ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A greve da USP

Em pleno golpe de 64 eu estava casado de pouco, embora fosse estudante concluindo o curso de Filosofia. Depois fui estudar Direito e ao tempo que mudava de ano também ia ampliando a família e as responsabilidades para mantê-la.


Não me envolvi ou tomei qualquer partido. Minha situação era muito peculiar. Primeiro, mal tinha tempo para dormir, pois além dos estudos trabalhava duro nos demais expedientes. Além do mais, meu pai era militar, do Exército, o que tornava nossa situação ainda mais delicada, pois ao mesmo tempo em que ele estava prestes a ir para a reserva, paralelamente era diretor do Sindicato dos Professores de Pernambuco, órgão esse que deflagrou a primeira greve do Brasil pós-64.

Na época meus colegas de turma estavam divididos em suas opiniões políticas e eu tinha amigo dos dois lados. Hamilton Silva, por exemplo, era um grande (em todos os sentidos) comunista em vias de deixar o partido; ao mesmo tempo alunos brilhantes, como José Paulo Cavalcanti, Paulinho Henrique e outros cuja memória no momento me trai, faziam parte de uma juventude que não apoiava o golpe e que findaram por perder um ano de faculdade, por conta da repressão da época.

As greves, as reuniões, secretas ou não, as manifestações dentro e fora das faculdades sempre giram em torno de ideias.

Recordo-me que certa feita o então governador biônico Nilo Coelho (apoiado naturalmente pelos militares) visitou a Universidade Católica, por volta das 22 horas, a fim de conversar informalmente com um grupo de estudantes que estava organizando uma greve para o dia seguinte. Dispondo de informações privilegiadas, Nilo Coelho foi pessoalmente ponderar com as lideranças estudantis para que evitassem o confronto do dia seguinte, uma vez que a repressão seria para valer, podendo ocorrer, dentre outras coisas, prisões que certamente iriam prejudicar a conclusão do ano letivo.

Educadamente Nilo, ali mesmo, no pátio da Universidade, começou a conversar com os estudantes e um dos mais afoitos, o Hugo Comuna começou a destratar o Governador, que lhe passou um pito, dizendo que ali estava não na condição de colaborador das autoridades repressoras, mas zelando pelos estudantes de seu Estado. Nilo foi duro com Hugo, e Hugo botou o “rabo entre as pernas” e mudou o comportamento.

Embora eu não participasse, como já disse, diretamente de qualquer movimento, pró ou contra e como Nilo nos pegou na hora da saída do turno da noite participei daquele grupo informal de conversa.

Naqueles idos, os estudantes, certos ou errados, tinham por única bandeira o fim do golpe e a volta à democracia, além de tentar acabar com o acordo MEC-USAID.

Por isso estou estranhando que uma das bandeiras dos estudantes da USP seja pela liberação da maconha.

Será que estamos vivendo um excesso de democracia?

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