ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Com minhas escusas

Peço desculpas pelo trecho que vou transcrever logo abaixo. De fato, pela primeira vez neste Jornal e na minha vida publico um trecho, por pequeno que seja, de natureza pornográfica. Publicar é preciso, para que eu possa comentar e lamentar juntamente com as pessoas sérias que normalmente me lêem.


“Arriou as calças dela, levantou a blusa e comeu ela duas vezes” (...) “Zonha, o criminoso) deu um tiro no olho dele (...) Ele ficou lá meio pendurado, com um furo na cabeça”.

Pronto, três linhas apenas de amostra grátis do conto “Os Primeiros que Chegaram”, que narra, do ponto de vista da criminosa, um sequestro cometido por um casal, em que as vítimas são torturadas.

O conto acima faz parte do livro “Teresa, que Esperava as Uvas”, que integra o Programa do Governo Federal que equipa as bibliotecas das escolas públicas.

Segundo o autor da notícia, jornalista Fábio Takahashi, da Folha de São Paulo, o governo do Presidente Lula, a autora da obra e a editora defendem a escolha do livro, por possibilitar que o jovem reflita sobre a violência cotidiana. A escolha das obras é feita por comissões de professores de universidades públicas. “O livro passou por uma avaliação baseada em critérios, concorreu com muitas outras obras e foi selecionado”, afirmou a escritora do conto.

Embora não me considere nenhum puritano, confesso-me escandalizado com os rumos do Ministério da Educação (?).

Educar os jovens em relação à violência é uma coisa; explicitar em livro cenas desairosas como as que citei a pretexto de educar a juventude é outra. Afinal, que tipo de professores constitui essa comissão tão perniciosa? E mais, do ponto de vista da linguagem, que mau exemplo de estilo literário! Que pobreza!

Precisamos seguir o exemplo de instituições que vem enveredando esforços que investe na formação de leitores por meio do Projeto “Escola de Leitores” fomentando o gosto pela variedade de textos literários junto aos educadores, crianças, jovens e adultos, criando espaços e ambiências formativas, qualificando acervos, enfim contribuindo para o processo formativo dos estudantes e com a qualidade socialmente referenciada da educação.

Na minha juventude tive boas informações envolvendo insinuações sexuais, violência, mas os autores abordavam os assuntos com competência e, sobretudo arte literária. Jamais li um trecho de linguagem chula num Érico Veríssimo, por exemplo.

Claro que é muito mais fácil escrever apelando para expressões vulgares, sem o mínimo de preocupação com a linguagem escorreita. E com o jeitinho da Lei de Gerson ganham-se colocações para publicar tais baboseiras com o apoio do MEC . Será por que não tenhamos melhores escritores entre nós? Duvido muito, o problema é que bons escritores incomodam certos setores e são escorraçados e por vezes até perseguidos. Podem crer.

Andei me perguntando: sinceramente, dona Marisa, a esposa do nosso Presidente teria coragem de recomendar a leitura desse livro a uma sua neta de quinze anos de idade? Duvido muito.

Que pena!

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