ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Que mulher!

No meu tempo de criança assisti inebriado um primo meu declamar um poema, de um autor desconhecido. Era longo, de desfecho inesperado e que resumirei a seguir.

Tratava, o vate, da história de um palhaço que, cansado da vida, sob efeito de lancinante depressão, fora procurar o melhor médico da cidade.

Devidamente examinado pelo famoso psiquiatra, dele ouviu o palhaço este conselho: “Amigo, você precisa dar boas risadas, se divertir um pouco, e somente assim irá se livrar dessa depressão. Sua saúdo no geral, enfim, não está a merecer maiores cuidados. O seu problema é tédio, tristeza, depressão.

- Mas doutor, acho que para o meu mal não tem cura, o senhor acha mesmo que dando risadas irei me curar?

- Ora, meu amigo, essa tristeza findará por lhe levar para o outro lado da vida antes do tempo. Olhe, está na cidade um circo muito bom, e melhor do que o circo é o palhaço. Fui ontem assistir a função e quase morro de rir. Vale a pena você ir ao circo hoje e preste bem atenção nas engraçadas chistes que ele vai armar. Garanto que você sairá de lá bastante aliviado. Bem melhor do que lhe passar qualquer medicamento.

- Mas doutor, que ironia....

- Ironia por que meu velho?

- Porque, doutor, esse palhaço sou eu!

Lembrei-me da história desse poema ao assistir na semana que passou uma pequena entrevista de Cissa Guimarães, aquela artista que acaba de perder o filho de forma tão cruel.

Passado o período do nojo, quando se esperava encontrar a mãe arrasada pela emoção, eis que ela levanta a cabeça e, enfrentando e aceitando a vida como ela é, retorna ao teatro, onde a profissão lhe dera por papel uma comédia para despertar o bom humor das pessoas. Logo uma comédia, para quem acaba de perder o jovem filho em circunstâncias tão brutais.

Que exemplo de fé, de profissionalismo, de responsabilidade, num país que anda tão fauto de bons exemplos como o nosso.

Que mulher!

Ofereço esse modesto artigo ao poeta e internauta Diógenes, que sem querer ensinou-me a redescobrir o poema acima.

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