ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

jsc-2@uol.com.br


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Morrer de vergonha

Morrer de vergonha



            Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)

 

         O artigo de hoje vai ser longo, mas é o jeito. Tenho que falar sobre François Silvestre, Mano Décio Holanda e meu saudoso pai.

         François, como Décio, foi vítima de manobras (leia-se maracutaias) e maroteiros ou espertalhões. Mas François é parecido comigo. Reagiu e está aí, vivinho, contando a estória. Mas Décio, como meu pai, eram diferentes, diria até que ingênuos, em relação às maldades do mundo.

         Meu pai, no Recife do seu tempo, era considerado um dos melhores professores, porém um dia aderiu (era um dos diretores do Sindicato dos Professores) à primeira greve que foi deflagrada no Brasil após 64.

         Na condição de militar, que também o era, adiantou os fatos e organizou uma comissão de professores para fazer uma visita ao então comandante do IV Exército, general Justino Alves Bastos, e lá foi feita uma explanação mostrando as razões da greve. Moral da história: ninguém sofreu qualquer tipo de retaliação e a greve foi vitoriosa. Contudo, por conta disso meu pai findou perdendo o emprego no
Colégio Salesiano, e uma das alegações ridículas do diretor da época foi que ele era um professor superado. Logo ele!

         Pois bem, meu pai, diante de tantas humilhações ingressou na Justiça do Trabalho com um pedido de rescisão indireta, tendo o colégio o convidado para um acordo financeiramente vantajoso, mas o certo é que ele, a partir de então, passou a se c
onsiderar, ele mesmo, um professor superado, por mais que continuasse a ser respeitado pelos colegas e amado pelos ex-alunos. E mais, foi convidado (e aceitou) para lecionar na Universidade Católica e no Colégio Militar do Recife. Mas nada disso conseguiu afastar dele a pecha de "superado". Morreu poucos anos depois, e nunca mais soube manter o bom humor de outrora. Acho que morreu de vergonha.

         Peço encarecidamente aos meus poucos leitores que leiam a crônica de François Silvestre escrita em 30 de outubro passado. Nota-se, ali, que também o Mano Décio morreu de vergonha, graças aos maroteiros e sabidões da chamada sociedade civilizada.

 

 

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