ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
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domingo, 9 de maio de 2010

Malandros chapa branca

Malandros chapa branca


O texto da psicanalista Maria Rita Kehl, publicado na revista Época em 5 de junho de 2003 destaca as práticas da elite que corrompem e educam para o crime parte das novas gerações, “de maneira mais profunda e mais eficiente” do que a convivência dos jovens com a criminalidade dos marginais e dos miseráveis.

O que chamou atenção da autora para o desenvolvimento do seu trabalho foi um fato ocorrido dias antes no Jockey Club de Curitiba, em que três rapazes morreram pisoteados graças a um tumulto ocorrido num show de rock naquele local, tendo o responsável pela tragédia, após acusado de negligência, haver simplesmente desaparecido.

Maria Rita acrescenta outros exemplos para alicerçar os seus argumentos, sob comento, destacando inúmeros (maus) exemplos de pais que segundo o entendimento dela pertencem a uma elite.

O trabalho desperta o interesse de todos que se preocupam com o descaminho dos jovens, mas apesar da boa intenção da autora, entendo que o assunto por ela abordado é mais complexo e merece maiores reflexões.

Em primeiro lugar, não sei o que significa para a escritora o termo elite. A palavra, de origem francesa, sugere num sentido amplo grupos de pessoas de maior valor, de maior capacidade econômica e social. Claro que tem também o significado que ela pretendeu conferir, isto é, o sentido de poder, de influência social, de alto poder aquisitivo ou mesmo de competência em determinada área. Contudo esse poder simbólico, pelo que ela dá a entender, são atributos destituídos de ética, daí servirem à corrupção das novas gerações.

É nesse ponto, apenas, que ouso discordar da análise oferecida pela doutora Kehl. Ninguém que detenha poder, competência ou influência social deverá contribuir para a má formação dos jovens, a não ser que não possuam ética no seu comportamento, e nesse sentido, não acho que deva ser considerado elite nenhum grupo anti-ético. Ele possui poder, influência e competência, mas elementos e valores a serviço do mal, para dar maus exemplos e, nesse sentido, considero malandros de chapas tão pretas quanto qualquer malandro mal nascido nas favelas.

Portanto, devemos valorizar nossas verdadeiras elites, no sentido de valores que dizem respeito aos direitos humanos e darmos o devido desprezo aos malandros chamados chapas brancas, por motivos óbvios. E o pior é que no caso deles, a escola pode fazer muito pouco em nome dos seus filhos, pois como se diz no popular, a boa educação começa em casa.

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