ESCRITOS DE JOAQUIM SÍLVIO CALDAS

Escritor, cronista e apaixonado por Natal
RN

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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A rã e a panela

O premiado escritor suíço Olivier Clerc criou uma parábola sob o título acima. Resumindo a história, uma rã estando a se banhar numa panela fria, colocou-se fogo brando sob a mesma, e a panela foi esquentando muito lentamente. A princípio a rã foi achando muito agradável aquela lenta mudança de temperatura, mas a coisa chegou a um ponto que ela não mais resistiu à alta temperatura e findou morrendo cozida.

Acho que essa historinha se encaixa perfeitamente ao nosso país. Não por causa de um determinado partido ou comportamento político, mas por uma série de fatores em que os políticos também têm culpa dentro do processo, mas com efeito, e a bem da verdade, todos nós temos.

Em primeiro lugar, começou a ocorrer relaxamento dos nossos ancestrais costumes. Pequenos detalhes, aparentemente insignificantes. Por exemplo, a família “moderna” não mais participa das principais refeições conjuntamente. Assim, não existem mais aquelas conversas sobre o que se vai fazer ou o que se fez ao final do dia. Não existe mais o respei8to por aquele(a) que é o provedor(a) da família! O próprio hábito de pedir a bênção aos pais de há muito está relegado a um segundo plano, pelos mais variados motivos. Conversas de calçada com a família e com os vizinhos foram substituídas pelas novelas e pelos noticiários da televisão. Esta, por sua vez, em nome de uma falsa liberdade de imprensa e em favor de um lucro nocivo passou a cretinizar nossos gostos e sentidos.

Até a forma de ajudar os mais pobres e miseráveis revestiu-se de uma disfarçada compra de votos, sob o manto de programas tipo bolsas família, sem paralelamente contribuir para a qualificação de pelo menos um membro da família, no sentido de tornarem-se protagonistas de suas histórias.. Eis a vitória do pragmatismo, da famosa lei de Gerson, do “gosto de levar vantagem em tudo”. O ter, no lugar do ser. Em nome da palavra democracia a demagogia impera cada vez mais. A própria legislação, ao mesmo tempo em que um grupo de pessoas pretende modernizar, vem colaborando para a frouxidão de certos costumes e valores necessários ao processo evolutivo das pessoas e familiares na perspectiva do “ser”. Assim, ao invés de correções de rumo o que temos assistido são bruscas mudanças de rota de comportamento, sem que a sociedade verdadeiramente participe de algumas mudanças que realmente são necessárias, tais como proibição de trabalho infantil, assédio moral, dentre outras. Enfim, mudanças mecânicas, como se fôssemos meros robôs, sem ter clareza do projeto de nação que desejamos. O próprio computador, contraditoriamente, em vez de estimular nossa criatividade está servindo bem mais para nos deseducar e difundir o que o homem mais tem de pernicioso. Verdadeira babel que, lembrando Chacrinha, serve bem mais para confundir do que para explicar.

Enfim, a panela está esquentando cada vez mais. Não sei se dará tempo de a rã se aperceber de que está sendo cozinhada no que pensa ser uma agradável mudança de temperatura.

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