ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

jsc-2@uol.com.br


quinta-feira, 11 de março de 2010

Trotes - boas lembranças

Trotes – boas lembranças




Autor: Sílvio Caldas (jsc-2@uol.com.br)



O JH publicou na semana que passou um excelente editorial sob o título “Chega de trotes sem graça”, destacando o mau gosto dos veteranos que impõem aos “feras” a humilhante e ao mesmo tempo ridícula tarefa de mendigar moedas nas principais artérias viárias da nossa cidade, atrapalhando inclusive o já tão atrapalhado trânsito. A falta de criatividade é tanto que serve apenas para revelar o que há de despreparo por trás de alguns veteranos. Ainda bem que vale ressaltar outros trotes que promovem ações sociais, o que é bem diferente.

A mesma matéria, com muita propriedade lembra que assuntos mais sérios e de maior utilidade bem poderiam unir o útil a agradável. Daí, lembre-me de alguns trotes de que presenciei em Recife do meu tempo de estudante e que valia a pena não apenas participar, mas apreciar, pelo seu bom gosto no geral, criatividade e senso de oportunidade.

Num deles, e fazendo referência a um cerco que os militares do Exército promoveram na então vizinha Faculdade de Direito, no Parque 13 de Maio, a mando do então presidente da República, Jânio Quadros, a turma de engenharia construiu um arremedo de tanque de guerra, arrastado pelos próprios feras, querendo simbolizar a ação dos militares meses antes.

Sem violência e com o devido aviso às lideranças do trote, o então comandante da Sétima Região Militar simplesmente devolveu a brincadeira enviando para confronto um tanque “de verdade” que, após espantar os estudantes, simplesmente passou por cima do tanque de fantasia, destruindo-o totalmente. O trote continuou, a marcha estudantil prosseguiu e retomou a estrepitosa batucada, dirigindo-se com dois carros alegóricos rumo ao palácio do governo, que ficava logo após a travessia da ponte sobre o rio Capibaribe. Era governador na época o general Osvaldo Cordeiro de Farias, que tinha fama de jogar baralho nas horas vagas.

Pois bem, um dos carros alegóricos transportava justamente cinco estudantes que fingiam estar sentados numa mesa, jogando baralho, devidamente portando fraques e cartolas, para lembrar claramente a alusão às autoridades que participavam do jogo.

Ao passaram em frente ao palácio do Campo das Princesas, sede do palácio do governo, lá estava, na sacada do prédio, o governador em pessoa, assistindo bem humorado o desfile. Quem viveu aqueles idos pode bem testemunhar esse meu depoimento. O trote seguiu livremente sua alegre caminhada, na mais perfeita paz e bagunça estudantil.

Nenhum estudante, naquele tempo morria afogado em piscina, nem era obrigado a pedir esmolas nos pontos de ônibus. O máximo que se permitia era raspar a cabeça dos rapazes, sendo que às moças era concedido o devido respeito. E mais: os próprios familiares dos estudantes participavam literalmente do trote, fornecendo-lhes água, lanches, tudo na mais perfeita harmonia e respeito.

Enfim, são tantos os assuntos que poderiam alegrar os trotes de hoje em dia que dá até pena a falta de criatividade de alguns bobos.

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