ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Histórias (quase) engraçadas

Mal entrado na adolescência li uma crônica, salvo engano, do grande Rubem Braga, na qual seu personagem recebera um dinheiro a mais do governo.


Honesto (naquele tempo havia dessas manias), o beneficiário recorreu à repartição que lhe pagou a mais e dirigiu-se ao caixa, para providenciar a devida devoluão do excessivo pagamento.

De saída, foi logo recebendo um "delicado" não, do caixa.

'- Impossível, amigo, nossos caixas são somente pagadores. Para recolher dinheiro para o erário dirija-se à repartição tal.

Além de honesto, o bom homem teve a paciência de no dia seguinte enfrentar outro ônibus (a estória se passava no Rio de Janeiro) e tentou a nova repartição.

- É verdade, amigo, aqui apenas recolhemos pagamentos de impostos. Mas não é seu caso. Você está apenas querendo devolver dinheiro que lhe pagamos a mais. Portanto, não se trata dee impostos. Nada podemos fazer.

Já chateado, nosso herói tentou falar fcom o chefe da tal repartição. Ao final de três horas de espera foi atendido nos seguintes termos.

- Diga logo o que deseja, amigo. Já está na hora do almoo e tenho que sair.

- Bem, senhor diretor, estou apenas querendo deevolver um dinheiro...

- Devolver? Um dinheiro? Ora, amigo, aqui não recebemos devolução, a não ser recolhimento de impostos devidos. Portanto, o caixa lhe deu a informação correta.

Indignado o homem que já estava com a manhã perdida perdeu também a paciência, mas para não ir para casa com peso na consciência simlesmente pegou o envolope com o dinheiro da devolução e lançou-o à mesa do diretor.

- Pois o senhor faça desse dinheiro o que quiser. Quem perde é o Estado, mas ganho eu a minha paz de espírito.

E se foi.

Bem, a história é mais ou menos assim. Lembrei-me dela porque hoje acordei recordando uma parecida que se passou comigo.

Há uns vinte anos, assumi a presidência da então Junta de conciliação e Julgamento de Macau.

Naqueles idos, pelo menos por aqui, nem se falava no tal computador. As audiências e os atos procesiais em geral (inclusive as sentenças) andavam a passo de cágado, pois até então a única grande revolução que houvera na Justsiça fora a descoberta da máquina de datilografia, em sustituição às atas feitas à mão.

Assim, uma sentença, por mais parecida que fosse com a outra, tinha que ser totalmente datilografada, já que não havia os modernos recursos de adicionar trechos já computadorizados.

Nosso Tribunal ainda estava em vais de instalação e muito havia a se fazer e em que gastar.

Assim, adquiri eu mesmo um computador e introduzi-o na Junta. Um sucesso. A produção deu um salto.

Àquela altura estávamos criando no Tribunal uma diretoria de informática, uma grande novidade da época. Mas tudo incipiente e nossos computadores não passavam de dois ou très espalhados pela administração central. a implantação de novos computadores só começaria a ocorrer no próximo ano.

Bem, meu computador deu um problema e trouxe-o para Natal, para que a diretoria de informática desse um jeito.

Quinze dias depois recebi a notícia de que náo havia verba para consertar meu compujtjador. e como o comprutador era meu, o problema era meu. A pouca verba que havia destinava-se ao conserto de computadores de prorpriedade do governo. A não ser que eu fizesse uma doação do objeto para a repartição.

- Sem problema, disse eu. Só uso o computador mesmo apra o trabalho, na Junta. Vocês podem preparar o termo de doação, contanto que me mandem o bicho consertado, pois as sentenças estão começando a ficar atrasadas, pois tivermos que voltar à datilografia.

- Tudo bem, assim que o termo estiver preparado o senhor assina e em seguida providenciamos o conserto.

Cerca de um mês depois perdi a paciencia e telefonei.

- Amigo, o computador está pronto? Já faz um mês e nem o termo de doação vocês prepararam para eu assinar.

- Ah, doutor, tem uma novidade. O termo de doação não pode ser feito, pois seu computador é de segunda mão e a repartição não aceita esse tipo de doação.

Como na crônica de Rubem, deixei o computador por lá mesmo, enferrujando, e tive que esperar mais de um ano para que a Junta de Macau voltasse a funcionar com um computador. Que não o meu.

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