem, muda-se a língua;
    Muda-se o tempo, mudam-se as línguas,
    Muda-se a língua, muda-se todo o mundo!

    Há muitas línguas
    Há sempre novidades,
    Diferentes em toda e qualquer cidade;
    E do mau uso da língua
    Ficam-se as marcas na sociedade
    E do Casimiriano as saudades!

    A língua define origem
    Traça os destinos
    Ilumina na escuridão
    Quebra as correntes da escravidão
    Expande a mente
    Torna seres mais conscientes!

    Porém, com a sobrevivência na mente
    O aprendizado no chão
    E a incerteza na frente
    Sem lei nem grei:
    É a língua que encontrarei!

    No entanto, resta-me a esperança
    De um estalar de latidos da consciência
    E ainda na minh’ existência
    Poder ver
    Um belo saber
    Um belo viver
    E toda criança ser bem sucedida quando crescer!

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